Capítulo 10

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ETHAN

Abro a porta e a primeira coisa que noto é o silêncio naquela casa.

Eu entro, mas tendo a noção de que só estava fazendo aquilo por pura irritante insistência da minha mãe. Pensando nela, é a única que eventualmente estaria na casa àquele horário, já que os outros estavam no trabalho ou na faculdade.

Vou em todos os cômodos da casa à sua procura, mas só a encontro quando vou para os fundos da casa, a vendo deitada na espreguiçadeira, a cabeça pendendo para o lado e os olhos fechados. Me aproximo mas não o suficiente para ela não notar a minha presença, já que seus olhos abriram no mesmo instante.

Os olhos arregalados tristes e o semblante preocupado denunciava a minha falta de consideração por ela e a imprudência que tanto pontuavam em mim.

Ela abriu os braços e me abraçou como se não me visse há muito tempo. Como se fôssemos parentes distantes e casualmente eu estivesse fazendo uma visita. Mas em qualquer ocasião que fosse, a sensação acolhedora nunca mudava.

- Onde você estava? -ela perguntou, o rosto afundado no meu peito.

Eu acariciei seus cabelos, como uma forma de acalmá-la.

- Eu estava bem. É só o que precisa saber.

Minha mãe ergueu a cabeça e revirou os olhos para mim, claramente impaciente.

- Por que criei uma criança tão difícil?!

Eu sorrio, tirando alguns fios que estavam grudados em seu rosto por conta das lágrimas.

- Não é você quem diz que uma personalidade forte se faz de exemplos difíceis?

- É verdade. -ela sorri, correndo os olhos por mim. - Está com o cabelo molhado... estava com alguém?

- Não. -tiro seus braços que estão em volta de mim. -Eu estava na minha casa.

O olhar de ironia dela me faz rir.

- Sabe muito bem que essa é a sua casa.

- Não segundo meu pai.

- Ah, seu pai não sabe de nada. Aqui é e sempre foi a sua casa. Você viveu e cresceu aqui por todos os seus anos de vida. Não me venha com essa agora de que "estava na sua casa".

- Você é uma comédia, Dona Charlotte. -não hesito em beijar sua testa e lhe abraçar por cima de seus ombros. - Vamos dar uma volta? Consigo ver a fumaça saindo pelas suas orelhas.

Ela se afasta, me encarando com os olhos arregalados.

- Nem morta! Do jeito que você dirige nem pensar!

- Qual é, você vai gostar. -tento, mas sei o quanto minha mãe é resistente.

- Só se eu dirigir. -ela propõe, me apontando o dedo.

Dou de ombros, pegando a chave do carro.

***

- Quer me contar o que aconteceu?

Deitado na grama do parque perguntei a minha mãe o que tanto a aborrecia, já que desde que a vi sabia que algo havia acontecido. E, talvez, eu já soubesse a resposta.

Ela suspirou antes de falar. Tão profundamente, que tive certeza de que ela estaria relembrando o momento.

- O de sempre, você sabe: seu pai irritado com tudo e com todos.

Dou uma risada amarga.

- Acho que isso se encaixa a mim, especificamente.

Ela sorriu, descansando a cabeça na grama como eu. Fitou as nuvens, como se esperasse que elas lhe dessem as respostas para as suas perguntas.

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