"Desculpe..."

28 5 2
                                    

Ainda estou no banheiro quando ouço Scott entrar gritando em meu quarto.
- EU GANHEI, EU GANHEI, EU GANHEI!!!

Lembro-me que esqueci de trancar a porta. Ponho uma toalha e saio do banheiro.

- Que barulheira é essa, Cott? Já disse para não entrar assim no meu quarto.
- VOCÊ É A MULHER DO PADRE, VOCÊ É A MULHER DO PADRE!
- Aaah, meu Deus! - falo rindo. - Eu perdi?
- SIMMM!
- Ei, não grite. - digo com a voz mais baixa que o normal.
- Desculpe. - Scott sussurra.
Rimos.
- Tudo bem. - normatizo o tom de minha voz - Mas nada de invadir meu quarto novamente, okay?
- Okay.
- Ótimo, agora desça. Eu irei me arrumar.
- Tá bom. - diz enquanto se retira aos pulos.

Tranco a porta e direciono-me ao guarda-roupa. Escolho um vestido de cor lilás com alguns pássaros branquinhos como estampa.

Depois de me arrumar, penteio meus cabelos e decido descer para esperar por papai.

18:20

Estamos todos na sala (eu, Scott e mamãe) quando ouço uma buzina.
- É O PAPAI, É O PAPAI! - Scott grita em meio a um sobressalto.
Corro até à janela, afasto as cortinas que me impedem de ver quem está lá fora. Em menos de um segundo tenho a certeza, é ele.
- É, Cott. É ele sim!
Scott e eu corremos para a cozinha e seguimos até à garagem. Não tive tempo de ver a expressão no rosto da mamãe, mas sei que ela também está alegre.
Papai estaciona na garagem e desce do carro. Eu e Scott corremos até ele e lhe abraçamos fortemente.
- Meu amores! - papai fala sorridente. - Como estão?
- Estamos bem. - digo ainda em seus braços.
- É, estamos. - Scott confirma.
- Adivinhem o que eu trouxe para o rapaz mais bonitão desse mundo?
- Vou ganhar presente? - Scott pergunta desprendendo-se de nossos braços e eu faço o mesmo.
- Vai chuta! - papai diz.
- Aah, não... - começo a falar enquanto papai abre o porta-malas retirando algo todo empacotado. - não me diga que é uma bo...
- UMA BOLA DE BASQUETE?? - Scott me interrompe aos gritos. - QUE MÁXIMO!!!
- Pare já de gritar! - falo já irritada. - Pai, sério isso?
- Cott, - papai fala agachando-se para ficar do tamanho de Scott. - eu sei que prometi lhe dar uma outra bola de basquete, mas você deve prometer que não vai sair por aí quebrando as janelas dos vizinhos novamente, entendeu?
- Sim, papai. - Scott fala seriamente.
- Tchau, Tchau vida sossegada... - falo em tom de deboche.
- Querido? - mamãe aparece na porta da cozinha e começa a se aproximar de nós. Papai entrega a bola para Scott e vai até ela. Cruzo os braços quando ele passa por mim.
- Meu bem. - papai diz indo em sua direção. Ele chega bem perto dela e fica parado por alguns segundos encarnando-a.
Mamãe lhe abraça e ele retribui.
- Que bom que chegou. - mamãe diz.
Papai sai de seu abraço e ela lhe chama para que entre.

Depois de jantarmos papai pede para que Scott vá escovar os dentes.
- Precisamos conversar, Petrina. - papai diz.
- Mas querido... - mamãe começa a falar - você deve estar bem cansado. Não é melhor conversar amanhã?
- Não. Isso já foi adiado até demais.
- Vamos embora? - pergunto.
- Petrina... - mamãe fala como se quisesse que eu não falasse nada.
- Contou sem me comunicar? - papai pergunta para ela.
- Ela descobriu. Aquela amiguinha dela...
- O nome dela é Crislen. - interrompo-a.
Mamãe dar de ombros.
- É verdade? - pergunto.
- É, mas tente me compreender, por favor.
Fico em silêncio.
- Veja bem, - papai começa a falar - eu consegui um excelente emprego. Finalmente vou poder estabilizar as coisas.
- Mas pai, está tudo ótimo aqui.
- Não, filha. Próximo ano você provavelmente fará faculdade, seu tio ligou e disse que infelizmente terá que vir buscar o carro dele. Como vamos ficar?
- Sempre damos um jeito. - digo.
- Sim, e esse jeito vai ser nos mudarmos. Sua mãe está sem trabalhar já faz dois meses e eu... Bom, eu estou tentando, mas está muito difícil. Essa é uma grande chance para todos nós.
- É que... É novo, entende? Sempre moramos aqui, por que não continuar assim?
- Entendo, mas as coisas não estão funcionando mais.
- E quando vai ser?
- Bom, seu tio disse que vai precisar do carro dentro de 4 dias, então...
- Ah, não! - digo frustada.
- Desculpe...

O calor da neveOnde histórias criam vida. Descubra agora