CAPÍTULO 20

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Quando o celular de Vick tocou a primeira vez ela estava descendo do ônibus, voltando da faculdade. Ainda caminhou mais alguns metros, para longe do acumulo de pessoas, até decidir tirar o aparelho da bolsa.

Ao ver de quem era a ligação já imaginou que não seria boa coisa. Luana raramente telefonava, muito menos naquele horário.

- Vick! Me encontre no shopping, tô precisando muito de você - disse desesperada.

- Luana, estou chegando em casa - disse com cautela - só vou pra lá depois das três.

- Ai, meu deus! Não vou conseguir esperar. Estou indo pra aí.

E antes que Vick pudesse perguntar o que estava acontecendo a ligação já tinha sido encerrada. Chegou a pensar em mandar uma mensagem. Mas se deu conta de que o melhor a fazer era esperar, tão apreensiva quanto Luana gostaria, valorizando devidamente o drama da amiga.

Passaram vinte minutos para que Luana chegasse aflita, contando que estava tudo acabado entre ela e o Guilherme. Era a mesma cena se repetindo pela trigésima vez, o que deixava Vick incerta se poderia enfim comemorar.

- Ele me disse que não queria que eu fosse na festa da comissão de formatura. Daí eu disse que eu ia mesmo assim. E ele disse que se eu fosse estaria tudo terminado entre nós. E eu respondi: tudo bem, se é assim que você quer, então está tudo acabado entre nós!

- Você disse isso mesmo? - Vick colocou a jarra de suco na mesa, e se sentou ao lado da amiga para almoçar - Com toda essa confiança?

- Disse - respondeu com orgulho - Que palhaço. Ele vai em tudo que é festa da faculdade dele. Já pegou deus e o mundo e eu é que não posso ir onde eu quero? Que ódio!

- E você está toda chateada assim por quê?

- Porque eu passei anos achando que ele era a pessoa certa. E não era - ela baixou a cabeça e uma única lágrima escorreu pelo seu rosto.

Nas outras vezes Luana chorava e soluçava, lamentando o quanto sofria por ter sido traída, enganada, feita de trouxa. Mas essa foi a primeira vez que ela estava simplesmente triste. Triste por ter percebido que tinha se enganado a respeito de quem seria o homem de sua vida.

Vick puxou sua cadeira para mais perto da amiga e a abraçou. Passaram alguns longos minutos naquela mesma posição, em que nenhuma palavra parecia necessária. Até que Vick quebrou o silêncio:

- O bom do fim é a chance de começar tudo de novo, de um jeito melhor.

- Com o Guilherme?

- Não, né. Eu disse de jeito melhor. Não do mesmo jeito ruim.

Luana riu. Já fazia muito tempo que Vick tinha desistido do discurso que ela e o Guilherme acabariam se acertando. Na verdade ela tinha consciência do quanto a amiga deveria estar se controlando para não sair pulando de alegria.

- Pense, Luana. Agora você pode conhecer novas pessoas, e entre elas descobrir alguém que mexe com você. Aquela pessoa que você fica ansiosa para poder encontrar, que te surpreende com um primeiro elogio, que te deixa de pernas bambas no primeiro beijo. Uma pessoa que aos poucos vai entrando na sua vida e que te faz pensar em como pôde ser feliz antes dela.

- É assim que você se sente com o tio do Rafa? - Luana se serviu de um pouco de suco e afastou a cadeira para encarar a amiga.

- Eu estou falando de você - respondeu na defensiva - não existe nada mais fascinante que o início de um relacionamento.

- Imagino de onde você tirou toda essa inspiração...

- Você é uma pentelha mesmo.

Apesar de toda a resistência em assumir seus sentimentos por Ernani acabou se abrindo com Luana e contando como ele foi maravilhoso no jantar em sua casa. No fim acabou admitindo, as palavras dele tinham mexido com ela, mesmo tentando se convencer que tinham sido ditas só para acalmar os ânimos de sua mãe.

Sem IntençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora