Menino de palavra

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— Hoseok, é bom você voltar aqui agora ou eu vou te dar uns catiripapos! — A voz brava de Hyungwon fez as pernas gordinhas do pequeno Hoseok pararem a corrida desengonçada pela casa e estancarem no lugar, ao que o garotinho se encolhia no corredor, arregalava os olhos e encarava o outro pai, que saía de um dos quartos com as sobrancelhas arqueadas. Changkyun riu da carinha assustada alheia e se agachou ao lado do filho, alisando os fios pretinhos do menor com carinho enquanto o fitava, curioso.

— Papai, o papai Wonnie tá brabo com Seokkie! — Hoseok sussurrou, os olhos ainda como duas bolas de gude grandes, arregalados pelo pavor de tomar umas palmadas no bumbum.

— E o que o Seokkie fez pra deixar o papai Wonnie tão brabo? — Changkyun sabia que o marido era o homem mais pacífico e tranquilo que existia; era mais fácil o próprio Im elevar a voz com Hoseok do que Hyungwon chegar a tanto. Então ele também estava bem ciente de que o filho provavelmente aprontara alguma para tirar o mais velho do sério daquela maneira.

Hoseok brincou com os dedos na barra do pijama de coelhinhos, um bico amuado nos lábios, o corpinho gorducho se balançando de um lado para o outro. Changkyun conhecia muito bem o filho: Hoseok sabia que tinha feito coisa errada.

— Papai Wonnie falou pro Seokkie ir tomar bainho mas o Seokkie disse que não ia. — a voz baixinha e cheia de manha entregava toda a culpa que o menor sabia carregar e Changkyun segurou uma risada; não podia perder a autoridade ali.

— E o papai Wonnie falou isso quantas vezes?

O pequeno franziu a testa e começou a resmungar, movendo os dedinhos enquanto tentava usá-los para contar, mas a matemática da coisa parecia difícil demais para uma criança de 5 anos. Ele então encarou o pai, encolheu os ombros e balançou a cabeça, em um sinal claro de que não sabia números o suficiente para responder aquela pergunta.

— Hoseok, quantas vezes a gente já te disse que você precisa obedecer os papais? Como você quer ir adotar um bichinho hoje se você estiver fedidinho e todo desarrumado? Nenhum bichinho vai te escolher assim...

— Ah não, papai! Eu quero tanto um bichinho! — Hoseok abraçou o próprio corpinho gorducho como se abraçasse o animalzinho e os olhinhos grandes se encheram de lágrimas, ao que Changkyun sentia tudo dentro de si derreter feito manteiga diante da fofura do filho.

— Então você precisa ir lá, pedir desculpas pro papai Wonnie por ter desobedecido ele e ir tomar seu banho direitinho, feito o rapazinho crescido que eu sei que você é!

E como se estivesse só esperando seu nome ser citado para aparecer, Hyungwon surgiu no corredor, a toalha de Hoseok pendurada no ombro e a expressão impassível, ainda que Changkyun fosse capaz de ler o divertimento nos olhos do marido.

Sempre tão bonito.

Hoseok correu até ele, abraçando as longas pernas do pai e o encarando, nos lábios um bico chateado e os olhinhos brilhando arrependidos, a perfeita cópia do gatinho do Shrek. Hyungwon esperou, tentando não sorrir.

— Papai, desculpa o Seokkie por não ter ido tomar bainho quando o papai mandou. Eu prometo de dedinho não fazer isso de novo!

Hyungwon se agachou na frente do filho e correu os dedos longos pelas madeixas macias do pequeno, sorrindo ao esticar o dedo mínimo.

— Promessa de mindinho é coisa séria, viu? — A voz de Hyungwon já havia voltado à suavidade de sempre, porque era daquela maneira que ele falava com todos, principalmente com a família: baixinho, suave e cheio de ternura e meiguice. Ouvir Hyungwon falando era quase como ganhar um carinho.

— Eu sei, papai. Eu prometo! — Os dois entrelaçaram os mindinhos e Changkyun quase morreu de amores quando Hoseok agarrou o pescoço do pai e ganhou vários beijinhos no rosto, a risada gostosa de criança tomando conta do ambiente.

O menino se desgrudou de Hyungwon e pegou a toalha no ombro do maior antes de correr para o banheiro, rindo e cantarolando.

