CAPÍTULO 7

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Luana atravessa a avenida de frente ao shopping às pressas, antes mesmo do sinal de pedestre abrir. De onde estava já conseguia ver que a cara de Vick não era das melhores. Estava mesmo preocupada com o que a amiga tinha para lhe dizer. Desde que havia enviado a mensagem no dia anterior, confirmando o horário que iriam se encontrar, a reposta de Vick vinha lhe perturbando: "Precisamos conversar sério". O que será que era dessa vez? Será que ela tinha descoberto que o Guilherme estava lhe traindo de novo? Pior que o olhar da Vick não era de quem iria dar uma notícia ruim, era de quem estava querendo esganar alguém, e Luana desconfiava que esse alguém fosse ela.

— Oi, amiga. O que aconteceu? — inclinou-se para beijar o rosto de Vick.

Vick retribuiu o beijo, mas não relaxou a tensão que trazia na face.

— De onde você tirou que o Ernani fosse advogado? — Dava pra sentir a raiva de Vick, mesmo sem que ela aumentasse a voz.

— O Rafa que disse — respondeu prontamente na defensiva.

— O Rafa te disse que o Ernani é advogado? — disse pausadamente, duvidando do que estava ouvindo.

— Não exatamente. Mas ele disse que o Ernani iria ajudar sua mãe com o inventário da sua avó. Então deduzi que ele fosse advogado.

Vick respirou fundo. De onde Luana tinha tirado toda aquela história? Essa conversa estava mais estranha do que ela achou que seria.

— Deixa eu ver essa conversa de vocês — disse estendendo a mão para pegar o celular de Luana.

— Eu deletei. — A cara de Luana era de pura lamentação. — O Guilherme iria odiar saber que ainda falo com o Rafa.

Vick fitou a amiga com desaprovação.

— Luana, vamos sentar em algum lugar — falou firme. — Preciso entender o motivo que me fez passar a maior vergonha da minha vida.

Entraram no shopping e foram até as poltronas do andar de baixo, quase deserto naquele horário.

— E o que o Rafa sabe do inventário da minha avó? — Pelo tom de Vick dava pra perceber que ainda considerava Luana culpada.

— O que você disse pro Ernani, pelo jeito ele contou pro Rafa — a voz saiu quase falhada. Ela se sentia tão intimidade pela postura da amiga que já estava quase pedindo perdão sem saber porquê.

— Luana — disse enfática —, eu não falei nada sobre o inventário da minha avó pro Ernani. Na verdade não falei da minha vida pro Ernani. E antes que você ache que é porque ficamos poucos minutos juntos eu já vou te contar que não. A gente ficou muitos minutos juntos, talvez mais de hora, fazendo o que um casal de adultos solteiros podem fazer de melhor.

Luana estava boquiaberta. Por um rápido instante chegou a achar que era uma brincadeira da amiga, mas se deu conta que Vick não estava com cara de quem estava contando uma piada. Depois ficou indignada. Como ela não tinha contado isso antes? Mas percebeu que não estava com moral para cobrar nada. Talvez pudesse fazer isso depois de esclarecer essa história.

— Vou esganar o Rafael!!!!! — Luana quase gritou. — Ele não tem o direito de abalar assim nossa amizade. — E foi tirando da mochila o celular e os fones de ouvido.

Colocou um dos fones em seu ouvido e entregou o outro para que Vick usasse.

— Ele vai ter que explicar essa história pra nós duas. — Luana buscou o contato do Rafael sob os olhos atentos da amiga.

— RafaelA, Luana? —Vick a repreendeu novamente.

— Ai, amiga. Achei que qualquer hora pudesse precisar falar com ele por causa da faculdade. Mas o Guilherme não entenderia isso.

Sem IntençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora