CAPÍTULO 23

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— Já te disse que eu odeio esse teu trabalho? — reclamou Luana durante o almoço na casa de Vick.

— Sim. Mas só quando está solteira e não tem ninguém pra ficar de bobeira com você.

— Pode ser. É por isso que vou ter que arrumar outro namorado logo. Você nunca tem tempo pra mim — fingiu estar muito magoada.

— Não tem tempo pra mais ninguém, Luana. Só pro Ernani — dona Ivete aproveitou a deixa pra também fazer sua reclamação — acredita que ela saiu pra trabalhar sábado à tarde e só voltou pra casa domingo, início da noite?

No dia, quando Vick chegou na casa dela acompanhada do Ernani, dona Ivete só pareceu surpresa por ela não estar trabalhando. Em nenhum momento tinha se demonstrado insatisfeita pelo tempo que a filha tinha passado fora. Inclusive parecia muito feliz em ver novamente o "genro".

— Mas você não foi trabalhar? — Luana estranhou o fato. — Sua folga não seria nesse próximo domingo?

— Então...— Vick começou a explicar toda a confusão que tinha acontecido com a escala de folgas.

Rayla, uma das colegas de trabalho dela, teria a folga no domingo passado, mas queria no próximo para poder ir numa festa rave que aconteceria nessa data. Então pediu para trocar de dia com ela. Vick disse que aceitaria, se a menina falasse direto com a gerente, quem costumava detestar essas trocas.

Como Rayla não tocou mais no assunto Vick achou que ela tinha desistido. Mas no domingo, quando já estava no carro de Flavio indo pra casa, agoniada por estar atrasada, recebeu uma self da colega, já na loja, com a descrição: "Trabalhando no domingo com muita alegria, porque no próximo estarei na festa da minha vida. Obrigada, Victoria querida".

— Ai que ódio dessa Rayla. Quer dizer que só vamos nos encontrar nessa correria do almoço, durante todo o feriado prolongado?

— Não reclama, Luana — falou dona Ivete. — Do jeito que as coisas estão, temos que agradecer por ela estar aqui almoçando com a gente e não na casa do Ernani.

Vick revirou os olhos.

Já era sexta-feira, e nem tinha visto ele nessa semana. Trocaram algumas mensagens, mas no dia anterior, que era a folga fixa dela, ele tinha saído do trabalho e ido direto para casa da mãe. E ela imaginava que ele continuaria lá até domingo. Vick chegou a perguntar quando ele voltava, mas ele apenas respondeu: ainda não sei.

— Como é feriado, eu saio mais cedo hoje. Passa lá no shopping as oito — Vick falou para a amiga — e de lá vamos pra algum canto.

Era tudo que Luana queria ouvir. Então já começou a fazer planos para mais tarde. Vick não compartilhava da mesma empolgação, mas se deixou levar pelo entusiasmo da amiga.

Quando as duas se encontraram Luana avisou que tinha chamado o pessoal da faculdade pra ir junto. A princípio Vick não estranhou a notícia, ela também teria convidado mais gente pra ir com elas, se estivesse mais animada. Mas assim que chegaram no pub e viu o Rafael esperando sozinho numa mesa de quatro lugares, ela entendeu o que Luana pretendia.

— Cadê os outros? — Vick deixou transparecer sua irritação.

— A maioria já tinha compromisso — Luana respondeu na defensiva — mas a Joyce e o Fernando disseram que talvez conseguissem vir mais tarde.

Vick suspirou alto. Ela estava indignada de ter sido enrolada desse jeito. Então decidiu não facilitar o esquema da amiga. E tinha motivos de sobra pra isso. Primeiro, há exatamente uma semana atrás Luana estava chorando por ter terminado com o Guilherme; segundo, ela deveria ter sido consultada se aceitava sair de vela; e terceiro, ela não estava no seu melhor dia.

Sem IntençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora