oito.

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Não sei qual é a sensação de estar em um lago congelado, mas provavelmente o que estou sentindo agora chega bem perto

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Não sei qual é a sensação de estar em um lago congelado, mas provavelmente o que estou sentindo agora chega bem perto.

— Sim — ele responde tão natural quanto a luz do dia — Eles chamaram a gente pra ir almoçar na casa deles qualquer dia, lembra? Acho que devemos uma visita a eles.

— Mas...  

— Se você não quiser podemos fazer outra coisa, sem problemas, foi só uma ideia — ele para no sinal vermelho e finalmente vira o rosto pra mim, com seus olhos arregalados.

Devo estar tão pálida que posso até ficar transparente. Como assim devemos uma visita aos meus pais? Por acaso eu morri e to num tipo de paraíso ou inferno constante? Não faz sentido, meus pais estão mortos! Mortinhos da silva. Insinuar um almoço com eles quase me deixa com raiva de Patrick, eu sinto vontade até de saltar do carro e sair correndo. Mas ele não parece estar brincando ou tentando me magoar.

A última vez que vi meus pais foi antes da viagem. Eu tinha 13 anos e Liz tinha 16. Nós almoçamos juntos. Caroline, minha mãe, estava usando um gloss vermelho e brilhoso que a deixou mais bonita que o normal, e Sebastian, papai, usava sua polo cinza que fazia parte de sua coleção de blusas polos que ele sempre ganhava de amigo oculto no natal. Ele não reclamava, claro, ele amava essas blusas.

Me lembro que foi eu que escolhi almoçar no Mc Donalds antes de me despedir deles. Era o aniversário de casamento e eles resolveram viajar de carro dessa vez, mamãe queria variar, estava cansada das mesmas viagens de sempre; e disse que de carro podiam parar aonde queriam pra visitar as cidades pequenas.

Eu e Liz estávamos animadas, não queríamos nos livrar dos nossos pais, claro que não. Mas a viagem deles significou que podíamos fazer festa com tio Anthony. Tony sempre foi muito louco e quando se tratava de brincadeiras ele não media esforços pra fazer tudo ser extraordinário. Diversão era seu sobrenome. Mas meus pais eram muito cuidadosos e quase nunca deixava as ideias de Tony irem pra frente, exceto quando estavam viajando e não podiam fazer nada para impedi-lo a distância.

A última vez que vi meus pais, eles estavam sentados na minha frente devorando seus hambúrgueres.

— Você ta bem?

Quando escuto a voz de Patrick pareço acordar de um sonho, mas não consigo enxergar nada, provavelmente por causa da quantidade de lágrimas que se formam em meus olhos. Passo os dedos sobre eles as espantando e forço um sorriso.

— Sim, eu to... — sinto seus dedos em minha bochecha e vejo que já estamos nos movimentando novamente, ele está com uma mão no volante e a outra acariciando meu rosto.

Eu poderia até tirar sua mão, mas seu toque é tão acolhedor que o deixo continuar com o carinho. Viro meu rosto e o olho. Seja lá quem for esses pais que ele mencionou, é impossível que sejam os meus pais de verdade, esse pensamento acalma um pouco meu coração. Mas mesmo assim, me sinto ansiosa. Porque se for meus pais de fato, eu provavelmente vou cair dura no chão e morrer.

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