Cristopher estava deitado naquele colchão macio no seu apartamento, tinha medo de abrir o envelope misterioso e ao mesmo tempo só pensava nisso. Sem mais delongas, simplesmente o abriu e viu o que pareciam ser fotos e registros sobre uma experiência do governo.
-Então é isso? A mulher que eu amo foi levada por eles quando criança e agora é uma arma de guerra?
Cristopher questionou, indignado e achando que tudo aquilo era impossível.Logo, decidiu ler um relatório:
"Dia 1 - Problema na ala A2Uma das crianças em que implantamos o FAR entrou em combustão espontânea, seu corpo não aguentou, simplesmente morreu queimada. Já que era tarde demais, nós não pudemos fazer nada.
As outras crianças da ala ficaram chocadas, exceto Titânia, ela permaneceu com sua expressão vazia e sem esboçar qualquer sinal de surpresa. Ela é sem dúvidas assustadora... Devemos vigia-la com mais cautela.
O chefe da ala disse que isso era boa coisa, os objetos de estudo deveriam ser assim como Titânia: vazios de emoção, pois o FAR mataria cada vínculo emocional dentro deles."
Após ler aquilo, ficou perplexo e quis que fosse apenas um sonho maluco fruto de sua obscura imaginação. Logo, beliscou o próprio braço para ver se acordava e nada aconteceu além de um pequeno arranhão.
Então Titânia era mesmo uma experiência do governo, teria sido programada para não ter emoções. E se Cristopher contasse aquilo a alguém? Certamente o chamariam de lunático, não acreditariam em suas palavras.
Por um instante jogou os documentos para o lado de seu colchão, fechou os olhos, começou a lembrar de todas as vezes que tentou chegar ao coração de Titânia. Lembrou-se também de que havia fracassado em cada uma dessas tentativas, apenas as flores deixavam ela feliz, flores específicas aliás.
Como ainda não estava tão tarde, decidiu retornar ao bar para escrever. Talvez assim pudesse compreender melhor a história de Titânia, ou simplesmente aprendesse a compreender o próprio coração.
Sentou-se na mesma mesa, flertou um pouco com Kali e pediu um bom vinho para afogar as mágoas. Logo retirou papel e caneta dos seus bolsos, iniciou a escrita de outra carta:
"Minha misteriosa fada,Por que não confessas teus mistérios mais profundos? Por que não aproximaste teu coração das minhas emoções?
Lembro bem que tu disseste amar as violetas, eram suas flores favoritas, o tom delas combinava com o tom exuberante dos teus olhos. Amada minha, lembra-se de quando lhe dei violetas no teu aniversário?
Elas pareciam ser a única coisa capaz de fazê-la feliz, além das tuas músicas favoritas... Que cantarolava carinhosamente aos meus ouvidos.
Ensinou à mim que viver é melhor do que sonhar, tornou-me um cético apaixonado e ainda me questiono se isso é mesmo possível. Eu duvido de tudo, menos dos meus sentimentos por ti, minha gloriosa musa.
És misteriosa, és fantástica, és bela do seu jeito tão suave... Por que não és minha?
Quero descobrir as verdades ocultas de teu ser, quero descobrir o que há por trás desses olhos, quero descobrir o que tu és de fato. Por que não volta e me conta com tuas próprias palavras?
Titânia... Tens tantos segredos que eu nem mesmo sei o que fazer para desvenda-los, penso que vou passar o resto de minha vida buscando a verdade sobre ti!
És uma arma de guerra apenas? Sem sentimentos? Uma espécie de supersoldado que não sente dor nem mesmo psicológica?
Garota, irei enlouquecer investigando teu passado e esperando-te em meu presente!
Será que já estou louco? Será que é apenas um sonho? Minha fada maravilhosa, por que esse mundo está em decadência?
E eu sigo escrevendo, declamando meu amor às paredes desse bar! As mulheres que andam comigo, não são assim tão interessantes como tu és.
Minha melhor amiga correu riscos, apenas para me ajudar a desvendar o mistério que tu és. O que faço agora? Não posso simplesmente deixar isso assim... Por mais indignado que eu esteja, devo continuar a ler os documentos secretos.
Se cuide Titânia, não quero que se machuque em meio às loucuras que esse mundo em colapso está fazendo. Um dia encontraremos paz, um dia nossos lábios se encontrarão, um dia ficaremos juntos?
Duvido muito que seja possível, mas ainda assim, um raio de esperança nesse pobre coração pensa que ainda valerá a pena essa longa espera.
Seu confuso e apaixonado
Cristopher"Entregou a carta para Kali, o bar estava fechando, estava bêbado e sonolento. Então a garçonete gentilmente se ofereceu para leva-lo até o apartamento, duvidando que ele conseguisse chegar lá inteiro se fosse sozinho.
O arrastou gentilmente até seu carro, parou em frente ao decadente prédio onde mendigos e ratos se aglomeravam. Rapidamente subiu as escadas e encontrou o apartamento de Cristopher, jogou-o no colchão e notou que ele parecia chorar enquanto quase adormecia.
-Sh... Tudo vai ficar bem... - Ela dizia, tentando fazer com que ele parasse de chorar. - Estou aqui nessa madrugada, pronta para cuidar de ti.
Ela se deitou ao lado dele, gentilmente deixou que descansasse a cabeça em seus seios macios. Odiava homens atrevidos, porém, sabia que Cristopher era um pobre romântico rejeitado por sua amada.
Além disso, Kali tinha a esperança de um dia encontrar um amor sincero como o daquele sujeito decadente. Porém, ao invés de rejeita-lo, iria simplesmente lhe dar amor se tivesse a chance. De qualquer forma, era uma moça carinhosa e queria de fato melhorar o mundo.
Será que a garota de traços indianos algum dia poderia fazer Cristopher esquecer Titânia? Ou seria apenas mais uma amiga esperando que ele sentisse vontade de dar alguns beijos?
Naquele momento pouco importava, apenas queria fazer com que ele se sentisse confortável. E de fato conseguiu, até ficar sonolenta e dormir junto a ele.
Na janela uma brisa suave soprava pétalas de violetas para dentro do apartamento... Elas gentilmente repousaram sobre o quarto todo, deixando cuidadosamente um bilhete no parapeito da grande janela.
Como aquele bilhete chegou lá com tanta precisão? Por que ele havia chegado lá?
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Quando as flores sangram
FantasíaCristopher tinha dezenove anos de idade e mesmo assim ainda insistia em amar Titânia, a garota que o fez sentir tantas coisas e depois simplesmente partiu. Então ele vivia sua vida da forma que queria, era conhecido por ser um grande conquistador e...