Capítulo 16

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MIA

—  "Eu volto logo, amor". Me diz que não ficou encantada com essa merda. — Cléo se joga na cadeira ao lado, abaixando a cabeça em frustração.

Mordo o lábio para não sorrir. Cléo ainda não sabe que Ethan invadiu minha casa, e se já não se conformou com ele me chamando de amor, imagine se soubesse do resto...

— Vai se decepcionar quando ver quantas mais ele chama de "amor". —  ela continua, mexendo nos pacotes em cima da mesa. — É tudo de comer?

— Eu acho que sim.

— Oh, beleza. Vem com a mamãe, vem...

Ela pega cada coisa de um saco e amontoa em sua frente. Enfia um salgado na boca e continua a vasculhar os outros pacotes.

— Então, me diga: qual a probabilidade do Diogo estar a sete palmos do chão agora?

— É alta. Muito alta.

— Ethan pode ser meio assustador, às vezes. Mas na maioria, ele não é assim.

— Então não devo me preocupar. —  recosto as costas na cadeira, ajeitando a camisa que não cobre a metade das minhas coxas.

— Você não deve se apaixonar por ele, bonita.

Eu sorrio, erguendo uma sobrancelha.

— Por que acha que vou me apaixonar por ele?

Cléo revira os olhos, me olhando com uma cara de "fala sério?!"

— Tá brincando? Eu vi como gozou quando ele te chamou de amor. Só isso já é o suficiente.

— Tem como se apaixonar só com isso?

Ela sorri, irônica.

— Ah, tem. Com certeza. Eu sei, já fui assim. — Cléo enfia outro salgado na boca, assentindo para ela mesma em aprovação.

Eu suspiro. Não queria falar que me senti afetada por ele. A maioria das garotas se sente. Ethan tinha um jeito só dele. Um jeito capaz de te confundir, de te fazer imaginar coisas que jamais aconteceriam. Mas no final das contas, tudo não passava de ilusão, e Ethan era muito bom com isso.

Eu mordo o lábio. Pensando, de repente, como contaria para a minha mãe que fui atacada na festa de ontem a noite. Ela não saberia lidar com isso, e sinceramente, nem eu mesma estou sabendo como.

— Como vou contar isso para a minha mãe? — o pensamento sai automaticamente. Eu realmente não sei o que fazer.

Cléo já não mastiga mais. Os olhos fixos em mim denunciam preocupação. Ela se aproxima sem muita cerimônia, agachando na minha frente.

— Ei, nós vamos dar um jeito. Bolamos alguma coisa e tudo vai se resolver. Confia em nós?

Eu sorrio para ela, assentindo com a cabeça.

— Claro.

Cléo pisca, se levantando abruptamente.

— Ótimo.

A porta abre de repente. Ethan passa por ela, o semblante fechado mas não diz nada. Joga as chaves na mesa e caminha até a cozinha. Escuto o som da água cair com a torneira aberta e ele voltar segundos depois, secando as mãos com um pano.

Arremessa até uma cadeira mais próxima e se senta na mesma, pegando um folhado no saquinho.

— Tudo bem? — Cléo pergunta, depois de alguns segundos.

Ele apenas assente.

— Com quem foi se encontrar? — ela pergunta novamente, desta vez, prendendo a atenção dele. Ethan pára o salgado no meio do caminho e ergue os olhos para Cléo, que levanta as mãos na altura dos ombros em um silencioso "foi mal".

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