Capítulo 6

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ALICIA

Londres

Mansão Taylor

A viagem tinha sido extremamente cansativa, havia feito um percurso de cinco dias em três, parando apenas para trocar de cavalos e nos alimentarmos, assim como os animais.

Desci rapidamente da carruagem, batendo a porta de minha antiga casa. Depois de um tempo, um mordomo me atendeu.

— Gostaria de falar com o seu senhor. — falei brevemente.

— E quem gostaria de falar com ele? Como devo anunciá-la? — perguntou meio lento.

— Diga que é Lady Spencer, Duquesa de Richmond. — Lhe informei, porém, para mim, saiu como se estivesse contando uma mentira.

O homem decidiu pôr fim olhar a carruagem parada e viu o brasão estampado em sua lateral.

— Por aqui, senhora. — Ele abriu as portas com cuidado assim permitindo a minha passagem. Fui levada a sala de visitas e o mordomo me deixou sozinha por um tempo. Muita coisa havia mudado por aqui. Me sentei enquanto aguardava meu irmão.

— Alicia? — perguntou incrédulo.

— Oi, Tony — me levantei de meu lugar já correndo para abraçá-lo e ele fez o mesmo.

— Céus! Você está tão linda! — me deu um beijo na testa.

— Eu senti muito a sua falta, meu irmão... — senti o peso sair de meus ombros e as lagrimas saindo, mas não de tristeza e sim de alegria por estar perto de minha família novamente.

— Eu também senti sua falta, Ali! — ele me abraçou mais uma vez. Naquele momento percebi que tinha sido covarde todos esses anos, tinha me escondido para fugir do fato de que tudo aquilo havia acontecido e abandonei minha família aqui. — Se não fosse por nosso pai, eu teria ido buscar você. — Sorri para ele diante disso.

— Eu sei que teria, lhe conheço melhor que ninguém.

— Você deve estar cansada da viagem. — Ele me puxou para que saíssemos da sala.

— Sim, e muito. — Sorri ao estar em casa.

— Então venha, seu quarto ainda está do jeito que deixou. — Subimos as escadas e passamos por alguns corredores até pararmos em frente a porta de meu antigo quarto. — Nossa mãe fez questão de manter ele limpo e igual.

— Isso você nunca mencionou em suas cartas para mim. E como ela está? — Perguntei preocupada. Afinal mal cheguei e só tive tempo de ir para o enterro de papai, e mamãe não parecia bem naquele momento, somente me abraçou e disse estar feliz por estar ali naquele momento.

— Não precisa se preocupar com isso agora. Você está tremendo, descanse e amanhã prometo que nos reuniremos e conversamos. — Acho que ele percebeu meu cansaço evidente.

— Mas preciso, está na hora de eu começar a encarar as coisas que me cercam. — disse com firmeza e realmente era necessário eu começar a encarar tudo de cabeça erguida, já estava na hora de mudar algumas coisas que faltam resolver em minha vida.

— Compreendo... — ele me sorri com compaixão.

— Sei que sempre o fez, boa noite Tony. — Lhe dei um beijo no rosto e mais um abraço, como sentia falta disso.

— Até amanhã Ali, boa noite. — E se virou partindo para algum lugar me deixando sozinha.

Entrei em meu antigo quarto e nada estava fora do lugar, como meu irmão havia dito, tudo permanecia em seu devido lugar e intocado. Era como se eu tivesse saído para um simples passeio e retornado horas depois. Enfim eu estava em casa e me sentia em paz. Nunca considerei aquela fortaleza um lar, o castelo de Richmond era mais uma fortaleza e me sentia uma intrusa ali.

Depois de vários dias sem dormir devido à viagem, eu simplesmente me deitei em minha cama e logo adormeci. Quando acordei percebi que tinha dormido a melhor noite de sono dos últimos dez anos em minha vida.



Quando cheguei a sala de refeições meu irmão Antony e minha irmã Emily já estavam se servindo. Ele lia o jornal tranquilamente e ela comia.


— Bom dia! — disse. E ambos me olharam rapidamente.

— Ali! Que bom lhe ver aqui! — minha irmã sorri e me abraça.

— Também senti sua falta, pequena! — lhe dei um abraço carinhoso.

— Quase não lhe reconheci, você estava tão elegante e bonita. — Me elogiou — Os anos longe lhe fizeram muito bem, espero que seja assim comigo também como foram com você. — Sempre tão direta. — Achei que iria para a casa de seu marido? — Perguntou-me curiosa.

Nos sentamos a mesa tendo uma conversa breve do porquê não nos encontramos em casa assim que cheguei e disse ser porque estava sozinha pensando em nosso pai e cheguei tarde da noite, mas ela e mamãe já estavam dormindo, mas a verdade e que me escondi de meu marido, mas ninguém precisava saber disso. Conversamos mais um pouco de como foram esses anos para nós três. Assim que terminamos, saímos para o cemitério de Kensal Green* em Kensington. A cerimônia era simples, só a família e alguns amigos íntimos no local. Mamãe mal falava, conversamos um pouco e ela me abraçou muito e ambas choramos.

Estava abraçada com ela e Emily que chorava em meus braços quando escutei meu irmão sussurrar.

— O que ele está fazendo aqui? — sua voz era como se estivesse com raiva.

Olhei confusa para ele e com sua atitude um pouco agressiva e curiosa decidir olhar para onde ele estava olhando com cara de poucos amigos. De longe vi duas pessoas nos observando em pé. Demorei um pouco para reconhecer sua silhueta familiar, mas o reconheceria em qualquer lugar, tinha que admitir que apesar de tantos anos ele continuava bonito. Os anos tinham sido bons com Lucien, seus olhos continuavam tão verdes quanto me lembrava e os cabelos dourados haviam ficado mais escuros, seu corpo tinha ganhado mais músculos e sua arrogância continuava a mesma. Percebi que tinha descido o olhar para a minha mão esquerda e de repente se tornou muito pesado o anel que havia ali, nunca entendi o porquê, mas sempre gostei muito da joia.

— Não fique nervosa Ali, está tremendo! — meu irmão disse preocupado.

— Não se preocupe — sorri de volta tentando acalmá-lo — Só foi a surpresa de vê-lo aqui.

Para o meu alívio a cerimônia foi encerrada e todos partimos o mais rápido dali eu principalmente.

Eu tinha consciência de que não poderia me esconder para sempre ou evitar o Duque. Mas ainda não estava preparada para encará-lo frente a frente, e se me pedisse para voltar ao castelo, não poderia fazer nada. Ele era meu marido tinha direitos sobre mim, mas uma coisa eu tinha certeza eu não o deixaria me dominar e muito menos me intimidar. Seria uma pedra em seu encalço dessa vez. Não era assim que meu adorado marido me via, então nada mais justo que fazer o meu papel.

Mas por enquanto precisava organizar as coisas e manter uma distância segura entre nós dois. Tenho que colocar as coisas importantes, primeiro como cuidar de Emily e ajudar mamãe. Depois me resolveria com ele ou pelo menos encará-lo de frente.

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