Capítulo 25

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Um mês depois...

   Tic Tac, Tic Tac. O relógio é minha única companhia. Os ponteiros se movem calmamente. Talvez eu esteja ficando louca, talvez não, ou talvez seja a solidão.

  Acho que já faz um mês que estou neste quarto branco, acompanho os ponteiros e acho que estou certa. Um mês, um fodido mês. Se perdi a esperança? Claro que não! Sei que Ivan virá me buscar. Ele não me deixaria aqui, mas já faz um mês. Talvez ele não venha, talvez preferiu se livrar de mim. Mas afasto esses pensamentos. Ele gosta de mim, sei que gosta.

  Recebo quatro refeições por dia. Mas evito comer qualquer comida que eles trazem. A primeira semana foi fácil não aceitar a comida, mas eu estava ficando fraca, não iria dar para Steve o gostinho de me ver morta.

  Eu estava em algum lugar na Indonésia. Como sei? Steve gritou isso em algum momento quando chegamos.

   Quer saber sobre Steve? Ele vem duas vezes no dia, me pede para assinar os papéis da herança e quando não consegue o que quer ele manda seus homens me espancar. Covarde, eu sei. Mas se ele pensa que com uma simples surra ele irá conseguir a herança de Emily está muito enganado.

   Yane foi muito esperta, fez toda uma tramóia para que Steve jamais pusesse as mãos nos bilhões que tinha. Somente com uma assinatura autêntica minha ele seria capaz de por as mãos na grana. Assinatura falsificada? Não daria certo, existe um selo que somente eu sei onde está e que somente ele pode dar toda a fortuna à quem possuí-lo. Está escondido em um lugar onde ninguém sabe além de mim.

O quarto frio onde estou só possui uma cama dura e um banheiro pequeno. Bem diferente do meu enorme quarto na Rússia, mas pelo menos eu não durmo no chão frio.

  Sinto falta de Emily. Aqueles poucos segundos que tive com ela não foram suficientes. A saudade há cada dia aumenta mais. Sinto falta da minha família, até mesmo do Nikolai.Mas a saudade que sinto de Ivan chega doer, o amor deixa a gente bobo, não é o que dizem?

   A porta do quarto é aberta e já começo a respirar rápido. Toda vez que ela é aberta eu já espero pelo pior.

  Steve sorri quando entra. O sorriso sádico está presente. Enojada eu encaro-o.

- Pensou melhor? Esse jogo já está ficando cansativo.

- Vai se ferrar.

  Ele balança a cabeça e caminha até onde estou. Senta ao meu lado na cama e segura meu queixo. O aperto é forte.

- Assina a porra dos papéis e tudo isso acaba. Esse seu belo rosto não está muito bonito - ele diz e o odor do álcool me atinge.

  Ele pressiona o hematoma na minha têmpora e eu grito. Caralho! Isso doeu.

- Seu desgraçado! Não vou assinar nada.

  Ele levanta e soca a parede.

- Vai por seus homens para me bater de novo? Vamos lá seu covarde! Chame suas putas, ainda tenho muita pele intacta.

Steve me ergue pelos cabelos e me empurra contra a parede. O hálito dele quase me faz vomitar.
- Eu deveria acabar com a sua vida.

- Faça isso seu merda. Mas você nunca terá o dinheiro - eu digo.

- Eu amava ela... no começo foi interesse, mas depois eu comecei a gostar dela.

Ele suspira e apoia a cabeça no meu ombro. Bêbado idiota.

- Ela era perfeita, tímida, tinha um sorriso doce. Porra, ela era tudo de bom.

- Mas você tirou a vida dela - acuso.

- Um maldito erro. Fui ganancioso, fui estúpido. Se eu não tivesse tão fissurado no poder monetário dela talvez tudo fosse diferente.  Eu teria uma mulher que me amava, uma filha, uma família perfeita.

- Mas ela está enterrada em algum lugar e por medo teve que abdicar da própria filha! - empurro ele - Ela fez o certo quando fugiu de um monstro como você!

Ele avança e meu rosto vira com o impacto da mão dele. Um filete de sangue escorre pelo meu nariz.

- É uma pena que você não é minha irmã - ele diz.

- Como assim?

   Afasto-me.

- Assim não ficarei com a consciência pesada depois que eu comer você.

  Steve começa a desabotoar a camiseta e eu engulo seco.

- Esse seu corpinho está muito magro, mas isso não é nada.

- Não tente se aproximar!

  Ele gargalha e então o sorriso morre em seus lábios. Seu olhar se torna louco.

  Grito quando ele me puxa pelo cabelo e me joga na cama.  Seu corpo cobre o meu e eu mordo-o no braço.  Sinto o gosto de sangue e ele grita. Meu coração bate mais rápido. Steve soca meu rosto e eu tento empurrá-lo.

   Maldita hora em que não comi todas as refeições. Sinto-me fraca, mas não deixarei ele me tocar. Jamais!

- Sai!

  Mordo seu pescoço com toda a  força que tenho. Ele geme alto e sai de cima de mim. Chego para trás e cuspo o sangue dele. 

  Steve segura o lado do pescoço.

- Vai pagar caro por isso sua vadia!

Batidas altas e fortes na porta me assustam. Steve bufa.

- O que quer? - ele grita.

  Quem bateu do lado de fora diz algo em um idioma que não conheço. Noto Steve ficar pálido e murmurar algo.

  Sem mais uma palavra ele sai do quarto e bate a porta.

  Limpo a boca e me levanto.  Minha cabeça girava enquanto caminho até a porta. Trancada é claro!

  Os minutos se arrastam e eu sinto meus olhos pesarem. Mas tento manter-me acordada. Todo cuidado é pouco.

   A névoa de fumaça que entra por debaixo da porta me assusta. Que merda é essa?

Escuto um estrondo e o quarto treme.

  Eu ficou desesperada. A fumaça fica mais presente e custo enxergar.

   Vou até a porta e tento abri-la. Meus dedos ardem pelo contato com a maçaneta.

- Aí merda!

  Quente, muito quente! Um incêndio?

  Não não não! Não quero morrer queimada.

- Ei! ALGUÉM ME AJUDA.

Começo a tossir. Meus olhos ardem e minha garganta começa a se fechar.

- ME TIRA DAQUI!

  Minhas pernas falham e eu caio no chão. Minha tosse se torna frenética.

  Aos poucos minha visão vai escurecendo. Tudo o que penso antes de desmaiar é que não quero morrer.

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Nossos Segredos #3 |Série TambovskayaOnde histórias criam vida. Descubra agora