OBS: Alerta de gatilho.
Nos movimentamos pelo pequeno espaço livre daquele quarto de hotel e aos poucos vou sentindo seu corpo relaxar junto ao meu. Com delicadeza e eficiência retiro seu robe e então o abraço por trás, enquanto nos movemos languidamente. Sinto uma deliciosa excitação ao sentir o roçar de seu traseiro em mim. O homem, que não deve ser muito mais velho do que eu, é até bastante atraente. Não chega a ser bonito, mas tem uma pele macia e um cheiro gostoso de quem saiu a pouco do banho. Agora sou eu quem inspira o seu cheiro, passeando pelo seu pescoço delicado enquanto sinto-o estremecer.
A sensação é boa e sinto-me bem. Estou de novo no controle e a atmosfera até parece ganhar contornos mais leves. Viro-o em minha direção e busco os seus lábios finos. Eles se abrem para mim e provo de seu gosto. Tem um pouco de cigarro e algo mais que não sei definir, mas é agradável. Os lábios estão um pouco secos, mas são quase suculentos. O beijo com uma fome crescente, disposto a lhe dar o melhor beijo de sua vida. E ele responde à altura, até que do nada, interrompe o ato e se afasta num ímpeto como se tivesse acordado abruptamente de algum sonho.
O homem me olha de novo daquela forma esquisita e agora vejo uma fúria profunda tomar conta de seu rosto. Fico confuso. Se ele não queria ser beijado era só dizer. Mas sinto que há algo mais ali e já não sei se quero descobrir o quê exatamente. Ele caminha até o pequeno minibar que fica ao lado da cadeira onde estava sentado quando o encontrei. Ali pega uma garrafa praticamente vazia cujo líquido âmbar ganha uma estranha tonalidade perante a luz ambiente e toma um gole direto da garrafa. Não se vira mais para mim e percebo que está tenso.
Então é minha vez de me irritar. Aquilo tudo parecia sem propósito e sinceramente já estava me cansando. No tempo que estava perdendo ali, eu já teria quase terminado um programa completo, daqueles bem caprichados. No entanto nós dois não havíamos avançado quase nada desde o momento em que eu atravessei aquela porta. E a cada minuto que passava eu sentia que sabia ainda menos sobre ele.
Suspirei de forma frustrada e fiz a pergunta que deveria ter feito desde o começo:
"O que quer de mim?"
Ele me olhou de volta, aquela fúria ainda presente. Limpou os lábios, secando com as mãos algumas gotas do líquido que bebia e me respondeu, com uma voz grave e soturna:
"O que eu quero você não pode me dar"
Me dou conta de que essa é a segunda vez que o escuto falar, e dessa vez percebo uma tristeza em seu tom que não havia notado ao telefone. Era como se as palavras carregassem todo o peso do mundo. Sua resposta, no entanto não passa sem ser notada por mim. Agora estou indignado, ao sentir que talvez ele estivesse duvidando de minhas capacidades profissionais. Sempre fui muito orgulhoso de meu trabalho e nunca havia escutado reclamações antes, pelo menos não referentes às minhas habilidades.
"O que estou fazendo aqui então?"
"O que você acha que está fazendo aqui?"
"O meu trabalho"
Minha resposta parece ter despertado algo nele, e em dois tempos se colocou em minha frente. O homem e toda a sua fúria. Segurou em meu rosto com a mão firme, apertando até o ponto de doer e eu simplesmente não consegui me mover enquanto ele me encarou nos olhos e quase cuspiu que eu o fizesse direito então.
E então com uma força que não imaginara naquele corpo magro e desprovido de músculos, me jogou de bruços na cama e antes que eu conseguisse reagir, ele já havia retirado o restante de minhas roupas e estava em cima de mim, apertando meu corpo contra o colchão.
Tentei me soltar, mas suas mãos eram fortes. Precisei reunir toda a minha força para me libertar e quando o fiz, apenas o encontrei ainda mais furioso do que antes. Respirava forte, quase bufando, mas parecia mais um animal ferido do que um disposto a ferir. Senti a necessidade de consolá-lo, mas jamais me permitiria tentar. Não depois da forma como ele agira comigo. Mantive o olhar firme e deixei bem claro que não seria dessa forma que as coisas aconteceriam.
Tratei logo de deixar as regras bem claras e que ele entendesse que os meus limites eu não ultrapassaria. Ele susteve meu olhar por um tempo, nada disse e então desabou em lágrimas. Tentei me aproximar, mas ele apenas me empurrou e pediu que saísse. Disse que o restante do meu dinheiro estava na gaveta do criado mudo e com a voz falha se desculpou. Parecia quebrado e não havia nada que eu pudesse dizer que fosse capaz de consertá-lo. Ele já estava quebrado muito antes de eu chegar, muito antes de me mandar aquele e-mail. Sabe-se lá há quanto tempo.
Eu me vesti em silêncio, ainda sem saber o que fazer, enquanto ele secava as lágrimas e seguia até a varanda com outro cigarro nas mãos. Ensaiei alguns passos naquela direção, mas ele novamente me mandou sair, agora já bastante recomposto. E então eu saí, deixando a porta encostada e enquanto seguia pelo corredor em direção ao elevador ainda fui capaz ouvir a voz de Carla Bruni. Nem toquei no dinheiro.
Caminhei com pressa pelo saguão do hotel, querendo sair dali o mais rápido possível, mas quando terminei de atravessar a rua não pude deixar de olhar em direção àquela varanda para ver se ele ainda estava ali.
Como me arrependo disso.
Se eu não tivesse olhado, se eu tivesse apenas apressado ainda mais os meus passos talvez não me tornasse eternamente atormentado pela imagem daquele homem estranho e triste subindo na varanda e pulando lá de cima com os braços abertos como se fosse um personagem de filme de herói. Quase espero que ele alcance voo, enquanto observo chocado a cena. Mas sua queda é rápida e sonora.
Ao meu lado escuto os gritos das poucas pessoas que como eu testemunharam aquela cena. Logo um pequeno grupo já estava reunido ao redor do carro sobre o qual ele caíra, e eu só conseguia seguir com os olhos o caminho do sangue que parecia estar em uma corrida para chegar aos meus pés. Não suportei e acabei por vomitar todo o breve jantar daquela noite, bem ali perto numa lixeira que por sorte encontrei a tempo.
Logo depois disso fui embora, ainda aturdido.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Montanha Russa ✓
Cerita Pendek"Nessa vida eu já estive no topo e já quase fui ao chão, mas nunca desisti do passeio. Te convido a embarcar comigo para uma breve voltinha." - aceitamos sugestões de sinopse. OBS.: História completa (heeeee o// ), mas com espaço para vários ajusta...