Capítulo 6 - Soturnia

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Algumas horas tinham se passado desde o momento em que Tursum havia saído para procurar mais informações a respeito do caos que matou tantas pessoas e queimou a floresta. O sol estava começando a descer de seu ponto mais alto, e Enos o observava através da janela, olhando para o reflexo da luz que deixava a água bem esverdeada.

O garoto estava segurando a espada com sua mão direita, passando o polegar esquerdo sobre as marcas que Tursum usava para contar as mortes que aquela arma já causou. No momento haviam vinte riscos, mas Enos não sabia o significado daquilo.

-Nakil, o que significam essas coisas? - Falou olhando para a espada, tentando se acostumar com a ideia de que existia alguém dentro daquele objeto.

"Sabe que não precisa falar para que eu te ouça, não é? Mas eu imagino que deva ser bem solitário e estranho apenas imaginar o que quer dizer. Enfim, Tursum gosta de contar quantas vidas já tirou usando a espada. Para que conte à seu irmão um dia."

-Mas por que? - Perguntou, sem lembrar de que podia simplesmente imaginar o que iria dizer.

"Quantos como Tursum você já viu em sua vida?" Disse Nakil.

-Na verdade, apenas ele. - Respondeu, ainda com dúvidas.

"Isso porque a espécie dele é de um continente muito longe do nosso, Doranthur. Ele fazia parte de um clã de homens felino, mas foi expulso de lá quando seu pai, o líder, foi assassinado. Tursum foi acusado pelo crime, já que a arma usada havia sido sua espada, mas na verdade, foi seu irmão, Kartak, quem fez isso."

-Por que Kartak fez isso!? - O garoto arregalou os olhos ao ouvir a história. Ele já tinha ouvido algumas lendas que contavam sobre as coisas estranhas que existem em Doranthur, como os boatos das pessoas que são misturas de homens com animais; a magia do lugar, mas nunca imaginou que existissem clãs, muito menos que "Rugido da Morte" fosse de lá.

"Na cultura do clã dele, quando o líder morre, os filhos precisam lutar pelo posto do pai, mas Tursum era mais forte, e com certeza venceria. A ambição de seu irmão pela liderança fez com que tramasse isso contra ele. Desde então Tursum jura vingar-se um dia, marcando na lâmina cada morte causada pela mesma espada que matou seu pai."

-Foi aí que vocês se conheceram? Quando ele veio para nosso continente? - Enos perguntou, estava fascinado para saber mais a respeito do felino e toda a ligação dele com Nakil, já que aqueles dois eram as únicas pessoas às quais ele podia confiar.

"Sim... não sei como ele veio parar aqui no continente de Horlag, e nem a quanto tempo chegou aqui. Mas fui a primeira pessoa a qual ele pôde ver como um aliado, pois, assim como ele, eu também estava sozinho. Sem família ou amigos. Acredite, sabemos o que é estar no seu lugar."

-Obrigado Nakil. Eu me sinto muito melhor estando aqui com vocês, e farei de tudo para ajudar vocês a encontrar a pessoa que pode quebrar o feitiço. E se puder, quero ajudar Tursum também.

"Eu sabia que você era um bom garoto, Enos. A pessoa que procuramos se chama Lokvir, ele é um sacerdote de Hatres, o Deus da sabedoria, do espírito e da determinação. E jurou a nós que reverteria meu feitiço se caso Tursum cumprisse com a palavra dele, e ele cumpriu."

-Então precisamos encontrar Lokvir, para que ele cumpra com o juramento. - Disse o garoto.

"Finalmente sairemos desse pântano! Hahaha! Mas que merda, Tursum está demorando. Será que ele encontrou alguma coisa que realmente causou isso?"

"Ele pode ter se perdido na floresta." Pensou o garoto.

"Tursum conhece essa floresta como ninguém, os próprios animais o ensinaram sobre tudo aqui. Se tem um motivo pelo qual ele ainda não chegou, com certeza não é esse. Sinto que meu amigo possa estar precisando de ajuda, maldito gato rabugento! Devia ter nos levado!"

ENOS - O Filho da Alvorada - O Despertar das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora