Anamélia sempre quis fugir.
Em noites frias, enquanto se perdia nas suas leituras fantasiosas, o desejo de abandonar o mundo chato a cativava. Reinos maravilhosos e terras mágicas a fascinavam demais, e desde criança, ao ouvir o pai narrando sobre princesas e príncipes, sonhava em um dia encontrar um portal e escapar. Com a morte dos pais, naquele inverno sombrio, fechou-se em um mundo ainda infantil, sendo acolhida por elfos e fadas, desejando rever aqueles que nunca mais veria vivos.
Ela cresceu. Sim, pois toda criança cresce.
Contudo, Anamélia ainda queria fugir.
Nas noites no orfanato, quando o zelador a visitava e brincava aqueles jogos que ninguém mais deveria saber que fazia, a vontade de fugir era enorme. Nunca se divertia, embora os doces recebidos no final fossem bons. E as outras meninas não eram gentis, caçoando de seus olhos de duas cores ou de seu gosto por livros de fantasia.
Ao ser adotada, também quis fugir.
Não que a família que a tratava tão bem fosse o motivo, mas aquele desejo era crescente demais. Fazia parte de sua alma o anseio pela escapatória.
Um dia, é certo, Anamélia fugiu. Para sempre.
Era uma noite tão fria que os sonhos se congelavam no ar, o menor suspiro de amor se cristalizava e as lágrimas se tornavam gotículas de diamante. A neve cobria as ruas e as almas, embora aquelas mais felizes fossem bem capazes de se manterem aquecidas.
Ninguém viu a garota, uma jovem tão linda, partir.
Anamélia conseguiu.
Finalmente fugiu.