Capítulo 9 - A Dama dos Olhos Verdes

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Todos olharam para o garoto que cobria a cabeça com um capuz e que tinha em sua cintura o cinto que carregava uma espada longa, estavam prontos para matá-lo se fosse necessário, mas obedeceram às ordens de sua líder e mantiveram-se quietos e cautelosos.

Ela era alta e forte, com o cabelo loiro e trançado, raspado do lado direito da cabeça, suas mãos seriam capazes de arrebentar qualquer um dos homens presentes naquela taverna. Mas com toda certeza, algo que fazia com que sua presença causasse medo e respeito, era a arma que ela carregava em sua cintura. Um objeto simples, mas feito para causar um grande estrago, era uma maça estrela, um cabo de metal com uma bola cheia de espinhos na ponta. A arma mais agressiva e assustadora que Enos já havia visto em toda sua vida.

-Não é todo dia que uma criança visita o Rabo de Porco, essa taverna não é a mais indicada pra você, garoto. – Disse, enquanto tirava o capuz da cabeça dele, para poder ver o rosto do mesmo.

-Essas cicatrizes, esse cabelo... e esse olhar. Você não me é estranho, criança... diga-me, qual é o seu nome? – Falou calmamente, encarando o rapaz com aqueles olhos verdes que ela tinha.

-Eu me chamo Enos. – Respondeu, encarando de volta o olhar. Seus olhos estavam trêmulos, pois ele tinha certeza que aquela mulher não era uma pessoa como outra qualquer, ela possuía algo a mais, e aqueles olhos simpáticos dela tentavam esconder algum segredo.

-Você está perdido, Enos? – A mulher se ajoelhou com uma das pernas para ficar na altura dele.

-Não, vim até aqui procurar por ajuda, tenho um amigo que está em perigo. Mas não posso ajudá-lo sozinho, preciso de especialistas no assunto para me apoiarem. – Disse o garoto, com receio do que a mulher escondia por trás de sua simpatia.

-E qual é a especialidade que está procurando? – Ela sorriu

-Pessoas que possam resgatar alguém da prisão. – Respondeu Enos, ainda observando o rosto e principalmente o olhar da mulher. Algo dentro de si dizia que ela era uma pessoa a se confiar, sua personalidade trazia certa segurança pra ele.

Era um sentimento de nostalgia que o fazia se lembrar de algumas pessoas que já cuidaram dele no passado, numa época em que teve de contar com a ajuda de estranhos, pois eram a única família que ele tinha, depois de ter sido abandonado por seus verdadeiros pais.

-E quem te disse que seria aqui que você encontraria essas pessoas? – Sorriu com escárnio. Ela deu três passos em direção a uma cadeira que ali estava e a trouxe para a frente do garoto, então sentou-se, estava cansada de ficar ajoelhada, pois não se sentia bem naquela posição.

-Eu... descobri... – Tentou mentir, mas seu jeito de dizer aquilo deixava muito claro que ele estava escondendo a verdade dela.

"É sério isso? Até um animal notaria que você está mentindo, moleque!" Disse Nakil, não acreditando naquilo que o garoto havia dito para a mulher.

"Eu não sou bom com mentiras, Nakil! Nunca fui!" Respondeu Enos.

-Ahã... descobriu né? Um passarinho te contou? – Gargalhou em voz alta, e todos os homens naquela taverna fizeram o mesmo, a maioria deles estavam bêbados, assim como ela estava começando a ficar, mas sabiam que não podiam tirar a autoridade da mulher.

-Um amigo me contou! – Falou sem hesitar, e sentiu o suor frio descer pelo seu rosto.

-Quem é esse amigo? – Bateu com a caneca em sua coxa, deixando respingar cerveja no rosto do rapaz, que já estava começando a ficar intimidado.

"Não fala! Vão pensar que você é louco! Se disser que é a espada, vão querer pega-la, Enos!" A voz de Nakil veio como um relâmpago na cabeça do garoto, deixando ele mais tenso ainda.

"O que eu digo!? O que eu devo dizer, seu miserável!? Você que me trouxe até aqui!" Enos encarava os olhos verdes da mulher, balbuciando meias palavras e ficando encharcado de suor.

