- Papai? - meus olhos marejavam e o gosto ruim permanecia em minha garganta. Eu tinha vomitado mais duas vezes enquanto estava no carro com minha mãe - Como isso aconteceu?
Ele estava com um corte enorme em seu braço esquerdo e seu rosto tinha alguns arranhões. E mesmo estando muito mal ele sorriu, o sorriso que sempre me fornecia calma e alegria, mas agora ele apenas me preocupava.
- Eu estava comprando um conjunto de... - ele se forçava a lembrar, mas não conseguia - Era um conjunto de...
- De facas, querido - mamãe passou os braços em volta de mim e senti o peso de seu cansaço - Você disse que o nosso conjunto de talheres estava gasto e que as facas mal cortavam, então disse que antes de trabalhar iria comprar um novo conjunto... - mesmo não demonstrando eu senti como minha mãe estava segurando o choro - Você se lembra do que aconteceu?
- Bom... Eu estava segurando uma das facas quando alguém esbarrou em mim...
- Não, Charles - o desespero de minha mãe era eminente - Ninguém esbarrou em você, o atendente estava tentando lhe ajudar quando você perdeu o controle e esbarrou em uma prateleira de pratos de porcelana, ela caiu em cima de você, querido - seu abraço já estava mais forte.
Meu pai não sabia o que dizer, então ficamos ali parados, apenas nos olhando. O que estava acontecendo? O medo invadia todo o meu corpo e a única vontade que eu sentia era de encolher para conseguir me esconder melhor.
- Gostaria de falar com as duas em particular - o doutor que tinha socorrido meu pai apareceu com alguns exames em mãos. Ele nos levou para fora do quarto e sua feição cansada pareceu - Infelizmente as notícias não são nada boas, Eva... Não precisam se preocupar com os cortes, ele vai melhorar em alguns dias... Mas eu me preocuparia com essas falhas de memória, você sabe quando ele começou a esquecer das coisas?
- Faz algumas semanas, ele esquecia onde colocava as chaves do carro e os óculos, estavam sempre nos mesmos lugares, mas ele não conseguia lembrar... Achei que poderia ser alguma brincadeira, mas depois de hoje... Tenho um palpite do que possa ser, mas me recuso a acreditar até que os exames sejam feitos!
- Ontem ele esqueceu que deveria vir ao hospital para trabalhar - minha voz falha - Alguém pode me dizer o que está acontecendo com o papai?
- Oh Angelina, não podemos ter certeza sem fazer os exames... - o doutor tinha o mesmo olhar que a coordenadora.
- O. Que. Está. Acontecendo? - repito pausadamente, demoram segundos até minha mãe olhar em meus olhos e murmurar.
- Seu pai pode ter Alzheimer.
***
Soco as paredes do box um trilhão de vezes, mas não parecia ser suficiente. A dor era muito maior comparada a de ter visto Craig e Sophia. Meu pai, Charles Martin, um dos melhores neurocirurgiões do mundo estava fazendo exames para descobrir se tinha Alzheimer ou não.
Meus olhos não paravam de despejar jorros e jorros de lágrimas, pareciam enormes cachoeiras. Peguei meu celular e não me importei se o chuveiro estava ligado, disquei o número que gravei desde que tinha oito anos.
- Oi - a voz de Col saiu tão seca como os verões da Flórida.
- Col? - solucei e comecei a chorar mais.
- Ang... O que aconteceu? - a preocupação já era evidente em sua voz.
- Sei que está com raiva de mim, sei que sou idiota por me importar tanto com a opinião de um menino e também sei que isso só me faz sofrer... Tudo o que você me disse era verdade, Col e você sabe que eu sou orgulhosa e não ligaria se realmente não precisasse de você - sugo mais um pouco de ar para continuar minha fala - Me desculpa por ser tão egoísta e por fazer com que você se arriscasse por mim, não é nem um pouco justo com você... Pra falar a verdade eu sou uma péssima melhor amiga, eu estava me importando tanto com os meus problemas que não dei ouvidos aos seus, mas eu só precisava saber que ainda tinha você, que ainda tinha o meu melhor amigo, que ainda tinha a minha rocha para me segurar em todos os momentos difíceis...

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Angel & Collin
Romance"Amar é muito mais do que uma simples conta de trigonometria."