Montanha Russa ✓

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Eu havia acabado de retornar de uma viagem muito prazerosa. Minhas primeiras férias de verdade. Só eu e as praias maravilhosas do Tahiti. Quinze longos dias relaxando e gastando, vivendo da melhor forma possível. Sem clientes para atender, sexo só por prazer e deliciosas massagens pela tarde ao acordar. Comidas exóticas e bebida de qualidade. Muitas beldades comendo na minha mão. Nem preciso dizer que voltei de lá quase falido. Felizmente não chegara nem perto da minha reserva de emergência, mas caramba, eu bem que podia ter economizado um pouco.

Nah.

Eu mereci cada um daqueles momentos, desde os dezesseis que não relaxava assim. Mas agora era hora de voltar à ativa, recuperar o tempo - e o dinheiro -perdido e colocar meu corpinho bronzeado de volta à ação. Usei o primeiro dia para dar uma olhada nos pedidos de atendimento recebidos. Os clientes habituais já estavam avisados das minhas férias e agora receberiam um lembrete amigo de que eu estava de volta para a vida e contas bancárias deles. E ainda havia os clientes em potencial que precisavam ser avaliados e categorizados para que eu soubesse por onde começar.

Com o tempo e a experiência eu passei a desenvolver um esquema de atendimento que funcionou muito bem pra mim, me poupando dor de cabeça e otimizando meu trabalho. (meus pais poderiam ter orgulho do cara empreendedor que me tornara)

O primeiro passo: trabalhar com indicações.

Cada cliente que me indica alguém recebe um agrado especial no próximo atendimento. Cada novo cliente indicado tem mais chance de ser um dos primeiros a ser atendido e não passa por uma avaliação inicial tão completa que nem os demais. Mas a cada cliente indicado que acabasse quebrando alguma das minhas regras (não pagamento, desrespeito, tentativa de violência, falta de higiene) acabava por afetar o atendimento para quem indicou. Isso me levou a algumas das melhores aquisições para minha agenda de clientes fixos.

Para as pessoas que chegam até mim por outras vias eu sempre as coloco em uma avaliação inicial. Peço algumas informações básicas que vão desde idade, de onde vem, até suas preferências e limites na cama. Sempre peço junto pelo menos umas três fotos, para que eu possa avaliar o material. Se eu não gostar de alguma das respostas, se eu desconfiar da veracidade de alguns dados – o que, obviamente acontece muito -, ou mesmo se não achar nada que me desperte interesse naquele cliente, seja pela postura, seja pela imagem, ou se o "santo não bate" eu simplesmente não atendo. Estou numa posição que me permite isso. Sou profissional, um dos bons, mas também sou exigente e meus clientes adoram se sentir exclusivos, mesmo que um pouco. Dessa forma todo mundo sai ganhando.

A maioria dos meus clientes conhecem muito bem esse meu modo exigente e dominador e adoram isso, especialmente na cama. Até esperam algo assim de alguém como eu, o que é muito bom. Muitos chegam até mim inseguros e perdidos e eu os ajudo a se encontrar, mesmo que apenas sexualmente falando. Não estou querendo fazer do meu trabalho mais do que é, mas sei que o que acontece na cama influencia e muito a vida das pessoas com quem me encontro e tenho orgulho disso. Raramente sou esquecido quando nossa hora termina.

Por outro lado, eu também fui bastante afetado pelo meu próprio trabalho. Além de ter me descoberto um bissexual assumido e orgulhoso, também fiz da cama o palco para explorar todas as minhas curiosidades e taras sexuais. Meus clientes serviram como cobaias nesse processo e nunca nenhum reclamou. A descoberta mútua é sempre mais prazerosa, embora a maioria nunca vá saber o quanto me ajudou. Na cama eu sou sempre o cara sedutor, centrado e que sabe o que quer. E sempre consigo o que quero.

A minha intenção pós-férias maravilhosas – ah, quantas boas lembranças - era variar o cardápio. Por mais que ter clientes fixos seja bom para a reputação e o bolso, com o tempo eles podem se tornar um problema. Um cliente que fica muito tempo pode começar a ter ideias. Não foram poucos os que acharam que o que tínhamos era mais do que uma relação cliente-acompanhante. Alguns acreditaram que podíamos ir de algo puramente sexual para um romance. Também não faltaram aqueles que quiseram me comprar e confesso que mais de uma vez fiquei tentado com ofertas maravilhosas de exclusividade. Mas, felizmente, meu bom senso sempre falou mais alto. Minha liberdade é uma das poucas coisas que me restou e não abrirei mão dela assim. Por isso, sempre que percebo que alguns clientes estão ficando tempo demais e confundindo as coisas, eu vou tirando-os da minha vida de maneira gradual, mas contínua. Nem todos gostam, mas no final é o melhor para todos.

Cada cliente antigo que sai abre um novo espaço na minha agenda e me faz olhar os clientes em potencial com mais atenção. Aquela tarde passei ocupado avaliando os e-mails recebidos, descartando de cara alguns e separando outros em grupos distintos. Tem os os compromissados, os políticos, os de outra cidade, os que não parecem ter dinheiro, os novinhos, os casais, os mais velhos, os fetichistas, os héteros querendo experimentar, os virgens, etc.

É preciso ser criterioso para efetuar transações de sucesso e eu sinto que sou bom nisso. É um tipo de habilidade que herdei dos meus pais e que nunca imaginei que usaria em situações desse tipo. Mas a vida está aí para nos colocar sempre a prova e surpreender. E eu nem poderia imaginar que naquela tarde especificamente estava executando uma ação que acabaria por mudar a minha vida de maneira substancial.