Eleanor ponderou suas opções:
1. Tomar tantos remédios para dormir que nem a terceira guerra mundial poderia a acordar. Uma overdose não estava nos planos de sua vida, mas vai saber.
2. Sair andando pelo campus sem rumo até dar a hora que Tina já deveria ter ido para a festa.
3. Adquirir poderes de invisibilidade em menos de uma hora e sair dessa.
Embora todas opções fossem viáveis, aqui ou em outra dimensão, por algum motivo Eleanor ainda estava avaliando as três blusas em cima de sua cama.
Era uma festa a fantasia, mas ela sabia que em uma campus universitário com mais de 3.000 alunos, seria muito difícil mais de 10 estarem vestindo algo além de uma camiseta e jeans. E bem Eleanor não queria ser um destes 10.
Era 1988, e ela ainda não sabia se vestir. Era uma pena que ela não se importasse de verdade com isso.
Ela imaginou Tina revirando os olhos, quando dentre uma pilha de roupas da moda, calças cintura alta e tops que não cobriam tanto seu corpo, que Eleanor havia ganhado de presente dos seus tios de aniversário, ela escolheu uma blusa preta com uma imagem do Darth Vade e a frase Retorno do Jedi, um pouco manchada pelo alvejante.
Seria legal falar que ela escolheu por gostar do filme. Por que não, Eleanor não gostou nem um pouco de Star Wars. Mas definitavamente era fã de blusas de algodão confortáveis que estavam custando apenas 5 dólares.
Extremamente fã.
A garota vestiu sua calça militar número 56, calçou suas botas marrons machadas, e ajeitou os cachos ruivos em um rabo de cavalo.
Eleanor se olhou no espelho não gostando do resultado. Soltou os cabelos.
E se ela fizesse uma trança?
A garota suspirou alto observando seu reflexo no espelho atrás da porta. Não deveria se importar tanto. Aparentemente, dividir um alojamento com Tina, a rainha do laquê, não estava ajudando suas paranoias em relação a aparência.
Pensando no diabo...
Tina abriu a porta do quarto com força, os olhos famintos e agéis. A bolsa em seu braço sinalizava que ela havia passado a ultima hora em alguma loja de departamento, comprando fantasias, maquiagens e fazendo vendedoras quererem assinar suas cartas de demissão.
- Você ainda não está pronta? - seus olhos mal pararam para perceber a roupa de Eleanor. Nem as roupas em cima de sua cama e muito menos o fato de Eleanor ter passado um pouco de lápis marrom.
Eleanor estreitou os olhos sem saber se era uma brincadeira ou se Tina realmente achava que ela não estava pronta.
- Na verdade, estou - respondeu impetuosa.
Tina parou de tirar suas roupas de dentro da sacola, para observar ela de cima baixo.
Os olhos se espremeram desconfortáveis observando suas botas, suas calças e o cabelo bagunçado.
Ok, que Eleanor não tinha se esforçado muito. Mas ela não estava tão ruim assim.
Na maioria dos filmes colegiais e representações dramáticas das juventudes, aquele seria o momento em que a garota popular sentaria a garota introvertida em uma cadeira e entupiria seu rosto de maquiagem e vestidos que fariam todos os homens a olharem como se fosse um pedaço de carne.
Tina já havia tentado isso antes, mas parou quando recebeu uma ameaça muito clara envolvendo tesouras e calvice.
Ao invés disso, Tina apenas forçou um sorriso e disse:
- Verdade, você está como...Eleanor.
Algumas pessoas são como obras de arte. Não são bonitas, mas ficam cada vez mais interessantes ao passo que se afasta da tela.
Eleanor provavelmente seria um surto de raiva em uma tela nova. Uma tinta derrubada e esfregada com força em uma superfície plana. Michelangelo choraria ao pinta-la, pensando que talvez aquela fosse sua primeira tragédia.
Essa era a forma que as pessoas normalmente olhavam para Eleanor durante todo seu ensino médio. Como se ela fosse um acidente de transito. Grave.
Essa era a forma que Tina a olhava naquele momento.
Não gostava de mudanças. Não gostava de oscilações brutas nem muito menos olhar para um espelho e não se reconhecer.
Tanto internamente quanto externamente.
Tina saiu apressada para o banheiro do dormitório, deixando uma Eleanor um tanto quanto confusa para trás.
Como ela poderia sentir que estava deixando seu passado para trás, se continuava de certa forma, a mesma pessoa?
Mudanças pequenas, Eleanor.
Tudo no mundo começou de forma pequena.
Da Vince não pirou em um dia e Michelangelo não olhou pro teto da capela cistina e pensou "gente, faço isso em uma noite".
A garota olhou para as sombras jogadas em cima da sua escrivaninha. Para ela, maquiagem não era mais uma mentira, e mesmo se fosse, naquela noite, ela gostaria de mentir para si mesma.
Tentou terminar seu delineado marrom antes que Tina saísse do banheiro e decidisse "ajudar".
Eleanor suspirou se olhando no espelho, os cachos quase domados e olhos contornados.
Realmente, pensou, realmente teria que se afastar muito.
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Eleanor e Park - Quando ele se foi
FanfictionDesde que Eleanor foi embora, nada nunca mais foi como antes. Ambos seguem suas vidas de maneiras diferentes e contraditórias, sem saber se um dia iriam se reencontrar, e sem saber se seria melhor assim. Park parou de mandar cartas. E pelo que ele s...