"Diga... é... fala que foi uma pessoa da cidade!" A resposta veio a tona.

-Foi uma pessoa da cidade! Um guarda! – Depois de balbuciar por cinco segundos, finalmente soltou uma resposta por sua boca, ele fechou os olhos e respirou aliviado.

-HAHAHAHA!!! – Toda a taverna riu em coletivo, e ele voltou a ficar com seus olhos arregalados.

-Você mente mal pra cacete, moleque! – A mulher terminou de beber a cerveja e então jogou a caneca na direção do taverneiro. -Coloca mais aí, Oliver! A sede ta me matando! Aproveita e traz um pouco de leite de cabra pra criança – Gritou, chamando a atenção do taverneiro.

-Eu não estou mentindo, acredite em mim. – Disse, sem mais saber como convencê-la.

-Sei, sei... faça-me um favor e cala a boca! – Ela apontou o dedo indicador para o rosto do garoto, e suas sobrancelhas ficaram baixas, começando a ter um brilho em seus olhos verdes.

-Pega uma cadeira e se senta. – Ela falou pausadamente.

"Essa era a melhor taverna que você conhecia mesmo, Nakil!?" Pensou consigo mesmo, apreensivo com a situação em que se encontrava.

"Todos esses mercenários são assim, só seja você mesmo, logo iremos tê-los ao nosso lado para salvar Tursum! Mas não conta sobre mim!" Disse Nakil.

"Se for pra ser eu mesmo, eu já teria contado!" Respondeu.

-Nós dois sabemos que está mentindo, então fale a verdade a partir de agora. – A mulher olhava diretamente nos olhos do garoto, e ele não conseguia deixar de encarar ela. Os olhos da mesma brilhavam como tochas na escuridão, era completamente hipnotizante.

"Garoto, ela tem olhos mágicos! Desvie o olhar!" O espírito da espada tentava alertar Enos, mas o rapaz não conseguia deixar de encarar os olhos encantadores da mulher.

-Como... como você sabe disso? – Perguntou. Ele não conseguia processar direito seus pensamentos, muito menos escutar tudo que Nakil estava falando pra ele.

-Digamos que meus olhos enxergam mais do que você imagina. – Ela sorriu, e o taverneiro se aproximou com as duas canecas, uma tinha cerveja e a outra o leite, com um ingrediente a mais.

-Você vai começar a me falar a verdade, não é? – Perguntou, entregando-lhe a caneca com o leite de cabra misturado com um ingrediente.

-Sim. O nome dele é Nakil. – Disse o garoto, aceitando a bebida.

-Nakil!? – A mulher disse boquiaberta, como se aquele nome significasse algo para ela. -Ele está lá fora te esperando, não é? – Perguntou.

-Não, ele está aqui comigo. – Respondeu o rapaz, ainda atento aos olhos da mesma.

-Eu não o vejo, Enos. – Ela observou cada canto da taverna atentamente, e não conseguiu encontrar ninguém que não fosse o taverneiro ou os mercenários de seu grupo.

-Ele não é uma pessoa como todos aqui, é essa espada. – Disse o garoto, pegando a bainha da espada e mostrando a mulher, que estava observando o objeto atentamente.

-Entendo... por que não toma um pouco do leite? – Ela falou com um sorriso amigável no rosto.

O garoto estava prestes a levar a bebida até sua boca quando de repente uma flecha acertou a caneca, fazendo com que todo o líquido fosse completamente derramado no chão. O som agudo do projétil veio acompanhado do barulho estridente da porta sendo aberta com um chute e o grito de um homem em fúria que segurava seu arco.

-Não, Esmeralda! – Disse o homem que havia acabado de chegar na taverna, ele estava com um olhar sério que encarava a mulher sem medo. O mesmo vestia um manto marrom com manchas esverdeadas e segurava em sua mão um arco longo de carvalho.

-Se fizer alguma coisa a ele eu atiro! – Gritou, enquanto preparava uma outra flecha, já colocando-a na mira da mulher. 

ENOS - O Filho da Alvorada - O Despertar das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora