nove.

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Até que eu estou lidando razoavelmente bem com tudo isso

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Até que eu estou lidando razoavelmente bem com tudo isso. Até com o fato de que acordei num quarto desconhecido, noiva de um homem que nunca vira na vida, rica, com um iphone 8 e uma aliança maravilhosa no dedo. Sem irmã, com uma mãe e com um pai, e com um Tony organizador de casamentos.

Estou lidando maravilhosamente bem, na verdade.

Exceto que toda essa atuação está me tirando do sério. O homem que aparentemente é meu pai se chama Alfonso, a mulher se chama Melanie (mas ela brigou com Patrick todas as vezes que ele a chamou assim). "Já falei que você pode me chamar de Mel", ela disse, "todo mundo me chama de Mel".

Todos são muito simpáticos e engraçados. Até quando é um assunto que eu não conheço (a maioria) eu rio, simplesmente pelo jeito que eles contam ou conversam sobre. Eu me sinto acolhida, me sinto em casa. Ao mesmo tempo que me sinto distante. E eu não gosto de me sentir assim.

Tem um bolo na minha garganta, e nem é um bolo de chocolate com cobertura. É um bolo de choro. Estou desesperada internamente, enquanto externamente eu sorrio e aceno sempre que olham para mim.

Essa não é minha vida, esses não são meus pais e esse homem não é meu noivo.

Passar uns minutos com ele me fez querer que ele fosse. E eu, obviamente, me odiei por isso. Eu nem quero me casar, que ideia maluca é essa que coloquei na minha cabeça? Ele devia tirar esse terno maldito que me faz ter segundas intenções. Meus pensamentos ficam um caos sempre que ele me olha, meu cérebro borbulha. Parece que tirei ele da minha cabeça e coloquei dentro de uma vasilha com água fervendo.

Eu juro, eu acho que to até com febre. Minha pressão está caindo cada vez mais, minhas mãos estão geladas e eu estou engolindo a lasanha sem nem mesmo mastigar só pra não ter que responder as coisas que são direcionadas a mim.

Mel percebe o meu estado, ela não para de me olhar como se quisesse falar comigo a sós. Seus olhares me perguntam se estou bem. Eu sorrio e aceno.

É claro que não no sentido literal, eu não estou acenando igual uma boboca, apenas sorrindo e fingindo que está tudo muito bem. E mesmo que seja um almoço maravilhoso, o clima vai ficando cada vez mais tenso a medida que vão percebendo que estou com algum problema e 100% desconfortável.

Quando Alfonso olha para mim com um olhar curioso, eu sei que ele vai me fazer outra pergunta que eu não sei a resposta. A primeira foi a alguns minutos atras, ele disse: "Como está a loja? Pensou na minha proposta?", e eu só gaguejei tentando dar uma resposta boa, mas não convenci ninguém, e novamente, ele me olha do mesmo jeito e eu não estou nem um pouco preparada.

— Licença — me levanto afastando a cadeira pra trás e os três olham para mim — Preciso ir... — tusso baixinho e Patrick larga os talheres ao lado do prato — No banheiro, rapidinho.

Caminho para fora da sala o mais rápido que consigo e fecho a porta.

Não espero que ninguém me siga então só começo a andar pela casa a procura de ar, e do banheiro. Eu preciso mesmo do banheiro. Preciso lavar o meu rosto. Preciso me olhar no espelho. Preciso...

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