Park segurou o livro de Psicologia das cores mais forte em baixo do braço. A capa dura amarela e azul começando a doer contra seu antebraço e costelas.
Havia conseguido terminar um livro de 450 páginas em dois dias e conseguido reler todo o HQ de Monstro do pântano em algumas horas. Havia lido também as embalagens de shampoo e escutado XTC tão alto que era uma surpresa ainda conseguir ouvir o barulho do corredor enquanto ia para a sua aula de Psicologia social.
Tinha um total de 4 aulas naquele dia, a última ele havia se inscrito de última hora, mais para se distrair e ocupar do que para obter pontos extras.
O final de semana todo mais aquela segunda de manhã, tinham se tornado a tarefa de fogo para que ele não pensasse em nada do que tinha visto na sexta a noite. Ou quem tinha visto.
Eleanor tinha se tornado um borrão e se tornado a segunda coisa que ele se esforçava para pensar enquanto ocupava a mente com qualquer coisa que poderia distraí-lo. Conversar com Elena não era uma delas. Tinha ignorado a namorada quase o fim de semana todo. Ainda não estava pronto para contar a ela o porque de ter ido embora da festa sem avisar a ela e de maneira tão abrupta. Normalmente, quando eles brigaram ao longo do ano que estavam juntos, ela aparecia no acampamento militar que seu pai havia inscrito ele. Dessa vez, porém, não.
Acampamento militar talvez fosse eufemismo. Estava mais para um alojamento com mais uma dúzia de garotos na puberdade, aprendendo habilidades básicas de sobrevivência e canalizando a raiva para atividades esportivas e marciais. Park já era faixa preta em taekwondo, o que facilitava essa área. Foi lá que conheceu Elena, na equipe de enfermaria do acampamento. Ambos obrigados pelo pai a estarem lá, se bem que, Park não estava pronto para começar a faculdade e suas notas caíram tanto que ele não poderia também, e a perspectiva de continuar em Omaha o assustava. Não importa o que eu pai oferecesse, ele agarraria com unhas e dentes. E se isso o desse pontos extras para ingressar na faculdade, melhor ainda.
- Olha, eu não quero ser o primeiro a te falar isso, mas com certeza isso não é um esquilo, cara.- Derick estava com o desenho de borrão de tinta de cabeça para baixo quando Park entrou pela porta do fim da sala.
O professor não pareceu se importar tanto assim com o atraso.
- Você não consegue ver o rabo dele? – o professor Patrick empurrava os óculos caindo pelo nariz para sua posição habitual.
- Olha professor, eu vejo muitas coisas aqui...mas um rabo não - ele disse fazendo a sala irromper em risadas.
Sr. Patrick tirou o papel com borrão de tinta de sua mão, com um sorriso no canto dos lábios.
Park olhou para o desenho a distância. Parecia tudo para ele, menos um esquilo.
- Nem sempre se trata sobre o que está no papel, mas no que isso nos faz sentir. – Ele alisou a gravata andando pela sala de aula.
- O que isso te faz sentir? – ele ergueu o mesmo desenho diante da sala, sem estar focando em ninguém em especial.
- Confusão? – a menina na frente de Park disse.
- Não, não, - Derick falou gesticulando com sua caneta como se estivesse em uma linha filosófica muito interessante – eu vejo a metáfora de um tomate esmagado na folha de papel.
Ao longo da aula mais pessoas foram dando idéias e se orgulhando quando dizia algo engraçado o suficiente para fazer a sala toda rir. O garoto fechou os olhos por um segundo, e um rastro de fios vermelhos apareceu em sua mente. Ele os abriu de novo.
- Há um trabalho que vocês tem que fazer em todo semestre, o do semestre passado, foi sobre o luto, o desse será sobre o perfil psicológico de alguém passando por um momento traumático. Explicarei melhor na próxima aula.
Park olhou para as costas da menina sentada a sua frente, vezes o suficiente para decorar a letra de Stairway to Heaven nas costas da blusa preta dela.
Estava tão focado em não estar focado que não ouviu de primeira a voz do Sr. Patrick o chamando quando a aula acabou.
- Sr. Sheridan?
Park foi em direção a ele, indo contra as pessoas que estavam indo para a porta. Segurando as duas alças da mochila, sua mente pensava em tudo que poderia ser o assunto daquela conversa.
- Estou ciente de seu atraso na minha aula. – então ele se importava, Park descobriu tarde demais.
- Você entrou no segundo semestre do ano, e já faltou uma aula e se atrasou para duas, alguma coisa em sua defesa?
Com certeza não. Se Park falasse o motivo do primeiro atraso não poderia talvez nem se formar.
- Não... – respondeu em tom questionador.
Não era exatamente o aluno modelo desde que entrara na faculdade. Na verdade, não era um aluno modelo já fazia algum tempo.
- Olha, temos um grupo de estudo de conhecimentos gerais que dá alguns pontos extras e tem algumas aulas atreladas a seu curso, que não são obrigatórias, mas que podem te ajudar de alguma forma.
- Eu tenho um emprego em uma loja de discos – Park disse, justificando a primeira aula que ele tinha faltado. Não tinha um chefe tão rigoroso a ponto de perder aula para trabalhar, mas o fato de seu companheiro de trabalho e amigo Mason, estar doente e ele receber o dobro se fosse no lugar dele, tinha sido um bom motivo.
- Faz sentido...- Sr. Patrick disse, observando o cabelo preto com mechas claras já desbotando nas pontas. O resto do delineador que Park agora usava raramente, ainda sob seus olhos. O fato de não ter dormido direito apenas complicava mais a situação.
Ele usava uma blusa dos Sex Pistolls preta. Embora tivesse aberto a paleta de cores do seu guarda roupa para verde e branco, ainda assim, era fiel ao preto.
O professor pegou um papel da mesa, ainda olhando para Park, como se estivesse preocupado que ele fosse fugir a qualquer momento, e o entregou uma lista com algumas matérias e o número de vagas em cada uma. Abaixo de cada uma tinha algumas observações e oportunidades de ganhar mais pontos em cada aula. Ele reconheceu a lista como a grade do curso. Fazer mais matérias do próprio curso recompensava. Mas fazer mais matérias de outros cursos e ainda participar ativamente nelas era muito mais lucrativo, em termos de pontos.
Park escolheu as que rendiam mais, ficando feliz pela primeira vez naquele dia, ao perceber que a primeira delas que teria seria ainda naquela segunda.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Eleanor e Park - Quando ele se foi
Fiksi PenggemarDesde que Eleanor foi embora, nada nunca mais foi como antes. Ambos seguem suas vidas de maneiras diferentes e contraditórias, sem saber se um dia iriam se reencontrar, e sem saber se seria melhor assim. Park parou de mandar cartas. E pelo que ele s...