Não precisa ser um "adeus"

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Os três últimos dias foram bem difíceis. Passei a maior parte do tempo ao lado da Cris tentando fazê-la se sentir especial, pois afinal ela é.
Posso não querer, mas tenho que admitir que entendo o lado do papai. Ele está trabalhando muito por nossa família, apesar de tudo ele sempre esteve aqui, está na hora de ajuda-lo também.
Seu irmão havia lhe emprestado um carro até que papai pudesse comprar um e, como já conseguiu, meu tio virá buscar o carro. Eu não o culpo, ele nos ajudou bastante.
É, as coisas realmente precisam mudar.

07:40

- Petrina, desça algumas das caixas que estão em seu quarto, okay? - papai pede.
- Tudo bem.
Subo para o meu quarto e, ao entrar, fico imóvel por algum tempo. Está uma bagunça, cheio de caixas e mais caixas.
Sei que não tornarei a vê-lo como costuma ser, mesmo que eu tente ajustar cada coisa em seu lugar no quarto novo, não será a mesma coisa.
Isso não se trata apenas de quatro paredes, são quatro paredes com histórias não só minhas, mas de pessoas importantes que já passaram por minha vida, histórias de lágrimas que já derramei por essas mesmas pessoas. Não foram tantas pessoas assim, mas foram o suficiente para fazer desse quarto algo mais que especial para mim.

Separo algumas caixas para descer (as mais maneiras, é claro) e empilho-as.
Barulho de celular tocando...
Retiro o celular de meu bolso e vejo que é a Crislen quem está ligando.
- Cris, e aí?
- Olá! - responde desanimada. - Já está tudo pronto?
- Amm... quase tudo. Vou descer algumas caixas aqui.
- Você? Descer caixas?
- Injusto, né? Eu sei. - falo brincando.
- Para quem não é fã de exercícios isso já é muita coisa.
Rimos.
- Vai vir por aqui? - pergunto.
- Sim, mas minha mãe disse que terei de esperar por ela. Ela...quer ir junto.
- Ah, que ótimo!
- Já sabe para onde vão?
- Não, eu pedi para que não me contassem.
- Uê, mas por quê?
- Não quero ter que sofrer de desgosto a viagem inteira. Já é um saco saber que vou embora, imagina se eu descubro para onde é... Quero nem pensar.
- E se for para um lugar bom?
- Não acho que meus pais se mudariam para a Disney.
Rimos.
- Pare de coisas. - Cris fala.
- Ai... ai...
De repente, um rapaz entra em meu quarto.
- Aahahh! - tenho um susto.
- Meu Deus, garota! - ele fala com uma mão no peito.
- Você quem me assustou, cara!!
Ele sorrir.
- Alô? Quem está aí? - ouço Cris perguntar.
- Desculpe, mas é que seu pai pediu para eu ajudar você...
- Ahh, okay. Pode levar essas daí. - falo apontando para as caixas maiores. - Eu levo essas aqui.
- Tudo bem. - o rapaz responde.
- Alô?? Tem alguém aí? - Cris pergunta curiosa.
- Oi, oi!
- Quem estava aí?
- Um rapaz ajudando na mudança.
- Era gato?
- Vai se catar! - falo sorrindo. - Tenho que ir agora. Até mais, Cris.
- Tchauzinho, Pê!

Desço as escadas com duas caixas empilhadas sobre meus braços.
- Nossa, que garota forte! - papai brinca.
- Verdade. - respondo.
- Pode deixá-las aqui - diz apontando para um lugar no chão - eu cuido do resto.
- Okay.
De pouco a pouco a casa foi ficando vazia e logo, logo eu também estaria.

- Petrina, você quer comer alguma coisa? - mamãe pergunta.
- Não, não. Já lanchei.
- É que... nós iremos antes do almoço.
- Antes?
- Sim, almoçaremos no caminho, em algum...
- Papai não me falou sobre isso. - interrompo-a.
- Foi preciso mudar os planos.
Afasto-me dela e tento ligar para Cris, mas não está funcionando.
- Droga!
Volto até mamãe e pergunto: - Nós passaremos pela casa da Cris?
- Por quê?
- Só responde.
- Sim.

Depois de termos empacotado tudo, papai faz a última chamada.
- Não esqueceram de nada?
- Não. - mamãe diz.
- Acho que não. - respondo sem ânimo.
- Vamos logo!!! - Scott grita.
Vamos na frente no carro da família, enquanto o caminhão da mudança vem bem atrás de nós.
- Papai, o senhor poderia parar na casa da Cris? Nós não nos despedimos...
- Claro, meu amor.
- Obrigada.

Não demora muito e papai estaciona o carro. Desço apressada e corro até à porta da casa da Cris. Bato na porta desesperada.
- CRIS? - grito - SOU EU!!
Posso ouvi-la correndo em direção da porta.
- Pê, - diz quando abre a porta - o que ...
- Eu já estou indo. - Falo antes que ela possa dizer mais alguma coisa.
Ela me olha apreensiva e começa a chorar.
- Vou sentir muita falta de você. - diz.
Eu lhe envolvo em meus braços e me dou conta de que também estou chorando.
- Eu também...
- Não esqueça de ligar.
- Não mesmo. Eu te amo, Cris.
- Eu amo você, Pê.

[A música: Forever - Koethe Koethe começa a tocar].

Não quero que esse momento acabe. Na verdade, ele nem precisaria está acontecendo, mas não sou eu quem decido.
Ela se desfaz de meu abraço quando escuta a voz de minha mãe me chamando.
- Adeus, Pê...
- Até logo.

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⏰ Última atualização: Apr 22, 2019 ⏰

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