Dia 18

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O dia dezoito começou bem.

Se considerar o fato de ter sido escolhida como representante da turma,  ter tirado umas das melhores notas do primeiro bimestre e conquistado  uma bolsa de sessenta por cento no colégio, o dia dezoito realmente  começou bem.

Exceto que não tive notícias de Victor, o que fez o dia dezoito ser mais um dia agonizante.
Quando meu pai saiu com o carro naquela manhã, dei uma olhada para a  vaga que o carro dos pais dele ocupada e continuava vazio, como se eles  nem tivessem vindo para casa. E por fim, quando cheguei da escola, a  vaga continuava vazia.

Let tinha vindo comigo e iria dormir lá em casa, ela se recusou a  aceitar um não como resposta. Decidimos começar com um filme, mas  infelizmente para a Globo, eu já havia assistido aquele filme com Victor e antes que eu começasse a chorar, Let mudou de canal.

- Levanta essa bunda dai e vamos procurar ele, anda. – Falou do nada.  Confusa, levantei e calcei o chinelo, enquanto ela desligava a TV e  prendia os cabelos. Possuiu minha chave e trancou a porta, liderando por todo o caminho até  chegarmos a quadra.

E ele não estava lá. Tampouco na piscina.

Derrotadas, voltamos ao prédio, esbarrando com minha mãe quando fomos entrar.

- Ju! – Exclamou ela, quando me viu. – Preciso de um favor! Tenho várias  coisas pra fazer e preciso que vá ao supermercado urgente comprar sabão  em pó.

  E ela nem me deixou falar, só enfiou uma nota de dez reais na minha mão e foi para a garagem.
Let deu de ombros, indo para a portaria, mas eu bufei, resmungando o caminho todo.

Estávamos indo embora já, quando reconheci aquele cabelo castanho claro da minha vizinha Laura.

Arregalei os olhos.

- Let. – Chamei. – Let, é ela!

- Hã?

Saí da fila sem pagar nem nada, correndo atrás de Laura.

- Quem é essa? – Perguntou Let atrás de mim.

- É a mãe do Victor! Vai pagar meu sabão em pó que eu corro atrás dela.

  Laura estava quase chegando ao seu carro quando finalmente a alcancei.

- Laura! – Chamei, alto.

Seus olhos estavam profundos, com olheiras e parecia que ela não dormia  há séculos. Apesar disso, sorriu para mim, um sorriso cansado que  lembrava muito o de Victor. Esse pensamento só me deixou com mais saudades.

- Oi, Ju.

- Por favor, sabe onde Victor está? – Pergunta errada. Seu sorriso se deformou em uma careta e ela começou a chorar, bem ali na minha frente.

- Ele está no hospital, querida. – Explicou, triste.

Meu coração começou a bater mais rápido.

- Por quê? Ele está bem? Posso ir?

- Oh, lindo gesto, mas ele não gostaria disso. Ele é todo orgulhoso,  você sabe. Mas prometo que o farei te ligar, tudo bem? – Assenti com a  cabeça. Ela enxugou a lágrima e sorriu de novo. – Bem, tenho que ir  levar esse chocolate para ele.

Sorri também, mas acho que não saiu um sorriso lá muito feliz. Victor estava em uma merda de um hospital.

- E aí? – Perguntou Let, chegando até onde eu estava.

- Ele... Ele está no hospital. – Disse, olhando para baixo. Let pegou minha mão.

- Vai ficar tudo bem.

E eu queria acreditar nela.

  Mas sabia que Victor não estava nada bem, e analisando o quadro como um  todo, ele não estava nada bem há dias, há quase duas semanas se fosse  parar para pensar. Como sou burra.

Assim como ontem, Let não conseguiu me distrair e acabei indo dormir  cedo. E assim como ontem, dormi encarando o celular, esperando uma  ligação que não chegou.

Burn with you - Neagle FanfictionOnde histórias criam vida. Descubra agora