Book One - Liar

57 5 29
                                    

Divum estava nervosa. Isto era um fato, e era impossível negar isso.

O que havia acontecido?

Mello.

Seria mais fácil voltar para algum tempo antes daquilo, quando o dia havia começado.

------------- -------------

Fazia mais de uma semana que Divum estava na posição comprometedora que era se passar por seu irmão, e nenhum evento significativo estava realmente acontecendo para fazer com que ela se preocupasse excessivamente com isso. Era o seu dever seguir com o seu irmão, que era muito mais digno de viver do que ela mesma — isso era algo que ela havia aceitado muitos anos antes de seus pais serem mortos, e muito antes de ele mesmo desaparecer. Então, quando ela tomou seu papel como Divum na Wammy's House, ela não se arrependeu de abandonar sua identidade como a garotinha que sempre seria pior que seu irmão. A garota que sempre decepcionaria seus pais, seu irmão e todos que estavam ao seu redor com sua personalidade calada e sua covardia. Poderia adicionar mentirosa na lista agora, se desejasse, mas já se culpava o suficiente por tudo aquilo. Não, ela deveria apenas aceitar que era uma péssima pessoa logo.

Ela balançou a cabeça, percebendo que não conseguiria dormir aquela noite, com os pensamentos sobre os eventos do seu passado assombrando cada canto da sua consciência. Então, ela se levantou, pronta para sair silenciosamente pelos corredores e se divertir um pouco, tendo que evitar os monitores, mas assim que abriu a porta alguém caiu dentro do seu quarto. Os cabelos loiros faziam com que não sobrasse nenhuma dúvida sobre o que estava acontecendo. Logo atrás da primeira figura, os famosos cabelos ruivos e olhos cobertos por óculos de proteção laranjas se destacavam em contraste com o escuro. Ela ergueu uma sobrancelha. Bem, sabia que os dois estavam se tornando até bons amigos seus — se ela poderia ousar se considerar amigo de qualquer pessoa —, mas aquilo beirava o comportamento de um stalker. Mesmo assim, ela abriu espaço para que os dois entrassem. Desde que os monitores começaram a revistar os quartos, ela começou a dormir com as faixas em seu peito e uma regata leve, além de shorts. Era mais seguro assim.

— Os dois resolveram que queriam fazer uma festa do pijama comigo sem aviso prévio? Querem que eu trance os cabelos dos dois e pinte as unhas de vocês?— O comentário sarcástico veio de Divum, que continuava olhando para os dois com certa raiva, mas estava contente por ter algo para fazer. Afinal, ela estava prestes a sair antes, isso era mais seguro e tinha alguma garantia de ser divertido.

— O Mello queria falar com você, mas ele é idiota demais pra esperar até amanh— Ouch, Mello! Que parte de "não agredimos os nossos amigos" você ainda não entendeu!?— Matt esfregou seu ombro, que havia sido socado pelo dito loiro. Mesmo sendo seu melhor amigo, ele não era imune aos ataques de raiva do jovem pré-adolescente, e Divum conseguia ver isso agora mesmo.

— Cala a boca, Matt!— Ele corou violentamente, pensando na besteira que ficaria parecendo se Matt terminasse aquela frase. Respirando fundo, ele sorriu de forma confiante e foi até a cama de Divum, sem perguntar se poderia fazer isso. Mello já se considerava "da casa", por assim dizer, e por isso não se importou em perguntar.— Bem, eu queria ver você, já que você é o único que dorme sozinho nos dormitórios além do floquinho de neve especial. Deve ser meio solitário, né?

— É mesmo solitário às vezes. Não que eu me incomode, mas desde que a Lunaris...— As palavras ficaram presas na garganta da garota ao pronunciar seu antigo codinome, como se somente percebesse alguma coisa ali agora que o falasse. Era o mesmo que acontecia sempre que pensava no nome de seu irmão — o verdadeiro nome —, e imaginou que ele faria o mesmo na situação contrária.

— Você não precisa falar nisso, cara. Sabemos. Se você quiser, a gente pode tentar convencer o Roger a nos colocar todos em um só quarto, se quiser. Eu consegui convencer ele a fazer coisas pra nós dois mais de uma vez, sabe?— O ruivo ergueu as mãos na frente dele, como se estivesse se rendendo, um sorriso amigável no seu rosto. Ele realmente se importava em tentar deixar o seu colega confortável, apesar de estar com sono.

A criança de Wammy's HouseOnde histórias criam vida. Descubra agora