Dia 10

215 18 6
                                    

- Alô.

- Querida!

- Você está parecendo um gay falando. – Comentei, desamarrando meus tênis ao mesmo tempo que equilibrava meu celular na orelha.

- O quê? Ninguém te contou ainda, hon? – Falou com a voz afetada.

- Seu posto de badboy caiu de vez.

- Que preconceito! Por que não pode existir um badboy gay? Um... Badgay? – E ele riu com a própria piada. Incrível como ele fazia aquilo.

  - Victor, acabei de pisar em casa. O que você quer? – Perguntei,  sentando na minha cama e encarando meu ursinho de pelúcia Caramelo (sim,  é esse o nome dele).

- Te compensar por ontem. Vamos lá pra baixo? – Respondeu, dessa vez com sua voz normal.

- Você vai fumar?

- Não, prometo que não.

Suspirei, tirando as meias e calçando o chinelo.

- Certo, estou descendo.

E assim que eu desliguei o celular, escutei uma batida na porta. Dou uma  jujuba de uva para pessoa que acertar quem era que estava do outro  lado.

  - Cara, será que eu posso almoçar? – Perguntei para Victor, que já foi entrando como se fosse de casa. E ele era mesmo.

- Acho que te ouvir dizer que já estava descendo... – Disse, sentando na mesa da cozinha. Isso, sentando na mesa.

- Tira essa sua bunda ossuda da minha mesa e senta na cadeira. – Pedi, pegando a alface na geladeira.

- Mas... E se eu não quiser?

Rolei os olhos.

- Argh, morre, Victor.

  Ele ficou quieto e eu percebi que ele tinha ficado bem triste, pelo seu semblante.

- Talvez o que você queria aconteça mesmo. – E saiu da mesa, mas não para se sentar na cadeira.

Foi para ir embora.

- Ei! – Gritei, correndo atrás dele. – Desculpa, só falei brincando. Eu jamais iria querer que você morresse, nunca.

   Ele me encarou com pânico nos olhos, mas depois sorriu. Às vezes ele  parecia tão sentimental, como se uma criança ocupasse seu lugar. E eu  não era esse tipo de pessoa.

  Não era do tipo que magoava os outros.

Pelo menos eu achava que não era.

Eu até perdi a fome. Sorri para ele e fomos para a área de lazer do  prédio. A gente ia entrar no clube, mas ele disse que estava cansado e  por isso, nos sentamos no banquinho da churrasqueira. Sentei um pouco na  frente dele e Victor levou suas mãos para os meus cabelos.

Não falamos nada por um tempo, até que ele colocou os braços para frente  quando estava se arrumando no banco e eu vi outra. Outra tatuagem.

  - Vai me contar o que elas significam? – Perguntei, apontando para o solitário K.T em seu antebraço esquerdo.

Victor suspirou.

- Karina Trindade. Minha irmã. – Contou, todo triste. – Ela morreu faz dois  anos. Era fã de One Direction e tudo. Esse ano ela iria fazer quinze  anos e... Acho que você iria gostar dela. – Falou, com um sorriso.

Eu não podia nem imaginar o tamanho da sua dor. Céus, o que seria de mim  se meu irmão se fosse? Eu morria aos poucos só de ele estar em outro  estado, imagina se ele tivesse realmente ido? Meus olhos marejaram quando pensei na possibilidade.

Devia ser algo horrível.

Mas Victor estava bem. Ele me olhava bem, seguro de si. Parecia estar  com saudades, isso é claro, mas não estava tão triste. Por algum motivo,  o fato de ela ter ido era um alivio para ele.
Imaginei que a causa da morte da garota a fizera sofrer ou que todos  sofreram junto com ela. E ele pode ter essa expressão por entender que Karina finalmente encontrara sua paz. Ele pode estar pensando que,  seja qual fosse à mensagem que ela deixou, o legado que ela passou, seu  dever estava cumprido.

E ele estava bem.

Claro que, o simples fato dele saber de cor as músicas de uma banda que  sua irmã gostava era prova de que sim, ele sentia falta dela.

  Seja como for, meu desejo era pensar como Victor. Não surtar. Lembrar só das coisas boas.

Sorri para ele.

- E essa? – Perguntei, apontando para uma sigla em seu ombro que era E.T.C. Victor ficou pálido.

- Essa não. Escolhe outra, por favor. – Pediu, abandonando meus cabelos.  Dei um muxoxo de desagrado, apontando para um T.N no seu tornozelo.

Ele sorriu.

- Terminei meu namoro. – Contou, suspirando. – E ainda bem, ela era um pé no saco.

  Dei risada, me virando de frente para ele.

- Coitada, o que ela tinha de tão ruim?

Ele demorou um pouco para responder.

- Ela não era você.

Levei um susto, levando minha cabeça um pouco para trás. O que ele quis dizer com isso? Tive o prazer de ver Victor corando.

  Victor estava envergonhado.

- Quer dizer, ela não era... hm... Ah, você entendeu! – Resmungou, se virando de lado para mim.

  Cheguei mais perto dele, apertando suas bochechas.

- Fofo.

Victor revirou os olhos, rindo.

- Cale a boca, Júlia.

***

notas: dois fofuxoss

o que vocês acham que a E.T.C significa,

Burn with you - Neagle FanfictionOnde histórias criam vida. Descubra agora