— Lava esse bumbum direito! — Changkyun gritou para que o filho ouvisse e se aproximou do marido que, agora de pé, rapidamente envolveu sua cintura com os braços e afundou o rosto em seu pescoço. — Você é um pai incrível, Chae Hyungwon, não se martirize por ter levantado a voz pra ele. — Sussurrou o mais novo, delicadamente brincando com os dedos nos fios acinzentados e macios do maior.

— Mas eu odeio brigar com ele, amor, dói meu coração de um jeito horrível. — Hyungwon resmungou contra a pele do menor, acabando por rir quando Changkyun se contorceu pelas cócegas e o beliscou na barriga.

— Às vezes é necessário, meu dengo. Ele precisa aprender muita coisa ainda e nem sempre é de primeira. Tem horas que nós vamos precisar ser um bocadinho mais duros com ele, tudo dentro dos limites. — Changkyun era mestre em colocar Hyungwon de volta aos eixos, sempre com as palavras certas, o carinho ideal e os apelidos mais meigos. Praticamente 15 anos de casamento e a doçura entre os dois continuava palpável.

Hyungwon respirou mais calmo, deixando, como forma de agradecimento, uma trilha de selares molhados e suaves ao longo do pescoço branquinho e cheiroso do Im, que se encolheu sob o toque, mas não recuou; pelo contrário, tombando a cabeça para o lado, Changkyun permitiu que os beijos do mais velho continuassem a causar pequenas descargas elétricas em forma de arrepios por seu corpo. Os dedos do menor rapidamente se embolaram no cabelo do Chae, que reagiu puxando o marido para mais perto antes de colocá-lo contra a parede mais próxima.

As bocas logo se encontraram em um misto de saudade, vontade e um leve desespero de quem não conseguia ter aquele tipo de contato com frequência. Ter um filho pequeno em casa tem suas consequências, afinal. Mas eles sempre aproveitavam quando oportunidades como aquela surgiam. As mãos de Changkyun deslizaram pelas costas do mais velho por debaixo do moletom que ele usava, ao passo em que as de Hyungwon se revezavam entre puxarem os fios da nuca do menor e lhe apertarem a bunda com um pouco de força.

E tão rápido quanto começou, eles precisaram se separar.

— Papaaaaaaai!!!! Caiu espuma no meu olho!!!!

Hyungwon ainda roubou um selar dos lábios do marido antes de disparar em direção ao banheiro para acudir Hoseok, deixando um Changkyun risonho e meio aéreo para trás.



Ao fim do dia, Hoseok provou ser um menino de palavra quando foi tomar banho assim que Hyungwon pediu, mesmo com toda a vontade de brincar com o filhotinho de vira-lata que haviam levado do abrigo para casa. E agora os dois dormiam pesadamente na cama do pequeno, encolhidinhos juntinhos, serenos e pacíficos como se nem tivessem praticamente posto a casa abaixo com a bagunça que fizeram.

— Ele ficou tão feliz com esse cachorrinho que eu não consigo nem ficar desesperado com a bagunça que vai ser daqui pra frente.  — Changkyun comentou assim que fecharam a porta do quarto do filho e seguiram para o próprio. Hyungwon riu baixinho, concordando silenciosamente como marido por só conseguir se lembrar do sorriso enorme no rosto de Hoseok enquanto ele e floquinho (o cachorro de pelagem branca já tinha até nome) corriam pelo quintal.

Pelos céus, o que não faziam para ver Hoseok sorrindo.

Changkyun se aproveitou da calmaria da casa para abordar Hyungwon de fininho assim que se fecharam dentro do cômodo, se colando às costas do marido e depositando beijos molhados pelo pescoço alheio, as mãos não demorando nada em trabalharem para livrar o mais velho da camisa. Contornando a orelha do maior com a ponta da língua, o Im sorriu sob cada arrepio do corpo esguio do Chae.

— Vem terminar o que você começou mais cedo...

E parecia até que os deuses estavam jogando a favor de ambos naquela noite, porque eles rapidamente conseguiram se despir e se jogar na cama, quase certos de que iriam até o final daquela vez.

Só que a verdade era que nenhum dos dois nascera com a bunda virada para a lua.

— Papaaaaaaaai! Eu tive um pesadelo!!!

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⏰ Última atualização: Jan 11, 2019 ⏰

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