Infelizmente Vick não estava enganada.Dona Ivete não estava aceitando bem as saídas da filha com aquele sujeito. Ela tinha contado, desde aquele almoço — em que Vick acordou e saiu correndo para se encontrar com ele — já tinham ocorrido mais cinco encontros. Isso só considerando os que Vick tinha assumido e as vezes que dona Ivete tinha visto o carro azul estacionando na calçada do seu prédio.
Em que confusão aquela menina estava se metendo? Não dava para acreditar que aquele era um relacionamento normal. Esse cara nunca tinha dado as caras, nem para acompanha-la até o apartamento. E Vick sempre se esquivando de qualquer pergunta que sua mãe fizesse a respeito dele.
Ela não queria se precipitar, não seria justo com Vick que sempre foi tão responsável. Mas ela não estava mais conseguindo evitar pensar em alguma situação depreciativa em que sua filha pudesse estar envolvida.
Depois de algumas noites de insônia e de um clima cada vez mais pesado entre as duas, dona Ivete decidiu obrigar a filha a colocar essa história em pratos limpos.
Levou Bea para casa de dona Olga, onde juntas gravariam um tutorial de como fazer bolachas de gengibre decoradas para o Natal. E esperou que Vick terminasse seu café da manhã de domingo. Seria o momento certo para aquela conversa, pois uma das poucas coisas que ela sabia do relacionamento dos dois é que eles nunca se encontravam aos domingos, pelo menos nunca durante o dia. Sendo esse mais um dos fatores que incomodavam dona Ivete.
Ela estava tão angustiada e estressada em ter essa conversa que nem conseguiu ficar no mesmo ambiente que a filha. Deixou a menina na cozinha e ficou sentada na sala, com os cotovelos apoiados nas pernas e o queixo encaixado nas mãos. Assim que Vick passou pela porta, em direção ao quarto, dona Ivete a chamou:
— Vick, venha aqui.
A menina foi, sem nenhum tipo de reação.
— Senta aí, precisamos conversar.
— Ah não, mãe – disse quase com preguiça – vamos fazer um esforço para passar o domingo em paz?
- Claro, Vick – a voz era baixa, ela tentava não se alterar – é tudo que eu mais quero. Mas não vou conseguir ter um minuto de paz enquanto não tivermos essa conversa.
Vick sentou no sofá com força, demonstrando o quanto estava contrariada.
- Fala logo, o que quer saber dessa vez? – perguntou irritada.
- Quero saber o que você nunca me fala. Que tipo de relacionamento você tem com esse cara?
- A gente tá saindo junto. Se conhecendo. Por que é tão difícil entender isso?
- Se conhecendo? Já faz dois meses que vocês estão se conhecendo?
Dois meses? Já fazia dois meses que eles estavam se encontrando? Vick não tinha se dado conta de como o tempo tinha passado rápido. Mas ela lembrava exatamente de quando se conheceram, poucos dias depois do feriado da Independência. Sua mãe tinha razão.
- E que problema tem nisso?
- É só isso o que eu quero saber. Que problema tem por trás desse relacionamento de vocês. Vick, você sempre trouxe quem você quis aqui pra casa. Eu sempre recebi bem todos os seus namorados. O Beto mesmo, logo nas primeiras semanas ele estava aqui sentado no nosso sofá vendo filme – dona Ivete tentava parecer compreensiva, ela sabia que brigar não levaria a nada.
- O Beto! Grande coisa era o Beto – Vick explodiu- Ele podia parecer o namorado perfeito na sua frente. Mas ele me fazia mal, me sufocava, me oprimia. E você vem falar dele como se ele fosse muito melhor que o Ernani – Vick estava enfurecida, as palavras saiam de sua boca cheias de raiva.
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Sem Intenção
RomanceEle não tinha intenção de seduzi-la. Ela não tinha intenção de ir pra cama com ele. Mas nem sempre a razão é capaz de predominar o que se sente. Vick conheceu Ernani em uma festa de aniversário. O cara, tio do aniversariante, tinha o dobro de sua i...