Park

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Não estava surpreso.

Quando viu o Sr. Low tirar o papel contendo seu nome junto com o de Eleanor, já era algo que esperava. Desde que se conheceram até o momento em que se despediram, Park sentia como se ele e ela fossem planetas orbitando ao redor de si.

Então quando entrou pela porta da sala da aula que seu professor havia o incentivado a fazer, era quase como se ele...já a esperasse. Como observar um possível acidente e depois ver ele realmente acontecer. Até porque, pela festa a fantasia, ela deveria estudar lá. E o campus não era tão grande, para o azar dele.

Dessa vez pelo menos, ele estava esperando pelo acidente.

O que não impediu com que isso o desagradasse.

Ele estava há exatos 12 minutos observando as costas de Eleanor, enquanto ela conversava com o professor de desenho.

Ele poderia trancar a aula, mas o período só seria daqui a alguns meses, quando acabasse o ano letivo.

Ele também poderia ir embora, nesse minuto, e evitá-la. Porém fazer isso significaria tirar 0 naquela matéria, levando em conta o quanto demorou para que ele conseguisse se recuperar academicamente. Levando em conta também que não gostaria de voltar para casa nas férias com uma média baixa.

Eleanor finalmente se virou. Sua expressão ligeiramente surpresa como se não esperasse ver ele ainda ali. Park olhou para sua blusa, e sua calça jeans cintura alta. Dois cachos longos e ruivos soltos do que quer que seja a forma que ela tentou prender o cabelo no alto da cabeça.

 Ela deu um passo. O garoto apertou as alças da mochila contra o abdômen.

Havia algo de novo e completamente novo em observa-la, caminhar até ele, com as luzes das janelas de vidro amplas iluminando seu caminho.

Outro passo.

Ela carregava a mesma expressão de quem está prestes a dar noticias tristes. Se estivesse no lugar dela, deveria estar também.

Pra falar a verdade, ele provavelmente deveria estar com essa mesma expressão.

Era estranho, mas vê-la tão perto de si, muito mais perto do que na sexta, transformou todos os sentimentos antes confusos, em nervosismo. Não havia nada além disso, e tudo que ele podia ver era ela. Ele não pensava em todas as vezes que passou de bicicleta na porta da casa dela.

Em todas as vezes que ligou o som e a trouxe de volta em um dejavu.

Ele pensou na forma que a voz dela sussurrou em seu ouvido, pelo telefone, que vivia por ele.

Argh, ele já estava cansado dessas lembranças.

Um ultimo passo, e o estomago dele pareia ser o abrigo de todas as reservas de plutônio.

- Eleanor.

- Park.

Ele observou as maçãs do rosto dela pálidas ficarem mais coradas. Ela ainda carrega a mesma expressão de contadora de tragédias. Isso era tão constrangedor.

Não queria estar ali. Definitivamente não queria. Mas se Eleanor estava constrangida e desconfortável, isso tornava tudo um pouco mais aceitável para ele.

- Então, você gosta de Sex Pistolls?

Park não conseguiu não perceber a ironia da situação. Não deixando passar também como a voz dela, mesmo nervosa, continuava firme.

- Você ainda odeia Sex Pistolls? - ele perguntou de volta por não pensar em nada que poderia dizer.

Pelo menos não dizer em uma sala da faculdade com seu professor atrás de sua mesa reunindo papéis.

- Eu ainda não consigo entender porque eles gritam tanto. - ela sacudiu os ombros como se estivesse contando a coisa mais óbvia do mundo.

Ela parecia tão mais...segura. Mais a versão dela que deveria ser a versão padrão, antes que a ironia e o sarcasmo e a insegurança a corrompesse.

- Pra falar a verdade, eu também não.

E ela sorriu.

Park não se deixou afetar. Tentou pelo menos.

Eleanor deu mais um passo para frente, piscando rapidamente os olhos de uma forma que ele apenas conseguiu constatar como se ela estivesse tentando achar algo que poderia dizer.

Bem, ele não falaria mais nada. O nervosismo apenas nublava o desconforto que havia em olhar para ela tão perto de si. O cheiro de flores era tão forte que ele se sentiu tentado a prender a respiração.

- Então...sobre esse trabalho. - ela começou parecendo ainda mais vermelha.

O garoto sabia exatamente o que ela diria. Afinal, ela deveria se sentir exatamente da forma que ele também deveria estar.

Park não queria ficar tão perto dela.

Tanto tempo.  Ele não sabia o que qualquer aproximação poderia desencadear nele, e sinceramente, ele não gostava disso.

Ao invés disso, Eleanor o surpreendeu colocando um dos cachos atrás da orelha, e dizendo firmemente:

- Quando começamos?


Eleanor e Park - Quando ele se foiOnde histórias criam vida. Descubra agora