Capítulo 3 - União e Confissão

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Árvores em chamas caíam uma após a outra enquanto o cavalo corria. Tursum estava usando seu dom de falar com os animais para indicar o caminho que parecesse mais seguro, para que pudesse salvar a vida do garoto que a pouco tempo havia desmaiado. O rapaz que nem mesmo se sabia o nome tinha marcas evidentes de trabalho pesado, com cicatrizes nos braços, sujeira no rosto, nos trapos e no seu cabelo vermelho.

Em meio ao galope, uma grande árvore despencou na frente do cavalo, causando grande impacto e espalhando fogo para todas as direções. Assustado com o que acabava de acontecer, o animal empinou e caiu para o lado, com seu corpo em cima das pernas de Tursum.

O garoto havia caído a cerca de dois metros de distância, entre algumas árvores e arbustos que haviam em meio aquele lugar. Assim que sua cabeça bateu no chão o mesmo despertou assustado e confuso, começando a abrir seus olhos lentamente. Em poucos instantes, ele tentou se erguer, apoiando os joelhos e as palmas na terra preta das brasas do fogo. Tudo a sua volta fazia um som ensurdecedor, o rugido do leão, o relinchar em sofrimento do equino, e o barulho dos troncos de árvore despencando e sendo consumidos pelas chamas.

Sem que o felino notasse, a bainha da espada desprendeu do cinto do mesmo, e caiu em cheio no meio de uma zona completamente incendiada. Assim que Tursum percebeu que a voz de Nakil não estava mais presente em sua mente, olhou para os lados com desespero, na chance de encontrar a arma. Quando finalmente a viu, parecia tarde, as brasas já ardiam na lâmina fosca, e era questão de tempo até que o metal começasse a derreter.

Naqueles segundos de agonia foi que o garoto ergueu-se, e caminhou vagarosamente até as chamas, seus pés passavam pelas brasas como se não sentissem o arder do fogo, embora o rosto do rapaz aparentasse grande dor. Sua pele ardeu, e bolhas que estavam sendo formadas estalejaram em meio às labaredas, mas finalmente ele teve o cabo da espada em suas mãos, então saiu daquele inferno no mesmo instante. Não apenas seus braços estavam completamente vermelhos, mas também suas pernas, torso e a cabeça, com alguns fios de cabelo queimados.

"Isso não é possível! O que essa criança acabou de fazer é loucura!" O guerreiro pensou ao mesmo tempo que terminava de tirar suas pernas de baixo do corpo do animal. Ele trocou olhares com o menino, e não conseguiu sentir que havia vida no mesmo.

- Q...quem é você!? – O garoto estava confuso, sem entender quem era aquele ser, e muito menos o que fazia naquela situação. Ele apertou os olhos e serrou os dentes, encarando o felino.

- Solte a espada, irá se queimar mais! – Disse preocupado enquanto se aproximava de Enos.

"Parece que você tem algum valor afinal, moleque! Pensei que era apenas um azarado, mas confesso que estou agradecido! Hahahah! Prazer, eu me chamo Nakil! Mas agora... Quais serão os seus segredos, hein!?" Nakil infiltrou-se na cabeça do garoto sem hesitar, começando a deixa-lo tonteado e com dores na cabeça.

- Sai da minha cabeça! Quem é você!? – Agitou a espada três vezes no ar sem coordenação alguma, como se tentasse acertar algum alvo. Mas na verdade, sua preocupação maior no momento não era um ser físico, e sim, a voz que ele nunca havia escutado na vida e que estava tão alta e dentro de sua mente como se fizesse parte de seus próprios pensamentos, Nakil.

"Hahahaha! É melhor parar de brincar com isso, criança, ou só vai piorar a situação de sua saúde..." A voz dizia com muita calma e sarcasmo.

- Pare! – Disse Tursum, segurando a espada pelo início da lâmina, e tirando da mão do rapaz no mesmo instante. Seu olhar intimidador e sua voz pigarreada chamavam uma enorme atenção, o que fez o garoto despertar daquela confusão que havia sido criada em sua cabeça.

O meio leão amarrou a espada numa tira de couro e voltou a guardá-la em suas costas. O mesmo ainda olhava para o garoto desacreditado com o que havia acontecido.

ENOS - O Filho da Alvorada - O Despertar das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora