Capítulo 27

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   Sons de vozes alteradas me acordaram. Por um momento eu penso que é Steve, o medo me consome, mas eu lembro-me que Ivan está aqui. Sinto o perfume inebriante dele, o contato quente das nossas mãos unidas. Fico aliviada, consegui sair daquele inferno. Era tudo o que eu mais queria.

- Suspeito que ele tenha um cúmplice - Anthony diz.

- Também suspeito. Todos na Rússia estão em nossa folha de pagamento. Eles sabem que se nos trairem serão mortos.

- Talvez algum mafioso de um país vizinho possa estar ajudando-o.

- Não - Ivan aperta minha mão - Teria que ser alguém que tenha meios de trazer Steve até o país sem que a gente saiba.

  Eles se mantém calados. Continuo de olhos fechados e até posso imaginar as engrenagens girando na cabeça deles. Merda, até eu estou pensando. Não me envolvo muito em assuntos da máfia, somente quando me interessa, mas fica difícil de imaginar quem poderia estar ajudando Steve.
 
  Mas a minha consciência sussurra: você talvez saiba quem pode ser.  Mas Arina é só filha de um sub-chefe de uma das menores organizações da Bratva, não teria tanto poder em suas mãos. Natasha também não tinha e quase matou Diana duas vezes.

  Está bem, posso supor que Arina esteja por trás disso.  Fiquei com o homem dos sonhos dela, tomei o tão sonhado lugar de esposa de Ivan Seveskoy. Uma mulher que não aceita que perdeu pode se tornar vingativa. E Arina é uma dessas.

- Quando vamos embora daqui?

- Dentro de algumas horas - Ivan fala - Peça para alguém comprar roupas novas para Kristana e providencie o nosso jato.

   Escuto a porta ser aberta e depois fechar.

- Pode abrir os olhos - ele ri.

  Sorrio e abro os olhos. Minha têmpora dói um pouco juntamente com a minha bochecha.

- Estou bem acabada não é? - pergunto.

- Talvez um pouco.

  Ele passeia a mão pelo meu braço. Sinto um arrepio gostoso.

- Por que demorou tanto? Pensei...

- Pensou errado. Jamais te abandonaria aqui. Foi complicado vir até esse país de merda, ainda mais com a perna machucada. Mas uma coisa é certa, eu iria até o fim do mundo por você.

   Dou um sorriso fraco.

- O que aconteceu com o meu Ivan anti-sentimento?

  Ele fica calado por alguns segundos.

- Quando perdi minha mãe e meu irmão algo dentro de mim quebrou. Passei grande parte da minha vida remoendo aquilo. Eu vi eles sendo mortos e não pude fazer nada. A negligência de meu pai foi o ápice para eu me tornar o que sou hoje.

   Ele quase nunca fala sobre a vida dele. Espero que ele continue.

- Eu fui uma pessoa boa antes que minha morresse. Se você tivesse me conhecido naquele tempo talvez você se encantaria com o doce Ivan - ele brinca com meus  dedos - Mesmo treinando dia e noite eu continuei sendo um garoto feliz. Mas depois que eles morreram eu me tornei um monstro. Foquei no meu treinamento, aprendi a matar um homem com minhas próprias mãos. Depois que matei pela primeira vez eu não parei mais.

" Matei homens inocentes pelo simples fato de estar sem nada pra fazer. A dor, a agonia, a vida se esvaindo dos olhos deles, tudo aquilo alimentava o meu ódio"

- Como Arina entrou na sua vida? 
- Arina foi uma fraqueza. Ela foi meu ponto de salvação nos momentos sombrios. Arina era quem me acalmava quando minha parte louca aparecia.

   Meu coração se contorce com os pensamentos de Arina ao lado de Ivan.

- Não cheguei a amá-la. Era mais como uma possessividade. Quando ela me deixou pela primeira vez eu fiquei louco. Pensei em ir atrás dela, mas ela voltou. Nossa relação foi sempre assim. Ela ia, mas sempre voltava.

" As mulheres serviam para preencher o vazio que eu sentia, mas  a cada vez que eu trepava com uma eu sentia-me mais vazio ainda. Todas elas não acendiam nada em mim"

- Mas aí uma adolescente de cabelo laranja entrou na minha frente e me deu uma cantada barata.

   Sorrio ao lembrar desse dia.

- Não foi tão ruim assim! A cantada do padeiro sempre funciona.

- Ah se funciona. Mas você era proibida. Tinha só quinze anos, mas atitude de uma mulher de vinte. O que mais me encantava em você era sua doideira. Era fácil sorrir quando você estava por perto. Com o tempo eu fui percebendo o seu olhar apaixonado. Aquilo era demais. O desejo avassalador que eu sentia era doentio. Eu levava muitas mulheres para que você visse e me esquecesse.

- Meio que era impossível esquecer você - falo - Cada vez que você aparecia com uma mulher diferente eu queria estourar ela. Queria ser eu no lugar delas. Sua beleza ajudou muito, aquela aura sombria que você exalava parecia me chamar. Tudo sobre você era desconhecido. Mas eu continuei apaixonada.

- Quando me casei com você foi mais por possessão. Eu não podia deixar você ser vendida para um velho como a sua mãe pretendia. Mas com o tempo você foi se infiltrando na minha vida. Com você e Emily eu sentia que estava completo.

   Ivan senta  na cama e beija meus lábios calmamente.

- E o pior de tudo foi que eu me apaixonei por você - ele diz - Tentei de tudo para não te amar, por que eu não aguentaria perder alguém que eu amo de novo. O amor nos deixa fracos, vulneráveis. Mas o meu amor por você não me deixou fraco,deixou-me mais forte.

  Nem percebi que estava chorando até Ivan limpar minhas lágrimas.

- Eu te amo Sra Seveskoy. E prometo ser um marido melhor.

  Agarro o pescoço dele e puxo-o, beijando-o com todo o amor possível. Nem em um milhão de anos eu pensava que esse momento aconteceria.

   Ivan separa nossas bocas e beija meu pescoço.

- Eu te amo Sr Seveskoy - falo.

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Nossos Segredos #3 |Série TambovskayaOnde histórias criam vida. Descubra agora