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Observei atentamente a bola de basquete quicando pelos vários lados existentes na quadra. Estava sentada na arquibancada e encarava atentamente o local onde Craig ficou com Sophia algumas semanas atrás.

A cada minuto que se passava sentia meu mundo se desfazer, tudo ficava sem cor. Desabei meu rosto em minhas mãos e controlei minha enorme vontade de gritar. Como eu odeio ter que vê-lo.

Collin assobiou fazendo com que eu olhasse para cima e começasse a prestar atenção mais uma vez no jogo. Finalmente ele tinha conseguido por a mão na bola e ele estava prestes a arremessar quando algo o atingiu, só o vi gemendo de dor ao chão.

Dei um pulo de onde estava sentada e corri para socorre-lo. O treinador e alguns meninos do time estavam o cercando, então liberei caminho para que eu pudesse chegar ao seu lado.

- Col! - minha voz saiu com uma rouquidão desconhecida e trêmula - Você se machucou? Quem o derrubou? - levantei-me e encarei a todos os rostos que estavam nos observando com ódio, eu estava dominada pela raiva - Quem. Fez. Isso? - disse pausadamente enfurecida.

- Eu - ao ouvir o timbre de sua voz minhas pernas ficaram bambas e todos os outros rapazes deram espaço para que ele passasse. Craig me encarou com tamanha ferocidade que sentia o ritmo de meu coração aumentar, o clima do ginásio já tinha virado puro incomodo, mas mesmo assim um nó se formou em minha garganta e eu não sabia mais o que dizer - E então Ang, algum problema?

- S-sim... - gaguejei e no mesmo instante me repreendi. Expirei todo o ar que meus pulmões eram capaz de aguentar - Sim, Craig, nós temos um problema - falei com uma confiança que deveria ter surgido do nada - Você pode fazer o que você quiser com todos desse ginásio, Craig - fui aproximando-me dele até ficarmos cara-a-cara, com apenas alguns centímetros separando nossos rostos - Você pode brincar com todos nós, pode brincar com o seu time e treinador, com sua família e seus amigos, pode brincar comigo e com as outras milhares de garotas desse colégio, pode até brincar com os sentimentos das pessoas, mas você não pode, Craig, brincar com o meu melhor amigo - olhar em seus lindos olhos azuis, que me traziam a paz das ondas do mar, me deixavam sem saber o que fazer logo em seguida.

- UOU! De onde surgiu tanta voz nesse corpinho tão pequeno, em Ang? - ele deu sua risada sem graça e um sorriso malicioso - Não sabia que tudo isso estava guardado dentro de você - fechei meus olhos ao sentir o toque de sua mão em minha mandíbula. Seu cheiro amadeirado se infestou em minhas narinas e cobriu todo o espaço ao meu redor, seus lábios se aproximaram de meu ouvido e seu sussurro rouco fez com que todo meu corpo estremecesse - Adoraria ter alguma chance de conhecer esse seu lado obscuro - e logo após seus lábios desceram beijando meu pescoço discretamente.

Eu não conseguia mexer um músculo se quer, meus braços e pernas pareciam estar imobilizados. Eu segurava as lágrimas e minha garganta queimava como se eu tivesse bebido fogo. Os braços do Craig entrelaçaram minha cintura, mas seu toque já não era confortante como todos foram, esses doíam, machucavam todas as partes que existiam em mim.

Um momento depois e eu já não sentia aquela dor, ela tinha ido para longe e apenas minutos depois eu percebi que alguém tinha o afastado de mim. Abri os olhos e Collin estava em cima de Craig, os dois estavam envolvidos em uma luta mão-a-mão. O soco do Col atingiu em cheio o olho esquerdo de Craig que tentava se levantar.

- Nunca mais toque um dedo nela - Collin rosnou enquanto acertava o nariz de Craig dessa vez.

- COLLIN! PARA! - meu coração já se apertava, eu ainda o amava, não poderia deixar o meu melhor amigo mata-lo.

Os rapazes do time correram até eles e precisaram de quatro garotos para separar os dois. Collin tinha recebido um soco em seus lábios no mesmo local de ontem, o sangue pingava em sua camiseta cinza.

Corri até ele e segurei seu rosto pálido entre minhas mãos, suas bochechas estavam avermelhadas devido a raiva que fez seu sangue subir. Seus olhos negros estavam tão desorientados a procura dos meus, assim que os encontrou, ele sorriu.

