Segredo de Kali

12 5 3
                                    

   Ela abraçou Cristopher com toda a força que tinha, começou a chorar e não conseguia falar com nitidez. Até que ele secou as lágrimas dela e perguntou:
   -Minha deusa, o que te entristece tanto?

   -Eu sei que você vai partir se souber, mas... Cris, eu sou uma experiência fracassada do governo. Eu não sei por quanto tempo vou viver, não faço ideia do que sou capaz e tenho muito medo de te machucar.

   -Querida, não se preocupe comigo... Eu sou um cara sem futuro que escreve colunas que ninguém lê, em um jornal que poderia contratar qualquer outra pessoa. Ninguém sentiria minha falta caso eu morresse.

   -Mas eu não suportaria isso... Posso ser apenas uma coisa criada em laboratório, mas tenho sentimentos!

   -Bem... Titânia também era e nunca teve sentimentos positivos, será que é por isso que você foi descartada?

   -Sim... Eu deveria ser uma arma de destruição em massa, mas me recusei, então disseram que eu era completamente defeituosa. Queriam me mandar para uma espécie de abate, mas eu fugi.

   -Kali, jamais vou deixar que machuquem você... Eu prometo.

   Seguiram naquele abraço carinhoso, até que escutaram uma explosão, parte do teto da igreja se abriu e juntamente com a luz da lua, alguns agentes apareceram. Estavam todos bem armados e preparados, não havia uma possibilidade de fuga.

   Titânia surgiu, com a delicadeza de uma verdadeira fada e certamente não precisaria de armas para fazer qualquer estrago naquele local. Lançou a Cristopher um sorriso de escárnio, aquilo era seu mais sincero deboche para com o poeta boêmio.

   -Vamos destruir esse monstro defeituoso, não é nada pessoal Cris... É só o fato de ter se envolvido com a mulher errada.
Titânia disse, empurrando-o ao chão usando apenas a força de seu olhar.

   Seus olhos de tom lilás brilhavam, como duas estrelas peculiares prestes a explodir. Cristopher não sabia o que fazer, apenas ficou ao chão enquanto a encarava, era inútil resistir.

   Kali, fechou seus olhos e quando os abriu novamente, estavam vermelhos e brilhantes. Aquilo era toda sua fúria, não deixaria que fizessem mal ao homem que amava, por isso, despertaria seus mais profundos poderes.

   Com suas mãos, criou um círculo de fogo em torno de Cristopher e outro em torno dos soldados. Depois disse:
   -Titânia, somos iguais! Você deve aceitar isso, mesmo com o poder que temos... Ainda somos seres humanos, todas as crianças em que aplicaram o FAR eram, até fazerem aquela maldita lavagem cerebral!

   -Eu sirvo o governo apenas, não vou questionar as atitudes de quem sabe o melhor para minha nação. Você deveria estar envergonhada, falha!

   -Está vendo? Você se tornou um robô desses infelizes, você obedece todas as ordens... Mas não lhe culpo, afinal, algum dia tivemos escolha?

   -Nunca tivemos escolha, mas por favor, se entregue e não terei que lhe machucar. Use um pouco de lógica.

   -Jamais farei algo que uma tirana como você pede!

   Então Kali apagou os círculos de fogo, incendiou a igreja com um fogo intenso num tom de vermelho escarlate. Cristopher ficou pasmo, o fogo não o queimava, apenas o envolvia num caloroso abraço. Se sentiu sonolento, adormeceu nos braços de Kali, que o levou para fora.

   Sabendo bem do que iria acontecer, deixou-o em um lugar seguro e logo começou a correr, teria que fugir para bem longe se quisesse se livrar daquilo. Deu a ele um simples beijinho na bochecha, nem teve a chance de lhe dizer palavras de despedida. Era esse o fim do romance que tinham?

Quando as flores sangramOnde histórias criam vida. Descubra agora