Perco-me enquanto você tenta se achar

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Só depois de desligar a ligação percebo que não me despedi de Cris, nem ao menos mencionei a que horas chegaria por lá. Visto-me o mais rápido que posso. Escolho uma blusa qualquer, frouxa de cor azul- bebê e com o nome "Ice cream" bem no meio em forma de parábola. Por fim, visto uma calça jeans que ganhei de aniversário do meu pai, ela tem um estilo mais vintage, mas eu a amo. Calço alguma coisa, pego minha escova de cabelo e corro em direção às escadas.
Ao chegar na parte debaixo da casa noto o quão faminta estou. Nesse momento, milhares de pensamentos me enchem a mente.
Por que minha mãe foi lá? Por que ela não me avisou? Será que ela foi discutir com a Cris?
Fecho meus olhos fortemente como se quisesse esquecer tudo isso, e quero, mas não consigo.
Corro até a cozinha enquanto escovo meus cabelos. Preparo rapidamente algo que deveria ser um sanduíche, mas essa é a última coisa que eu apostaria que fosse. Bebo suco de laranja e... Que noojoo! Certamente suco de laranja com pasta de dente não é uma combinação adequada.
Finalmente, depois de comer àquilo e de ter tentado escovar meus cabelos, direciono-me para porta da frente.
Bom, minha mãe é uma mulher muito arrumadinha, quando saímos juntas a maioria das pessoas costumam pensar que somos irmãs. E, como é comum de toda arrumadinha, ela queria colocar espelhos em todos os vãos da casa, mas não deu muito certo graças a mim. Infelizmente, o vão da sala não pôde livrar-se dessa tragédia (eu considero uma). Antes de ter acesso diretamente à porta da frente, mamãe fez questão de colocar um espelho lá, de forma que pudéssemos ficar "apresentáveis" a quaisquer visitas. E é nesse espelho, exatamente nessa chatice de espelho, que vejo o quão desleixada eu estou.
- Que porcaria é essa?? - pergunto-me surpresa ao ver meu reflexo no espelho que, apesar deste não ser tão cumprido, pude notar que a blusa frouxa não está em harmonia com a calça que é frouxa também.
Mas o que fazer? Estou sem tempo. Mamãe pode chegar a qualquer momento.
Olho para o relógio que está acima do espelho e desespero-me mais ainda.
- Oito e QUARENTA E CINCOO??? OH DEUS!
Estou aflita, não me resta tempo para trocar de roupa. Continuo a encarar meu reflexo e decido, por fim, dá um simples nó na blusa. Vi isso em algum vídeo no YouTube, espero que funcione.
- Tô nem aí.
Ando rapidamente em direção à porta preparando-me para abri-la.
Abro-a e...
- Mamãe? - pergunto incrédula. Como ela já está aqui? Não demorei tanto assim, demorei? Ela vai estragar tudo.
- Bom dia, Pê! Tudo... Para onde vai vestida assim? E por que está de pantufas?
Olho rapidamente para meus pés, não quero acreditar que esqueci de trocar essas... essas... coisas.
- Não importa. O que você está fazendo aqui?
- Amm? Eu também...
- Por que foi à casa da Crislen? - interrompo-a. O rosto dela muda de feição rapidamente. Não posso me deixar amedrontar.
- Ela já te contou?
- É, ela já contou, sim. - falo friamente.
- Então não entendo o motivo de você...
- Quer saber? - interrompo-a mais uma vez.- Não importa. Você não devia ter ido lá.
- Eu acho que sim.
- VOCÊ NÃO TEM QUE ACHAR NADA, MÃE!- o tom de minha voz já está mais alterado que o normal. - ENQUANTO VOCÊ FICA AÍ ACHANDO, IMAGINANDO SUAS COISAS, EU ESTOU AQUI PERDENDO. Sinto que meus olhos já estão cheios de lágrimas, mas não posso chorar, não na frente dela.
- Eu estou bem aqui, Petrina. Você não tem motivos para gritar.
- Talvez eu tenha.
- Cale-a-boca! - mamãe diz pausadamente e em um tom áspero.
Engulo um seco logo depois de ouvi-la falar assim.
Ainda estamos na porta de frente uma para a outra. Neste momento, entre nós, o silêncio é o único que está gritando.
- Eu preciso passar. - resolvo falar.
- Volte antes do almoço.
Apenas escuto o que ela tem para falar, não quero que as coisas piorem.
- Você vai sair de pantufas? - mamãe pergunta.
- É, eu vou. - digo enquanto desço os degraus que dão acesso à pequena varanda da casa.
- Pê... - olho para trás. Sinto que ela queria dizer mais alguma coisa, mas apenas faz gesto com as chaves do carro.
- Obrigada. - digo logo após que ela as joga para mim.

O calor da neveOnde histórias criam vida. Descubra agora