Capítulo 1 - Entre Grades

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Tudo que se podia ver era morte e destruição. Não havia uma vida sequer em meio àquele vilarejo em chamas, exceto pelo garoto que o observava atentamente entre as barras metálicas que compunham a grade da cela em que estava preso. Ele estava com medo, pois não sabia exatamente o que havia acontecido, apenas havia escutado o que seus sequestradores tinham dito antes dos mesmos também morrerem agonizando.

"Eles falaram de uma doença." Pensou o garoto enquanto abraçava as barras, chorando e gritando por ajuda. - Aqui! Alguém me ajuda! – Gritou agoniado, esperando por alguma resposta, mas sua voz sumiu entre as folhas das árvores que escondiam o vilarejo destruído.

"Ninguém além de mim pode te ajudar agora, garoto." Dizia uma voz sinistra e misteriosa que conversava com ele dentro de sua cabeça.

- Sai daqui! – O mesmo fechou seus olhos e os tapou com as mãos, estava com medo daquela voz que estava se comunicando com ele, a mesma era sombria e o aterrorizava.

"Como isso aconteceu em tão pouco tempo? O que foi que eu fiz!?" Os questionamentos não o deixavam, mas ele já estava acostumado a não obter respostas, normalmente as pessoas só lhe davam ordens de trabalho para que o mesmo levasse os minérios para fora da mina. Por conta dos afazeres do dia anterior, seu corpo estava muito cansado, mas ele sabia que não podia dar o luxo de adormecer. Fazer isso traria consequências terríveis a si mesmo.

Notando que seus bocejos eram cada vez mais frequentes, e que seus braços não paravam de tremer, o mesmo caminhou até o outro lado da cela, para que tentasse alcançar o corpo de um dos sequestradores, e assim, pegar seu manto que o aqueceria na madrugada, para que no mínimo não tivesse de passar frio.

Esticou o braço entre as grades e com as pontas dos dedos conseguiu puxar o manto feito de peles de veado. Ele se cobriu e ficou sentado com as costas apoiadas nas barras, olhando para as estrelas e tentando se manter acordado. "Se eu dormir aqueles sonhos vão voltar a me atormentar! Não posso deixar isso acontecer, tenho que encontrar alguma forma de sair daqui."

"Você sabe que posso te ajudar, Enos. Durma um pouco e eu prometo que irei te proteger..."

- Sai daqui! Está me atrapalhando, seu maldito! – Disse, sem perceber que deixara os pensamentos escaparem por sua boca. Então começou a sentir seus olhos queimarem, como se uma chama tivesse sido acesa por dentro de seu corpo.

"Catorze anos e não aprendeu ainda? Hahaha! Sou eu quem dou as ordens aqui."

Enos estava no chão da cela, com as mãos em seu rosto tentando de alguma forma minimizar a dor que sentia em sua cabeça e seus olhos, era como se um monstro estivesse ali dentro. Soltou um grito de misericórdia, e foi a última coisa que saiu de sua boca antes de ficar desacordado.

Enquanto estava adormecido, sonhos estranhos voltaram a assombrá-lo. O garoto se viu dentro do salão de um antigo castelo, onde uma batalha sangrenta acontecia, em que humanos e seres humanoides com características de dragão lutavam uns contra os outros. Destacava-se um homem que lutava para proteger sua amada, ele era ágil com a espada e sozinho criava uma defesa que ninguém conseguia ultrapassar. - Argh! Morram, seus malditos! – Gritou o homem, enquanto realizava um corte horizontal que decapitava uma das criaturas draconianas.

"Quem é ele?" Pensou o garoto enquanto observava a cena dentro de sua cabeça.

- Querida, para trás! – O homem disse em voz alta ao ver que sua amada se aproximava com uma espada na mão, na intenção de lutar. Por mais que se portasse como uma guerreira, a mesma estava grávida e seus movimentos estavam um pouco lentos. Mesmo escutando as palavras dele, a mulher sabia que se deixasse que ele lutasse sozinho, ambos iriam sair dali mortos, assim como os vários outros humanos que ali estavam. Então ela pegou seu arco e as flechas que estavam em sua aljava, iniciando uma série de disparos contra as criaturas.

ENOS - O Filho da Alvorada - O Despertar das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora