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- ONDE VOCÊ ESTAVA COM A CABEÇA, ANGELINA MARTIN? - minha mãe berrava aos prantos - EU JÁ CONVERSEI COM O PSICÓLOGO DO HOSPITAL E VOCÊ VAI COMEÇAR AS CONSULTAS AMANHÃ! - ela se sentou ao sofá e me encarava com dificuldade - Como você pode pensar em fazer algo assim? Como você pode, Angelina? - suas mãos tremem ao jogarem seu cabelo para trás, meu coração fica mais despedaçado a cada lágrima que corre em seu rosto.

- Mamãe... - soluço e abraço minha cintura, meus olhos estão avermelhados, mas seguro todas as lágrimas. Um nó se forma em minha garganta - Eu não preciso ir ao psicólogo...

- Não, Angelina! - ela se levanta mais uma vez - Você precisa e mais nenhuma palavra... Eu quero o seu iPhone e seu MacBook - olho-a desacreditada - AGORA!

Fecho a cara e corro para o meu quarto, pego o Mac e coloco-o em cima da cama dos meus pais junto do meu celular. Volto para o meu quarto, fecho a porta com toda a força que consigo exigir de mim mesma e, então, me jogo na cama com os travesseiros abafando o som de meus gritos.

Collin e sua maldita boca grande! Ele tinha que falar tudo com a minha mãe! Argh! Eu vou soca-lo tanto quando o ver no colégio. Tudo bem que eu possa ter exagerado em tentar tirar minha própria vida, mas ela está exagerando! Ou não...

Ao lembrar de todos os meus movimentos na barra de ferro todo o meu corpo se arrepia, fecho os olhos; Como fui tão estúpida a ponto de quase me matar? De uma coisa eu tenho certeza, nenhuma gota de álcool encosta em meus lábios ou desce pela minha garganta. Nunca mais.

Fecho meus olhos por um segundo e quando percebo, adormeço pelo cansaço.

***

Acordo com o barulho da tempestade batendo em minha janela. Que horas são? Estalo meu pescoço enquanto me levanto devagar. Abro a porta do quarto de meus pais e não vejo ninguém por perto, então desço as escadas ao ouvir o ronco de minha barriga. Mamãe está na cozinha com uma calça jeans e uma blusa de mangas compridas, seu cabelo está preso e seu rosto aparenta uma noite mal dormida.

Observo um prato com duas torradas e um copo de suco em cima da bancada. Pego uma delas e passo margarina, dou uma pequena mordida e saboreio.

- Vamos sair daqui quinze minutos, temos que ir ao hospital - sua fala sai amargar que me faz perder até o apetite.

- Vamos ver o papai?

- Eu vou, você irá na primeira consulta com o psicólogo - seu olhar é frio e me congela por dentro - Tenho que contar ao seu pai o que você tentou fazer.

- Eu já pedi perdão...

- E ACHA QUE É SUFICIENTE, ANGELINA? - seu grito foi agressivo - Apenas termine de comer e vá se trocar - seus olhos mudam de direção, fogem de mim.

Concordo deixando basicamente tudo como estava e subo as escadas para me trocar. Primeiro escovo meus dentes, depois penteio o meu cabelo e por ultimo visto uma calça jeans e um moletom qualquer, calço meu tênis e desço mais uma vez até a cozinha.

Sem olhar para mim, ela pega sua bolsa e as chaves do carro. Caminhamos juntas até o carro e o restante do caminho foi silencioso, parecíamos duas desconhecidas. Isso quebrava o meu coração.

***

- Posso ver o papai? - um sussurro sai de meus lábios enquanto esperávamos o elevador chegar no andar da psicologia.

- Por enquanto não, vai prejudica-lo - ela continuar a encarar a porta. Ao se abrir andamos juntas até a segunda porta ao lado esquerdo, uma placa prateada estava presa no meio dela, consegui ler o nome; Dr. Arnold Baker. Quem no mundo inteiro se chama Arnold? Reviro os olhos - Irei busca-la daqui uma hora - e vira de costas com passos apressados.

Abro a porta e noto um homem, ele já está em uma estágio bem avançado da vida. Tem cabelos brancos e em seu rosto vejo várias rugas. O que dava destaque eram seus olhos, sua cor era indecifrável, mas era maravilhosa. A pequena sala tinha um papel de parede bege e seu piso era de madeira escura. Os móveis eram da mesma tonalidade e havia um tapete felpudo em baixo de um divã. Algumas prateleiras repletas de livros e pelúcias. Ao canto existia uma caixa de som que tocava uma melodia clássica bem baixinho e ele anotava algo em sua prancheta.

