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Visto meu moletom verde pastel e desço as escadas, Collin tinha ido até a padaria, o problema é que a mais próxima era a uns quarenta minutos daqui.

Encarei a parede de fotografias, todas as fotos eram algum momento importante que tinha acontecido em nossa família. A primeira era papai e mamãe no dia de seu casamento, mamãe estava com um belo vestido branco e seus cabelos loiros emolduravam seu rosto, papai estava com um termo simples e tinha sua feição tranquila e feliz, eles estavam se olhando enquanto saiam da igreja com todos jogando arroz em cima deles. A segunda foto era meu pai beijando a barriga, que por sinal estava enorme, de minha mãe. Na terceira mamãe me segurava em seu colo com um sorriso bobo, eu acabará de nascer e estava com os olhinhos fechados, mas já segurava com força o dedo dela. Na quarta foto eu estava aprendendo a andar de bicicleta com um sorriso enorme em meu rosto, meu pai aparecia no fundo orgulhoso de mim. Ao chegar na quinta meu coração bateu mais devagar, era uma foto minha no meu aniversário, eu estava no colégio e meu pai aparecerá em minha classe segurando um buquê de rosas vermelhas, na foto ele estava ajoelhado para me entregar o buque.

Lembro-me desse dia como se tivesse acontecido semana passada. Ele tinha entrado com um buque e se ajoelhado, mas depois vários meninos do colégio, incluindo Craig e Collin, entraram com buques de rosas brancas até que a sala se encheu de flores. Lembro de ler em voz alta o pequeno cartão que se encontrava em meio as rosas vermelhas: "Serei seu eterno namorado!" E os cartões dos buques dos meninos eram todos com a mesma frase: "Diria o mesmo, mas tenho medo do seu pai." Todas as meninas morreram de rir e os meninos ficaram nervosos.

Afasto-me das fotografias e sento no primeiro degrau da escada com os joelhos encolhidos. Do que adianta ter momentos assim quando meu pai não se lembrará de nada disso? Eu não vejo motivos, não mesmo... Recomeço a prender o choro, o nó se forma em minha garganta e tudo o que eu quero é acabar com esse sofrimento. Vou até a cozinha e abro a dispensa de bebidas, pego a garrafa de algo forte que não sei o nome ao certo e encho até a boca de um copo. Sempre me disseram que a melhor maneira de afogar as mágoas era com uma boa bebida, vamos testar essa teoria.

Viro o copo de vez e, por mais que seja a segunda vez que tomo uma bebida forte assim, faço uma careta. O liquido transparente desce rasgando/queimando minha garganta e meu estômago. Não vejo efeito, então, encho mais um copo até a boca e bebo de uma vez. A sensação de queimação é inevitável, mas já sinto tudo ficando mais vibrante, fecho a garrafa e coloco-a de novo em seu lugar.

Tropeço ao chegar na sala e dou uma risada de minha própria personalidade desajeitada. Olho pela janela e vejo que começara a chover, as gotas corriam pela minha janela e toda aquela sensação alegrinha acabou, era tudo mais... Deprimente. Odeio me sentir assim e odeio ver o que minha vida se tornou, um desastre. Uma repleta escuridão.

Meus olhos já estavam cheios de lágrimas, por que dói tanto assim? Eu só quero que tudo isso acabe, só tem que acabar de algum jeito. Calço meus chinelos e saio de casa, sem trancar e mal fechando a porta direito. Saio correndo em disparada, corro até que meus pulmões ardam e implorem por um pouco de oxigênio, corro deixando que a chuva ensope meu short jeans e meu moletom, corro com o cabelo voando para trás e as lágrimas fugiam de meus olhos, apenas corro. Por um segundo acredito ter ouvido alguém gritar meu nome, mas não dou importância e continuo a correr enquanto tropeço em meio aos meus pés. O caminho em minha frente por mais claro que esteja, é borrado, fica difícil enxergar para onde estou indo, mas sei dentro de mim o caminho e pelos meus cálculos embolados eu deveria estar chegando perto.

***

Visualizo o borrão de carros indo e vindo na ponte, a maioria são dirigidos por empresários ou contem famílias em viagens. Fecho os olhos e caminho até a beirada que deixaram para pessoas circularem, quando apenas sobram alguns carros passo por um dos espaços e escalo a pilastra de ferro. Muitas vezes uma de minhas mãos escorregava, mas eu já me apoiava de novo e voltava a subir mais e mais alto. Eu olhava para cima e tudo se embaralhava, droga de bebida alcoólica. Suspiro sentindo todo o peso do mundo em minhas pernas e faze-las subir era uma tarefa cansativa. Por fim, chego até as barras não tão grossas de ferro e engatinho sobre elas até localizar o meio, lá embaixo vários carros passavam e faziam com que eu me segurasse mais firmemente na lateral da barra.

Angel & CollinOnde histórias criam vida. Descubra agora