- Collin, apenas pare de se meter em brigas por mim - sussurrei enquanto implorava com meu olhar.

- Eu não podia deixa-lo mexer com você desse jeito, Angel - ele murmurou - Ele brincou com seus sentimentos na frente de todos.

- Eu não me importo, e para dizer a verdade... Só me importo em levar você até a enfermaria nesse momento - sorri timidamente.

- Vamos lá, baixinha - ele fez uma força e deu um passo para frente antes de tropeçar e quase cair de cara no chão.

- Calma ai, senhor desastre - dei uma risada alta e continuei a ajuda-lo. Seu braço passou por meu ombro e toda a força que eu tinha dentro de mim foi depositada ali.

Saímos acompanhados pelo técnico do time e fomos direto em direção a enfermaria mais próxima.

O técnico olhava feio para Collin como se ele tivesse começado tudo aquilo, mas ele era um babaca que só sabia defender seus meninos de ouro, argh!

Já estava totalmente enrolada a Collin, como se ele fosse uma coberta naquele tempo frio, e eu era a coberta dele.

***

- Deu sorte por ser apenas um machucado na boca, Sr. Stevens - a enfermeira, Sra. Diggans, olhou piedosamente para o Col. Suas feições eram de cansaço e ela havia engordado mais alguns quilos ao decorrer da semana passada.

- O que você estava pensando na hora que bateu no meu melhor jogador? - o técnico disse com frieza na voz.

- Se o senhor não percebeu, quem começou a confusão foi o seu menino de ouro! Não culpe o Collin por algo que ele não tenha feito! - disse estressada de ter que ficar no mesmo ambiente que aquele homem insuportável.

Ele bufou e mesmo a metros de distância senti o cheiro de álcool. Ele estava bêbado! Isso explica o por que dele não ter feito nada desde o começo. O sangue me subiu pela cabeça e serrei os punhos, idiota.

- Tenho que verificar como Craig está, mas provavelmente ele não irá conseguir jogar amanhã! - o treinador saiu batendo a porta nos deixando apenas com o barulho estridente.

- Ele é insuportável - Col disse com dificuldade e arfou de dor minutos depois.

- Nada de falar enquanto eu cuido desse machucado, mocinho! - a Sra. Diggans deu um sorriso amigável - Você aceitaria algo para beber, Angelina? Tenho chocolate quente se quiser.

- Eu adoraria - levantei os cantos de meus lábios quase como um sorriso e coloquei minhas mãos uma sobre a outra - Como você está essa semana, Sra. Diggans?

- Vivendo um dia de cada vez, querida - ela me entregou uma caneca verde musgo e continuou limpando a boca do Collin que nos observava atentamente - E como anda o seu coração essa semana, Angelina?

- Ah, Sra. Diggans, perdeu como a Ang foi corajosa no ginásio! - Collin deu uma risada e logo em frente um gemido de dor - Ela enfrentou o Craig por minha causa.

- Cala a boca, Col. E não foi tudo isso, eu ainda não consegui entender de onde tirei uma coragem enorme dessas para dizer tudo aquilo - dei uma risada sem graça - Mas ele continua sendo o meu ponto mais fraco...

- Ao mesmo tempo que me orgulho, Angelina, também sinto certo desconforto... Sei como deve ter sido difícil enfrenta-lo.

Nenhuma palavra saiu de meus lábios, ficaram emperradas em minha garganta e agora eu já estava em outro mundo. Por mais caloroso que a enfermaria fosse, ela ainda me dava um ar de ambiente frio, sem cor, como tudo ultimamente.

O chocolate quente não estava mais tão quente e aquela conversa amigável já não me transmitia conforto. Eu só queria sair dali, tomar um ar fresco ou talvez me trancar em meu quarto e nunca mais sair de lá.

- Preciso ir - murmurei e andei encarando meus pés.

Bati a porta e corri de volta ao vestiário. Ele já estava vazio, as meninas estavam jogando, eu nunca fui de fazer esportes mesmo. Peguei o meu celular e disquei o número de meu pai. Depois do segundo toque ele atendeu e sua voz rouca se encontrava preocupada.

- Angelina? Aconteceu alguma coisa?

- O senhor pode me buscar agora, papai? - disse tristemente - Preciso de você.

Angel & CollinOnde histórias criam vida. Descubra agora