O começo do fim

658 26 5
                                    

São Petersburgo — Rússia — 1917

O palácio de Peterhof – (23:30hrs)

O baile está lindo e iluminado! Meu irmão Alexey, o caçula, está cumprimentando os convidados. Essa festa está sendo dada a ele pois ele será o herdeiro do trono da Rússia, no lugar de papai.

Começo a dançar e rodopiar loucamente com minhas irmãs Olga, Tatiana e Maria. Meu pai também está dançando conosco, ele me pega no colo e me gira, me fazendo ficar tonta.

Sou colocada no chão e por isso não consigo evitar de gargalhar, por ver que ele não me aguentou nem por cinco segundos em seus braços. Nós damos a palma das mãos e começamos a dançar a música animada tocada pelos violinos, olho para seu rosto e vejo meu pai sorrindo tanto quanto eu, é tão bom vê-lo assim! Já que é raro ver meu pai sorrir.

— Hahaha desculpe minha filha, estava esquecendo que você não tem mais nove anos de idade. — Juntamos nossos peitos e dançamos calmamente.

— Tem razão pai! E por isso agora as brincadeiras e conversas tendem a ser diferentes. — Ele me abre um sorriso amarelo.

— De fato! Então se me permite gostaria de perguntar qual desses rapazes elegantes você gostaria de dançar essa noite!? — reviro os olhos.

— No momento só o senhor. Porém o tipo de conversa que eu queria ter é diferente. É sobre liberdade... — Ele solta minha mão.

— Podemos falar sobre isso mais tarde? Já estou me sentindo exausto. — Eu assinto, ele sai e deixa de sorrir, e é por isso que eu gosto de vê-lo sorrindo! Por ser sempre rápido e raro. Tenho a impressão de que meu pai não quer me ver criando asas, de que ele ainda me veja como um bebê.

— Querida! — uma voz familiar parece me chamar do fundo do salão. Só uma pessoa me chama assim... vovó. Olho para trás vendo minha avó entrar no grande salão, acompanhada de vários guardas a sua volta. Abandono o salão enquanto ando rapidamente em sua direção, louca para abraçá-la.

— Vovó! — a abraço forte despejando todo meu amor nela.

— Oh Anastasia querida. — Ela diz me abraçando ainda mais forte.

Minha vó se chama Maria Feodorovna, mãe de meu pai, Nicolau II, rei da Rússia Imperial. Meu avô, Alexandre III, morreu a alguns anos atrás, eu infelizmente não consegui conhecê-lo, mas sei que ele devia ser um bom homem. Minha avó então é viúva, de todas as minhas irmãs eu sou a mais próxima dela, nos amamos muito e guardamos muitos segredos, ela é minha confidente.

— Vó eu fiz isso para a senhora. — Digo tirando um papel de meu bolso e dando a ela, quando ela vê ela sorri. Eu pintei um pequeno quadro que retrata um ramo de flores, petúnias, as preferidas dela.

— Nossa que maravilha! Você pinta muito bem, querida. Obrigada — ela continua a olhar para o quadro, está analisando cada traço de meu desenho. — Anastásia, chegue mais perto... Eu também tenho um presente para você. — Murmura se sentando no trono que dá a visão de todo o baile. Eu chego mais perto, e em seguida ela tira do bolso o que parece ser uma caixinha de joias.

— Uma caixinha? É a nossa caixinha de joias? — logo reconheço, isso com certeza deve ser a misteriosa caixinha que vovó tanto me falava. Ela é pequena, arredondada e com detalhes em ouro. Vovó em seguida me dá um colar com um formato de flor, um lírio cravejado com um rubi no centro, e esmeraldas nas laterais em formato de pétalas. Eu leio atrás de suas pedras em brilhantes... onde está escrito "juntas em Paris". Suspiro sem acreditar...

— Paris?

— Sim Anastásia, nós duas! Daqui alguns dias estaremos juntinhas em Paris. Vamos nos divertir muito! E eu te mostrarei toda a beleza de lá. — Ela me dá a caixinha na mão e fala para eu abri-la. Eu não vejo nenhum botão, apenas uma entrada de chave em sua frente.

Quando olho para o colar, e em seguida para a caixinha... vejo que estou com a chave dela bem em minhas mãos. Eu encaixo o colar na entrada da fechadura, fazendo a caixinha se abrir e tocar uma melodia familiar.

— É... nossa canção de ninar —, e a música da primeira valsa de meus pais.

