Dia 5

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- Júlia, qual é a resposta da cinco b? Júlia?

- Ju! – Gritou a voz de Let na minha orelha. Assustada, só disse a primeira coisa que me ocorreu.

  – Ah, a Segunda Guerra Mundial.

As pessoas riram, e até o professor deu uma risadinha amarela.

- Tenho certeza que essa é a resposta para alguma coisa da aula de história.  – Frisou o professor Marcos, me fazendo enrubescer. – Mas eu só queria  saber a tangente de noventa graus. Sabe como é, aula de trigonometria e tal.

Para o meu completo desespero, eu não sabia a tangente de noventa graus.  Eis que uma mão branca se levanta, destacando- se da multidão.

- Não existe tangente de noventa graus, professor. – Falou Matheus, me  livrando de uma bronca e de mais humilhação. O garoto sorriu cúmplice  para mim, desviei o olhar depois de sorrir de volta. O professor olhou  de um para outro, antes de retomar a aula.

- Sim, isso mesmo, Matheus. Tangente de noventa não existe e eu vou mostrar o porquê.

E então voltei ao torpor da aula chata com vários círculos e eixos e  raios e ângulos que eu não fazia a mínima questão de aprender.

É sério gente, eu sou de miçangas. Matemática não entra na minha cabeça,   nunca vai entrar. Nem matemática e nenhuma matéria exata, isso inclui  física e química também. Se você quer saber, eu sou tão de miçangas que  nem biologia aprendo.

Miçangas nível infinito.

Logo após o professor ter nos liberado (dois minutos antes do sinal bater), fui procurar  Matheus, porque tinha sido mesmo muito meigo me salvar daquela forma. O  encontrei conversando com seus amigos da outra sala que eu não sabia o  nome e fiquei em conflito sobre ir chamá-lo ou não.

Foi o próprio Matheus quem decidiu por mim.

- Ei, Ju! – Falou, vindo até onde eu estava. Sorri para ele.

- Oi! Escuta, eu queria te agradecer por... Sabe, ter me salvado lá dentro.

   Ele gesticulou para um banco, me convidando para sentar. Aceitei, me  sentando graciosamente ao seu lado (com isso entenda que eu me joguei no  banco).

- Não foi nada. Eu sei que você não manja de matemática. – Ele fez uma  pausa. – Bom, nem eu, você sabe, mas o professor estava de costas e nem  me viu pesquisando no Google.

Fiquei encarando Matheus por uns quinze segundos inteiros e só comecei a rir quando ele sussurrou um envergonhado "É verdade".

  - Não acredito que você fez isso! Podia ter sido pego com o celular, sabe disso, né?

- É, podia. Mas não fui. Além disso, foi bom me sentir o príncipe do  cavalo branco só por alguns minutos. – Eu juro que fiz o maior esforço  do mundo para permanecer com o sorriso, mas não sei se deu certo.

"Príncipe do cavalo branco" era justamente o jeito que eu me referia ao Victor! Se  Matheus percebeu alguma anormalidade, não disse nada. Conversamos mais  um pouco, até que o sinal bateu e fomos para a nossa sala.

Depois de mais quatro aulas lindas de geografia e gramática, fui para a  portaria com meus amigos esperar meu pai, como sempre fazia. Ainda não  havia visto Victor na escola e estava com aquela preocupação boba de que  ele não iria estudar lá. Ora, porque ele iria para uma escola mais  longe, se essa ficava tão perto do prédio? Não fazia sentido nenhum.  Fiquei mais uns dez minutos de pé esperando meu pai, quando ele mandou  uma mensagem dizendo que ficou preso no trabalho e não podia mais ir me  buscar.

Burn with you - Neagle FanfictionOnde histórias criam vida. Descubra agora