Eleanor

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Eleanor enrolou o fio vermelho do telefone em seu dedo três vezes, pensando em como seu cabelo tinha quase aquela cor, mesmo sendo natural.

- Não, Ben, você não pode vir morar no meu dormitório – Eleanor respondeu quase que mecanicamente quando o irmão voltou a reclamar de como Maise estava o estressando.

- Eu não tenho culpa dela estar se tornando promíscua – sua voz alterada de menino de 14 anos arranhou baixinho em seu ouvido pela linha telefônica.

Ben estava naquela fase entre a criança fofa e o adolescente problemático com hormônios explodindo que Eleanor se sentiu muito grata por não ter sido. Bem, ela achava que não pelo menos.

- Ela foi em uma festa, tem certeza disso? – uma quase risada saiu da garganta da garota. Eleanor tentou pensar em todas as coisas que fazia quando tinha 11 anos e se eram normais para sua idade...mas bem, sua família não era normal, porque ela seria? E porque seus irmãos seriam também?

Pelas ligações semanais de Ben, Maise parecia estar passando por um tipo de adoslecência rebelde prematura, Mouse estava ainda mais carente, Ben parecia ter tentado envelhecer 10 anos em sete meses (mudança que ainda não estava acontecendo até o ano passado) e Little Richie...ah, o que falar do little Richie?

- E na sua faculdade? Mamãe não para de falar que você está muito ocupada para vir para casa, mas nós dois sabemos a verdade.

Eleanor lembrou dos dois feriados prolongados que havia passado hibernando em um lençol no dormitório ao invés de pegar um ônibus de várias horas até St. Paul.

Na lista de prós e contras da garota, não visitar Sabrina sempre vencia (mesmo que a lista tivesse 10 prós e um contra). Ela havia conseguido escapar de 4 aniversários e dois almoços em família, mas não saberia o que falar para fugir do feriado de novembro e do Natal.

Eleanor ficou em silêncio por alguns segundos pensando em como responder Ben.

- Está tudo bem. – disse por fim, tentando não deixar as palavras "Park" e "beijo francês" sair nas entrelinhas.

A linha ficou em silêncio por contados 10 segundos.

- Ok, o que aconteceu?

A garota não sabia em que momento ela e Ben haviam ficado tão próximos. Se foi quando ele ligou para ela um dia para perguntar se podia ficar com o quarto dela e começaram a conversar semanalmente ou se quando ele havia conseguido perceber todas as vezes em que ela mentia. Ou quase todas.

- Nada. – ela crispou se ajeitando mais entre os cobertores felpudos azuis como uma barreira do mundo. O sol das 9h estava entrando pela janela ao lado de sua cama, mas Eleanor sinceramente não se importava de chegar atrasada em sua aula de Política da Arte...ou de ir.

Mesmo sem ver, ela podia visualizar perfeitamente seu irmão do outro lado da linha coçando os poucos fios que ele chamava de barba e estreitando os olhos para seu pôster de Máquina Mortífera na parede.

- Vamos fazer assim, eu pergunto e você me diz se tá quente ou frio. Você tá com problemas femininos?

Eleanor não conseguiu evitar o revirar de olhos mas ainda assim, com um pequeno sorriso respondeu:

- Muito frio. Tipo, Alaska. Gente, achei que morar com duas mulheres te ensinaria alguma coisa.

- Você sabe que sou um cavalheiro. – ele disse com a voz mudando radicalmente de gravidade com apenas 6 palavras. – Dinheiro?

- Frio, novamente. O trabalho vai bem por sinal.

Falar do trabalho fez a garota inconscientemente subir o rosto do seu rolo de cobertas e olhar o relógio pendurado na parede, mesmo que seu turno às terças na loja de discos só começasse às 15:00.

Eleanor e Park - Quando ele se foiOnde histórias criam vida. Descubra agora