24.12.2091

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Domingo, 24 de dezembro de 2091.

Se perguntassem a Donghyuck o que ele mais sentia falta de sua juventude, ele falaria dos inúmeros livros que leu e da textura do papel em cada um deles, pois a era digital chegou quando ainda era jovem e nunca se foi, tornando uma das suas paixões obsoletas, diante de toda aquela tecnologia.

No entanto, enquanto contava uma história para seus netos e via as ilustrações do que falava se projetarem no tablet, divertindo as quatro crianças, se sentia feliz de viver tanto tempo para estar presente em momentos como aquele. A família estava reunida para uma das tradições que não se perdeu com o tempo, o natal.

Ouviu o riso inconfundível de seu marido na sala de jantar. Mark tinha muito mais disposição que o moreno, por isso corria atrás dos filhos interagindo com os genros como se ainda tivesse idade para tais brincadeiras. O idoso de cabelos brancos desfrutava o máximo da presença daqueles que via tão pouco durante o ano, por isso Donghyuck não o julgava.

As crianças ao seu redor levantaram correndo ao ouvir que o jantar estava pronto, Donghyuck esperou mais alguns segundos, contemplando sua família de longe, todos felizes ao redor da mesa. Era uma imagem que não queria esquecer, mesmo que sua cabeça já não lhe deixasse escolher que memórias manter.

Kevin, o caçula da família veio o ajudar a levantar com um sorriso, tão parecido com o seu, apesar de não partilhar o mesmo gene, ninguém poderia dizer que o jovem não era seu filho. Fez força junto a ele e se pós de pé, grunhindo por suas articulações não funcionarem como antes. Abraçou seu filho, tentando não colocar o peso de seu corpo nele ao andar.

— Vamos te colocar do lado do Velho — brincou, se referindo a Mark, como sempre fazia.

Sentou na ponta da mesa, em frente à sua filha mais velha, Jenna, ao lado de Mark, que lhe sorriu estendendo a mão em cima do mármore frio e entrelaçou os dedos enrugados nos seus. Ele ainda o encarava com os mesmos olhos de quando se viram pela primeira vez, porém esperança e paixão deram lugar a cumplicidade e amor, mas o olhar ainda era o mesmo.

Fizeram uma pequena oração em respeito ao seu filho do meio, Tony, que carregava um alto título em uma igreja protestante no sul dos Estados Unidos, onde morava. Apesar da religião dele ainda excluir direitos a casais como os seus pais, ele era o filho com quem tinham mais contato, já que os outros dois viviam na Coréia Unificada.

O assunto era delicado para lembrar em um momento tão feliz, mas não conseguia evitar, pois ainda carregava marcas da guerra, mesmo ostentando orgulho por libertar o seu país natal da prisão e do medo iminente, ficar todos aqueles anos longe de Mark por escolha própria, eram lembranças que preferia não reviver.

Apertou mais forte a mão do outro ao fim da oração, voltando a sorrir quando a mesa começou a girar devagar com o pequeno touchscreen exposto, os dando a opção de aceitar ou recusar o que havia dentro das panelas. Todos riam comentando sobre os membros da família que não estavam presentes e das crianças.

Donghyuck ainda se perguntava o que fez para merecer tamanha felicidade, mas era grato por tudo, principalmente ainda ter seu marido ao lado. Não viveriam para sempre, apesar dos avanços na medicina permitirem uma vida mais longa do que poderia sonhar com seus vinte e dois anos, ainda não haviam descoberto a cura para a mãe de todas as mortes, o tempo.

Depois do jantar, todos sentaram em frente à lareira para a troca de presentes. Sentado ao lado de seu marido, sorriu com a euforia das crianças em serem as primeiras. Seus filhos, porém, impediram colocando um pacote com enfeites tradicionais natalinos em suas mãos. Donghyuck não via um desses a muito tempo.

— É um presente para os dois, de nós três... — Falou Jenna, com um sorriso grande e esperançoso.

— É, foi difícil conseguir, mas acho que vocês vão gostar... — Tony argumentou, abraçando a irmã.

— É pro Papai, mais do que pra você, Velho... — Kevin brincou, recebendo um empurrão do namorado e o riso de todos na sala.

— Isso é... — Donghyuck comentou depois que abriu o pacote, lendo o nome do livro, acariciou a borboleta na capa e compartilhou um olhar marejado com Mark. — Meninos, não precisavam fazer isso.

— Onde encontraram? Está em coreano, meu deus, garotos! Isso é... Incrível.

As palavras faltaram a Mark, enquanto todos se emocionavam juntos aos dois com o momento, continuou a acariciar o objeto. O conto difícil sobre o efeito borboleta, o livro que os juntou, estava ali. Donghyuck abriu a capa, diante do olhar curioso das crianças e sentiu o ar o deixar ao ver a letra borrada na folha de dedicatória.

— Como? Como encontraram? Eu o perdi na mudança! Como vocês.... — Perguntava Mark com a voz embargada pela emoção, Donghyuck não estava diferente.

Aquele era o mesmo livro que vendeu ao mais velho décadas atrás, o que fez parte da história dos dois e foi perdido durante a mudança para o Canadá. Donghyuck levantou o olhar para os filhos, genros e netos e abriu o maior sorriso que conseguia, mas antes que pudesse dizer alguma coisa, sentiu os braços o circularem em um grande abraço em família. 

If, Perhaps | [Markchan]Where stories live. Discover now