Enos interrompeu a leitura do conto ao notar que as próximas páginas estavam totalmente pretas, como se todo o frasco de tinta tivesse sido derrubado nelas. O mesmo folheou o restante do livro e viu que aquilo se repetia em todas até o fim, poucas letras podiam ser enxergadas entre os enormes borrões de tinta preta. "Mas que merda é essa?" Pensou revoltado por querer continuar lendo, mas percebeu que seria impossível. Ele estava entusiasmado por perceber que realmente existia alguém como ele; Rickard era alguém com quem ele conseguia se identificar, e queria saber mais sobre o mesmo.
"Droga! Não é possível! Precisa ter outro livro igual a esse por aqui." O garoto olhou para os lados e notou que Tursum não estava ali, então seu espírito vasculhador se mostrou. "Ah, o que custa dar uma olhadinha por aqui, não é?" Pensou, dando um breve sorriso sagaz.
O homem leão tinha dito que iria vigiar a floresta para tentar identificar o que havia começado todo aquele caos no vilarejo, podia parecer tolice, mas o mesmo tinha deixado Nakil na cabana. Ele tinha medo de que pudesse perder a espada entre as chamas mais uma vez, e dessa vez o menino não estaria lá para ajudar.
Livro atrás de livro passavam entre os dedos do garoto enquanto ele observava a estante, a mesa, em baixo da cama e até mesmo em um saco velho e empoeirado. Seus dedos encheram de poeira e nada mais, não havia sequer nenhum outro exemplar do conto "Alvorada Rubra" naquela cabana. Ele encontrou muitos livros aos quais o autor era Nakil, todos tinham envolvimento com música, roubo e magia. Só revelavam mais sobre a personalidade daquele ser que estava preso na espada. Enos sentia pena do mesmo, devia ser triste viver daquela forma.
"Talvez ele saiba de alguma coisa... qualquer coisa sobre Rickard..." O rapaz bateu uma mão na outra na intenção de tirar aquela poeira, então caminhou até a espada, que estava em cima da cama de Tursum. Ela era uma bonita arma, com todos aqueles riscos e uma lâmina muito bem afiada, Enos invejava aquele objeto e queria ter um igual para si. Não hesitou até empunhar a arma e olhar seu reflexo através da lâmina; por um momento ele jurou ter visto um sorriso que não era seu ali, acompanhado de dois olhos escuros e maliciosos.
"Vamos, não tenha medo, moleque! Hahahahaha!!! Não vai me dizer que seu poder se equipara a seu medo, vai!? Hahaha!" Nakil gargalhava dentro da cabeça do rapaz.
"Muito engraçado, Nakil, isso foi você!?" Respondeu o rapaz, querendo saber de quem era aquela face que tinha visto na lâmina da espada.
"Eu? Haha! Eu duvido... heh. Talvez seja sua outra consciência, não? Diga-me, como é ter três pensamentos ao mesmo tempo? Deve ser confuso não? Digo por mim, eu tinha uns dez."
"O que!? Dez?" Enos arregalou os olhos, deixando que seus sentimentos escapassem através de suas expressões faciais, ele estava surpreso por Nakil ter dito que o garoto tinha outra consciência, o que era verdade, o mesmo costumava ouvir vozes em sua cabeça as vezes.
"Hahaha! Claro que não! Mas eu sei como é isso. Eu também podia fazer coisas que as outras pessoas não entendiam. Não é atoa que até hoje eu sou o inteligente e Tursum o forte."
"Então... você tinha uma coisa que falava com você também?" Pensou o garoto.
"Bom, no início sim, mas depois eu já não ouvia mais sua voz. Você nunca foi treinado, não é? Consigo ver dentro de ti. Nem mesmo sabe o que é essa... coisa que fala contigo." Disse Nakil.
"Sempre tenho sonhos estranhos e ouço vozes falando diretamente comigo enquanto durmo, sinto medo quando vêm a hora de dormir, pois sei que é o momento em que essa outra mentalidade tanto aguarda para me amedrontar e me controlar. Nakil, o que é isso? As outras pessoas escutam também?" Perguntou o garoto em seus pensamentos.
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ENOS - O Filho da Alvorada - O Despertar das Sombras
FantasyTodos no vilarejo morreram e os outros que não estão lá desapareceram, tentaram sequestrá-lo mas não conseguiram, agora é o momento dele descobrir quem realmente é. Mas antes, para sobreviver, o garoto terá de encontrar uma forma de escapar com vida...