Dia 17

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Meu pai cruzou os braços, me encarando.

- Júlia. – Meu pai nunca me chamava pelo nome, nem mesmo pelo apelido. Ops.

- Sim? – Estava desconfortável, e apertei minha mochila nos ombros.

- Eu sei que aquele garoto estava aqui ontem à noite. Não sou burro, sabe. – Engoli em seco. – É sério?

Eu sabia que ele não era burro, mas aparentemente subestimei a esperteza do velho.
Minha mãe me encarou com um sorriso malicioso, e eu lutei contra a vontade irresistível de rolar os olhos para ela.

   - Pai! Estamos atrasados! – E a minha sorte era que nós estávamos mesmo,  por isso ele não disse mais nada e saímos do prédio apressados.

 
- Nós vamos com você. – Insistiu Rafa pela décima vez quando eu disse que não precisava. – Você está chateada por causa de Victor e precisa de nós. Let concordou com ela, com o "com certeza" de sempre.

Bufei.

- Certo, certo. Vamos logo. – Apressei quando vi meu pai chegando. Elas se entreolharam vitoriosas e me seguiram para o carro.

Uma vez dentro do apartamento, elas fizeram de tudo para me distrair,  mas eu estava em outra dimensão. Em alguma hora da tarde, Rafa exigiu  saber o que é que eu tanto escondia, e aí eu desabei.

Contei tudo que tinha acontecido de ruim com Victor, desde os  sangramentos no nariz, até ele parecer mais pálido e mais magro de uns  dias para cá. Contei sobre as frases desconexas e de como ele ficava  vulnerável. Rafa e Let ouviram tudo com atenção, me consolando. Let deu a  ideia de eu ir visita-lo logo de uma vez e é isso que iria fazer.

Bati na porta do 94 meio receosa, mas ninguém me atendeu. Fiquei uns cinco minutos tocando a campainha, mas ele não estava.

Não tinha ninguém lá.

- Não tem ninguém em casa. – Falei baixinho, quando voltei. Let entrou no apartamento atrás de mim.

- Não mesmo, o carro deles não está na vaga.

Rafa suspirou, apertando minha mão.

- Eu não vou poder ficar, mas a Let vai dormir com você.

- Não, não precisa. – Elas não insistiram e lá pelas nove da noite, foram emboa.

Em suma, o dia dezessete foi um dos mais agonizantes que já vivi. Mas não se comparava ao que me esperava.

Antes de dormir, tentei ligar para Victor, mas ele não me atendeu. O carro ainda não estava na vaga e ainda não tinha ninguém em casa.

Mandei uma mensagem para ele. Não me lembro do horário que finalmente  adormeci por estar cansada, mas lembro que fiquei com os olhos grudados  na tela do celular, esperando ele me responder.

E eu adormeci, esperando por uma resposta que não chegou.


• Vizinho
Victor, pelo amor de Deus, onde você está?

***

notas:
acho que é meu dever avisar a vocês que só faltam 5 capítulos para o fim.

Burn with you - Neagle FanfictionOnde histórias criam vida. Descubra agora