Duas partes, mas apenas uma funciona

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– ABRE ESSA PORTA, MENINA! – minha mãe grita do lado de fora do meu quarto.
Estou sonolenta, demoro um pouco para perceber que acabei dormindo.
– PETRINA??! – grita novamente e, pelo visto, já fazia tempo que estava nessa.
– Já, vaaaii, só um minuto. – digo enquanto levanto-me da cama.
Destranco a porta e abro-a.
– O que você estava fazendo? – mamãe pergunta. – Não vejo necessidade em trancar essa porta.
– Eu estava... Dormindo?
– Am? Eu que não sei.
– O que é? – pergunto sem demonstrar interesse.
– Vou buscar seu irmão na casa de um amigo dele. Preciso que você fique de olho na torta que está no forno.
– Na casa do Jeff?
– Sim... – ela afirma e morde vagarosamente a parte interna de uma de suas bochechas.
– Não quer que eu faça isso? 

Há, não mais que dois anos atrás, eu e papai descobrimos que mamãe estava lhe traindo e toda essa sacanagem ocorreu justamente com o pai do melhor amigo de meu irmão, o Sr. Davis, ou melhor, o viúvo Willians. Sua mulher faleceu em um acidente de carro pouco tempo depois do ocorrido e hoje, o nojento do Willians, cuida de Jeff, seu único filho, sozinho.
Lembro-me como se tivesse sido ontem. Convidei mamãe para irmos ao cinema e ela disse que estava muito cansada e disse que se quiséssemos ir, ela não acharia uma má ideia. E pelo visto não achou mesmo. Por fim, eu e papai decidimos não ir ao cinema, mas sim fazer algumas comprinhas em um shopping. Chegamos cedo em casa e vimos o celular de minha mãe vibrando em cima do sofá notificando que " Willians Davis" estava ligando. Papai atendeu e ficou em silêncio, ele já vinha notando o comportamento estranho de minha mãe quando estava na presença dele. O burro do Willians não se conteve e soltou o verbo assim que a ligação foi atendida: "Minha nossa! Na cama você é impossível de controlar, garota. Eu precisava disso e sei que você também, hein? Espero que amanhã Frenck saia novamente para fazermos uma festinha, o que me diz?". Babaca. Ele ficou louco quando papai respondeu.

– Só irei buscar seu irmão, Petrina.
– Hmm... Okay.
– Vou passar no mercado, quer alguma coisa? – pergunta amigavelmente.
– Uma camisinha, por favor. – falo debochadamente.
– Você nem deve saber como se usa.
– Mas você sim, não é mamãe?
– Já chega! Desça agora!! Seu pai vai chegar logo.
– Então acho bom se apressar. – Falo passando por ela e deixando-a sozinha encarando a porta de meu quarto.

Eu já estou na cozinha quando ouço ela se aproximando.
– Retire a torta do forno daqui a 15 minutos.  Até mais.
Apenas faço um gesto de despedida com uma das mãos.

Eu sei, no fundo eu sei, que ela não seria capaz de trair o papai novamente. Naquele período o relacionamento dos dois estava bastante frio e esse deve ter sido o fator gerador de tal tragédia conjugal. E, por mais que me machuque algumas vezes, eu não consigo parar de chamá-la de mãe. O fato de ela ter se relacionado com um outro alguém não muda o fato de ela ser minha mãe.
Mas não vou mentir, eu já conversei com papai sobre nós nos mudarmos e deixar ela aqui, deixar ela vivendo com as consequências do que ela mesmo criou. Mas papai disse que fez um voto e disse que seria até que a morte lhes separassem e, por mais que uma parte dele tenha morrido há quase dois anos atrás, ainda existe uma parte que vive e essa é a mais importante.

Estou assistindo TV quando ouço os gritos contentes de Scott antes mesmo de entrar em casa.
– Aahh!! – grito lhe recepcionando.
– PÊ...!!!
– Cadê o homenzinho mais lindo desse mundo? – pergunto com a sonoridade de minha voz como a de uma criança. Abro os braços ao o ver correndo em minha direção.
– Acabei de chegar!! – Scott diz contente.
Quando nossos corpos se encontram
abraço-o fortemente e em seguida
levanto-o máximo que posso.
Scott tem 7 anos de idade, é uma criança extremamente carinhosa e é um dos motivos dessa família ainda está de pé, apesar de meu pai não me contar isso, mas eu sei que é.

O calor da neveOnde histórias criam vida. Descubra agora