- Pode entrar - ele diz sem ao menos erguer seus olhos. Faço o que ele pede e sento-me no divã olhando atentamente o modo como ele se concentra em escrever - Sou o Arnold e você deve ser Angelina, certo? Filha da Eva e do Charles? A propósito... Sinto muito pelo seu pai.

- Sim. Sim. Tudo bem - falo com apreensão.

- Você não precisa se sentir assim, sabe? - ele finalmente me dirige o olhar - Tive uma conversa com sua mãe por telefone e ela não estava... Humm, feliz?

- Pode ser que sim, ela está nervosa - mordo meus lábios ao olhar para meus tênis - Isso tudo com o meu pai a deixa estressada, afeta seu comportamento e modo de pensar...

- Mas também afeta você, não é? - concordo lentamente e me silencio - Como você é no colégio, Angelina?

- Bem, estou na lista de honra do diretor - mordo a ponta do meu dedão.

- E você tem muitos amigos?

- Não muitos, apenas o Collin e a Any.

- Algum namorado? Ou esse Collin seria... - ele levanta a sobrancelha.

- Não, não... Collin é como um irmão para mim, nos conhecemos desde o dia em que nascemos praticamente. Não estou namorando, não mais.

- Faz bastante tempo que vocês terminaram? Seria muito lhe perguntar o por quê?

- Quase cinco semanas, e... - suspiro - Peguei ele com outra garota.

- Imagino que você tenha se sentindo muito mal, não é? Algo que você não consegue explicar...

- Exatamente! Parecia impossível parar de pensar nele com ela, eu estava me afogando em mim mesma e doía, muito. Quero dizer, eu sou inteligente o suficiente para saber que é impossível um coração quebrar, mas o meu estava despedaçado e eu só queria me livrar de tudo aquilo... Amar alguém é doloroso demais, as pessoas são cruéis e não se importam verdadeiramente em saber como você se sente, elas só querem saber de si mesmos - percebo estar com as lágrimas descendo por minhas bochechas - Desculpa, não queria chorar... Mas isso é frustrante.

- Não se preocupe, pode chorar... Estamos aqui para conversarmos, tudo bem? - seus olhos me transmitiam calma - Logo depois você descobriu sobre o seu pai, estou certo?

- Está - concordo com a cabeça - E foi muito mais doloroso do que ter um coração partido. Sabe, ele é o meu pai! Uma das únicas pessoas que eu amo e sempre amarei, ele estaria aqui comigo... Quando o médico disse que ele podia ter... Alzheimer - um gosto amargo aparece em minha boca ao pronunciar aquela palavra e tenho que molhar os lábios algumas vezes - Eu me perdi, do que adiantaria tudo o que vivemos ou conversamos algum dia se ele não fosse se livrar, quero dizer... Qual é a razão em viver em volta de dor? De escuridão? Eu estava em casa sozinha e vi as nossas fotos penduradas na parede e do que adiantaria tudo aquilo? Ele não vai se lembrar... Ele vai esquecer até de mim! Eu sou a filha dele, como ele poderia esquecer de mim? - choro mais um pouco com a cabeça abaixada - Por que Deus faria algo tão horrível assim?

- Existe uma frase... E ela é bastante popular: "Nossos problemas são do peso que conseguimos aguentar, se você tem muitos, Deus, te deu força suficiente para carrega-los." Cada ser humano no mundo inteiro tem problemas, alguns mais sérios que outros, mas as vezes os menores problemas afetam muito as pessoas e os grandes nem tanto, depende do que cada um é por dentro - uma pausa, uma longa e demorada pausa até seus lábios se abrirem mais uma vez - Eu acredito que você seja uma pessoa forte, Angelina. Você tem capacidade de superar tudo isso, mas não sozinha e você percebeu que se fecha? Você disse que tem um amigo desde pequena, mas ele sabia tudo o que se passava em sua mente? Quero dizer, você tem medo de incomodar as pessoas, mas isso acaba prejudicando a você - ele cruza as pernas - Você sofre com antecedência, talvez o estágio de seu pai não esteja tão grave e você vai poder ajuda-lo. Seu mal, querida, é ser ingênua demais. As pessoas são más, são cruéis... Elas vão se sentir bem em fazer outras pessoas sofrerem, todos tem um lado mal dentro de si, mas nem todos escolhem-o. Você já escolheu qual seguir? O lado bom ou o mal?

Angel & CollinOnde histórias criam vida. Descubra agora