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   Mesmo lutando contra, acabei pegando no sono não muito tempo depois do pesadelo. Foi uma noite maldormida e essa é a razão para minha cabeça latejar tanto. Me remexo na cama, sem vontade alguma de deixar a coberta nesse frio. Estico o braço e busco o celular sobre a cabeceira, ainda com os olhos fechados.

   O horário me faz querer voltar a fechar minhas pálpebras. Mas ao invés disso, me perco olhando para o nada. O rosto do anjo ainda está fresco em minha mente. Perambulando por ela sem parar. Se é que aquilo pode ser chamado de anjo. Passando a imagem para um papel, eu ficaria livre dela? Me pergunto diversas vezes e decido não o fazer já que a cada momento a ideia se torna mais assustadora.

Quando acordo de vez, esqueço a possibilidade de descansar mais. Lavo meu rosto e noto que as olheiras não estão tão profundas quanto pensei que estariam. Enquanto tomo café, tento programar o que farei pelo resto do dia. O tempo está ótimo para continuar em casa e aquecida, até porque parece que irá voltar a chover a qualquer momento.

Mas minha saudade de comer no Sr. Nishimura fala mais alto. Depois dessas semanas sem ter tempo de passar lá, sinto saudades até mesmo do chefe tão simpático que tem o dom de me fazer gostar de comidas apimentadas. Me arrumo lembrando do sabor do prato deliciosamente picante e saboroso.

Ando pelas ruas com minha calça bege, um moletom cinza, meu suspensório marrom, tênis branco, o óculos que não foi esquecido dessa vez e um sorriso no rosto para acompanhar. O clima nublado é o motivo dele. Simplesmente por ser o meu favorito.

Alguns pássaros voam pelas nuvens brancas e cinzas. Meus passos que antes estavam lentos, agora se apressam para acompanhar os pontos pretos pelo céu. Não sei ao certo se estão indo ou voltando. Mas os sigo admirada, vidrada e curiosa. Entre as nuvens, estão sãos e salvos. Estão tão longe do chão, mas ao mesmo tempo me sinto perto deles. Como se me levantassem e colocassem asas em meus pés.

Em poucos segundos, meus olhos deixam de acompanhá-los. Eles se distanciam. Desaparecem. Um dia, talvez eu possa vê-los novamente. Ou quem sabe, até mesmo voar ao seu lado. Não sei mais se me refiro aos pássaros distantes. Me pego pensando então se tudo que possui asas está destinado a se distanciar de mim. O céu fica mais escuro. Eu já me encontrava sozinha, mas tudo sempre pode piorar.

Acabei me desligando do trajeto e noto que estou em frente à estação. Apago a ideia de ir de ônibus. O lugar está cheio. Enquanto espero o meu trem, um arrepio percorre meu corpo inteiro. Tenho uma impressão estranha que toma conta de tudo. Olho ao redor me sentindo um pouco desconfortável. Tudo normal. Menos as sensações incontroláveis que não conheço. Antes mesmo de minha paranoia se agravar, o trem chega. Tento andar com mais pressa em direção ao vagão para conseguir um lugar sentada. Esbarro em algumas pessoas e peço desculpa de imediato, ainda que as mesmas não tenham escutado. Algo me faz parar. Uma coisa ainda mais forte e angustiante. Olho para o lado. Apenas pessoas desconhecidas e entre elas procuro por alguma coisa. Só não sei o que exatamente. Não sei quem estou tentando encontrar. A cada passo que dou em direção ao vagão, a sensação começa a diminuir. Uma dor em meu peito se instala e faz morada. Me acomodo no assento vazio. Tudo se silencia ao redor. Uma imensidão de pessoas e nenhum som sequer. Apenas as batidas do meu coração desentendido que estão aceleradas.

Sky. {Mingyu} EM MUDANÇAOnde histórias criam vida. Descubra agora