Um imperador e uma imperatriz começam a girar no interior da caixa, é uma miniatura de minha mãe e meu pai dançando. Começo a cantar a música da melodia, minha vó começa a me rodopiar e a cantarolar a mesma canção.

— ... você vai vir pra mim, foi no mês de dezembro...— finalizamos a canção. Quando a caixinha se fecha e a música acaba eu volto a abraçar minha avó.

— Eu adorei o presente vovó! Muito obrigada. — A solto lhe mandando meu sorriso mais sincero, ela sorri de volta e alisa sua mão em meu rosto. Me perco em seus olhos verdes. Eu amo muito minha vó! Muito! É a única que me entende, depois do...
De repente ouço gritarias ao meu redor. Olho para o lado vejo Dimitry correndo pelo salão de festas assustando minhas irmãs e os convidados, em seguida vejo empregados e guardas tentando pegá-lo para levá-lo de volta para a cozinha. Bem, falando nele...

Ele passa por debaixo da mesa de banquete e corre pelo outro lado dela, despistando os guardas, não adianta pois um deles consegue o encurralar antes que ele possa escapar.

Eu caio na gargalhada.

Ele desvia e corre para o outro lado, chamando a atenção do meu pai de alto do pedestal, que por incrível que pareça acha graça da situação.

Depois de um tempo conseguem o pegar, Maksim, o cozinheiro e também pai dele o leva para o corredor da cozinha e dá um belo de um tapa em sua cabeça.

— Oh! Éh.... com licença vovó, eu preciso ver uma coisa. — Ela assenti, eu logo corro em direção a cozinha, passo por vários empregados e olho em volta procurando por Dimitry. No começo chegou a ser engraçado, mas sei que agora a situação ficará séria para ele.

— Majestade você não pode... — Maksim grita tentando me impedir de entrar, realmente eu não deveria estar aqui, meu pai disse que eu não posso me misturar com os empregados. Eu sei que estou indo contra as regras de meu pai, mas acho isso definitivamente um cúmulo.

Quando vou mais para o fundo da cozinha vejo ele sentado no canto da parede, cabisbaixo.

— O que aconteceu? — pergunto me ajoelhando a sua frente.

— Nada... — ele limpa seu rosto encharcado de lágrimas.

— Você sabe que pode confiar em mim... — digo colocando a mão em seu ombro.

— É que... eu como sou curioso quis ver como é uma festa no castelo, mas só dei trabalho! O cozinheiro chefe obrigou meu pai a trabalhar até tarde na cozinha, e por minha culpa. — Choraminga. Meu coração se parte ao ver Dimitry desse jeito, ele dificilmente se deixa abalar, está sempre sorrindo...

— Olha, esqueça isso! Seu pai não está bravo com você, todo mundo faz besteiras, isto é normal.

— É claro que está bravo Anastásia! Não é a primeira vez que isso acontece! E tudo isso só porque eu quis ver a bendita festa. — Esbraveja com a voz trêmula. O que me pesa ainda mais o coração. Por extinto acabo deslizando com minha mão em seu rosto.

— Não chore Dimitry... você fica tão mais lindo sorrindo... — as palavras escapam de minha boca, eu jamais falaria uma coisa dessas, me sentiria envergonhada. Mas por algum motivo eu me senti bem em dizer isso a ele.

Ele prega seus olhos castanhos sobre mim, e sorri. Inclino minha cabeça fitando sua boca...

— Agora sim... — sussurro. Ele subitamente se ajoelha e me abraça, deito-me em seu ombro sentindo seu perfume doce. Eu gosto de momentos assim com ele, me sinto tão bem quando estamos juntos.

Mas isso não muda nada! Ele ainda não pode entrar lá! A não ser que...

— Eu tive uma ideia! E se você se vestir como um duque e entrar na festa? — ele me afasta com o semblante surpreso.

— Quê? Não! A gente pode acabar se dando mal! Além disso eu não sei onde arranjar roupas assim.

— Deixa disso! É só eu pegar as roupas do meu pai.

— Do seu pai? O imperador? Hahahahaha, você só pode estar louca! — gargalha, Dimitry pensa que não eu sei..., mas ele está louquinho para aprontar uma dessas.

— Cale-se! Vem logo. — Me levanto rapidamente e o pego pelo pulso, o puxando pelo corredor.

[...]

Duquesa Anastásia - Era Uma Vez Em DezembroOnde histórias criam vida. Descubra agora