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Gerard era invisível. Não tinha amigos, namorada ou cachorro, seu único animal de estimação foi um peixe no sexto ano. Morreu em duas semanas e ele aprendeu um pouco sobre a morte e a inutilização do ser. Ia para a escola todos os dias e as únicas pessoas com quem falava eram professores. Não se importava, pois andava por todas aquelas pessoas, sempre puxando o cabelo para trás no nervosismo de tantas palavras passando por sua cabeça. Gerard era considerado estranho, por seu estilo e jeito de ser. Jeito de ser, por ser quieto, e seu estilo realmente não era comum. Ele gostava de usar roupas antigas, não no estilo anos 90, mas sim anos 50. Boinas e casacos que os avós usavam na segunda guerra.

Pelo menos na vida real, diferentemente de sua vida na internet. Ele tinha leitores, fãs. E um amigo chamado Ray, que nunca falou com ele, mas o mandava alguns links.

Gerard Way era solitário, infelizmente, pois sua cabeça era cheia de ideias para compartilhar. Por isso escrevia em seu blog, publicava textos filosóficos e românticos. Way era gay, ficou claro após se apaixonar pelo cara mais popular e babaca da escola. Nunca falou uma palavra sobre essa paixonite passageira. Depois disso nunca mais se imaginou com alguém, pois ninguém mais foi especial para ele. Grande assunto para seus poemas tristes.

Seu dia preferido era domingo. Talvez pelo nome soar tão belo. Acordava nas manhãs de domingo e sentava no sofá felpudo. Os pais nunca estavam em casa. A mãe em Paris, provavelmente pintando homens franceses, e o pai na firma. Tomava café na xicara amarela, aquela com a mancha preta no fundo. Ganhou de Ray, enviada por correio. O caderno e a caneta ficavam na gaveta da sala, e escrevia. Mas aquele domingo foi diferente. O celular interrompeu sua escrita. Achou estranho pois as únicas notificações eram de Ray mandando algum texto ou do tumblr. Seu tumblr era seu pequeno segredo. Nenhuma palavra a mais sobre isso.

Domingo, 12:22 AM.

Anônimo: Gerard?

Gerard: oi?

Anônimo: é você?

Gerard: estamos fazendo muitas perguntas

Gerard desligou o celular e continuou a escrever, porém continuava a pensar nas estranhas mensagens. Deixou de lado e procurou inspirar-se.  Foi até a varanda e acendeu um cigarro. Maldita mania destrutiva. Só faltava estar chovendo para o clima estar perfeito. A luz fraca, nenhum carro passando, uma abelha na flor, e uma música punk tocando em algum lugar. Imaginou se pouco longe havia adolescentes usando calças apertadas e tomando cerveja, que devia cheirar forte. Gerard amava detalhes, pois é deles que fazem os momentos perfeitos.

A curiosidade matou o gato. Ele queria saber quem era a pessoa que mandava aquelas mensagens. Podia ser um psicopata, um pedofilo, uma menina apaixonada, um atendente de operadora dizendo que havia ganhado um prêmio e até mesmo uma pessoa famosa.

Anônimo: vou ser sincero, não se assuste, ok?

Essas palavras o assustaram. Esperava o pior.

Anônimo: eu gosto de você, gosto do seu sorriso torto quando desenha algo bonito, o jeito que arruma o cabelo atrás da orelha com os dedos gordinhos, a sua bondade em deixar o último sanduíche da lanchonete para aquele menino que espirrava demais, o seu jeito de escrever e os sentimentos que põem no papel
Anônimo: eu precisava dizer para você
Anônimo: aliás, meu nome é frank ;)

Naquele momento, no coração daquele poeta, foi tatuado o nome FRANK em seu coração, com vários coraçõeszinhos em volta.
Gerard Way se apaixonou. E era a pior coisa que poderia ter lhe acontecido naquele momento.

Não respondeu.

words • frerard textingOnde histórias criam vida. Descubra agora