Capítulo 22

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   Eu tinha acabado de sair do hospital quando Nikolai me ligou. O moleque se meteu em uma briga e pediu minha ajuda. Ele não queria que tia Oksana soubesse do ocorrido.

- Mudança de planos, preciso ir na antiga pista de skate perto do aeroporto - falo para Sam. O motorista que Ivan designou para me levar a qualquer lugar.

- Sim senhora.

  Sam é um homem calado,  está sempre atento.

   Encosto a cabeça no banco e respiro fundo. Já se passou uma semana desde o jantar. Dia após dia eu estou sentindo-me uma boba apaixonada. Parece que a paixão que eu sentia por Ivan voltou com tudo, nossos momentos ficaram mais intensos, nossas noites ficaram... como Luz diz: mui calientes. Não posso reclamar, eu não me sentia feliz assim há muito tempo.

  Minhas dores de cabeça eram a única coisa que deixava minha vida mais chata. Foi por isso que vim até o hospital. Fiz um exame de sangue e outros procedimentos. O médico me disse que tudo estava normal, eu não tinha nada de mais.

- Que fedor é esse? - pergunto.

- Provavelmente uma surpresa da pequena Emily.

  Olho para a cadeirinha e vejo que ela está começando a ficar irritada.

- Pode encostar, por favor.

  Quando ele para o carro eu pego minha bolsa e limpo a princesa fedorenta. Sam abre as janelas e graças a Deus o odor diminui.

  Chegamos na entrada da pista e desço do carro com Emily e Sam. Descubro por meio de um menino que o infeliz do meu primo foi para um fliperama perto da pista de skate. Bufando de raiva seguimos para o fliperama.

  O lugar está cheio de crianças e adolescentes. O barulho das máquinas a todo vapor.

- Vai por ali - aponto para a esquerda - Vou por aqui. Quem encontrar ele primeiro volta nesse mesmo ponto.

- Não será melhor nós dois irmos juntos?

- Vai ser  mais rápido. Vamos lá.

   Seguro a alça do bebê conforto e começo a procurar. Ele sequer atende o celular. O fliperama é enorme, vai ser difícil.

Quando eu botar minhas mãos naquele fedelho vou estrangular ele.  Dez minutos de procura e nada.

   Minha maldita cabeça começa a latejar forte e meu braço dói por segurar o bebê conforto. Volto para o nosso ponto de encontro e fico feliz ao ver que Sam encontrou Nikolai.

- Falei pra você me esperar na pista. Por que veio aqui?  - pergunto irritada.

- Um amigo me chamou.

  Só então noto o olho roxo e o lábio cortado.

- Quem fez isso com você?

- Um idiota. Mas não fique alarmada, ele saiu pior - diz sorridente.

   Então o som de tiros e gritos estoura por todos os lados. A cacofonia é grande. Sinto quando o bebê conforto é puxado bruscamente da minha mão. Alguém me empurra e caio no chão, apoio as mãos no chão e tento levantar. Meu coração dispara quando consigo ver um homem levando Emily.

- Não! - grito desesperada - Sam!

  Braços puxam-me para cima.

- Emily...

  Sam pega uma pistola e sai correndo. Começo a chorar e entro em desespero. Alguém segura minha mão e me puxa.

   Tudo vira um borrão. Os gritos das pessoas, o empurra empurra, todos tentando sair da confusão. Dor,  isso é o que sinto. A imagem do homem levando minha garotinha não sai da minha cabeça enquanto sou puxada para o estacionamento.

- Kristana!

  Minha bebê. Não não não. Isso tudo é só uma coisa passageira. Sam vai trazê-la de volta para mim. Sei que vai.

   Um tiro e um carro passando rapidamente para a saída do estacionamento.

  Nikolai me solta e corre para onde está um corpo. Sigo em passos rápidos. Encontro Sam ao redor de uma poça de sangue.

- Não. Não! Sam acorde - grito e caio ao lado dele. Pressiono a ferida no peito dele. Sam está assustadoramente pálido.

- Sinto muito senhora...

- Por favor.

- Foi um dos homens de Steve... Sinto muito - ele diz e assisto a vida se apagar naquele bom homem.

- Não...

  Chorando eu me apoio nas pernas de Nikolai. Choro por Emily, choro por Sam.

  Não sei por quanto tempo fiquei sentada naquele chão duro. Escutei alguém falar, só não consegui entender. Meus olhos estavam fixos nas minhas mãos ensanguentadas.

- Kristana.

- Kristana, meu amor. Olha para mim.

  As mãos quentes e o rosto de Ivan ficaram nítidos na minha visão.

- Levaram ela...

- Eu sei...precisamos sair daqui.

- Mataram o Sam...

- Vamos - ele diz e beija minha testa - Temos que ir.

  Alguns homens pegam o corpo de Sam e colocam em um carro. Ivan me ajuda a levantar e guia-me até um SUV.

Depois disso tudo corre  no automático. Chegamos em casa e Ivan me ajuda no banho. O sangue de Sam escorre pelo ralo. Um homem tão sério,  mas que tinha um bom coração.

- Foi ele. Foi o Steve, ele tirou minha pequena de mim. Minha menina.

Ivan me abraça.

- Traga ela para mim. Por favor.

As lágrimas se misturam com a água do chuveiro.

- Traz minha pequena...

- Trarei nossa filha de volta - Ivan diz.

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Nossos Segredos #3 |Série TambovskayaOnde histórias criam vida. Descubra agora