Registro 2

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N/A ouçam ouvindo "i hate u, i love u", de gnash e Olivia O'brien, que está na mídia e na playlist do spotify "O Registro", de tutiyusan.

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Estava nervosa. Já tinha saído de casa e estava indo rumo à Seleção. O lugar era cerca de 17 minutos de casa, um estádio local. Estava levando apenas minhas roupas do corpo, uma blusa qualquer, meus jeans, meu coturno e minha mochila habitual: um caderno, uma caneta, fita adesiva (nunca se sabe quando vai precisar), um moletom, uma boa quantidade de chiclete de menta e um pacote de salgadinho. Ah, tinha esquecido de levar felicidade e esperança! Deixei em segundo plano, não era tão importante assim para este momento. Se é que existiam, não tem como se alegrar com o fim do mundo e não tenho esperança de passar, tenho o dever, é minha função registrar tudo que se passa lá em cima.

Quando cheguei, fiquei meio confusa em onde devia ficar, mas logo me estabeleci em meio a outras pessoas em uma fila enorme. Desde crianças que batiam na minha cintura, até jovens muitos mais altos que eu aguardavam pelo evento. Se é que podíamos chamar esse teste injusto e totalmente parcial de "evento".

Eu, continuava a observar os meus adversários. Poucos tinham levado mais do que si mesmos, apesar de saber que muitos não tinham muito mais do que isso. Ás vezes, andando pelas ruas desmoronadas, esquecia que vivemos em meio ao caos. Especialmente sendo de uma família mais abastada. Não que eu tenha orgulho disso.

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- Sai da frente, princesinha! - Um garoto com mais ou menos a minha idade, mas quase o dobro do meu tamanho tentava me empurrar pra passar na frente.

- Do que você me chamou, inconveniente? - Gritei ainda mais alto e viro-me para o infeliz que me xingou. Meu sangue fervia e meu cérebro trabalhava em encontrar a mais vasta lista de xingamentos em meu vocabulário.

- Ah, me desculpe, Vossa Majestade. Poderia me dar licença? Essa fila é para o céu e, sabe... a burguesia nunca chegou nem perto de lá. - Eu paraliso com suas últimas palavras. Abri a boca algumas vezes, mas ainda processava as palavras ditas. Ele finalmente conseguiu passar na minha frente, com sua ironia sagaz.

Nunca me chame de rica. Nem se você tiver 30cm a mais do que eu. Eu revidarei. Odeio essa palavra. Rica, burguesa, filhinha do papai, riquinha... Onde é como cresci não define quem eu sou e do que eu sou capaz. Odeio quando tiram conclusões precipitadas sobre mim, baseado na minha família. Nenhum ser entende que riqueza nem sempre sobre é dinheiro. Riqueza também pode ser sobre ternura, amizade, alegria... ou pelo menos podia ser, quando o mundo não era obscuro e tempestuoso.

Dei uma rasteira junto com uma cotovelada na barriga do garoto que passou na minha frente. Podia não parecer, mas fui pronta. Podia apanhar, mas eu bateria de volta. Pronta pra sofrer e resistir. Não importa o que falem ou o que façam, eu fui com uma missão, então só saio de lá se estiver morta.

Olhei ferozmente para o garoto atrás de mim. Ele retribuiu o olhar e sorriu. Um sorriso desprezível e desafiador. Parece que encontrei um adversário à altura. Fiz questão de voltar ao meu lugar de direito. Se eu quisesse ficar à frente, chegava mais cedo.

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As filas logo foram divididas. Não aguentava mais dividir o ar com aquele babaca, credo. Conforme a fila andava eu via melhor a movimentação e ele se afastava. Algumas mulheres vestidas com um traje cinza e carregando dois carrinhos entregavam embalagens plásticas e informações da direção para seguir. Percebi que o conteúdo das embalagens era um macacão, feminino ou masculino. Logo identifiquei aquilo como nosso primeiro teste, o de enquadramento. Eu a chamo de "Sapatinho de cristal", cuja vestimos um macacão e se servir seguimos para a próxima fase.

- Aqui está o seu, Brooklyn, boa sorte! - uma amiga dos meus pais, senhora Michels, me entregou a embalagem e sorriu. Pude sentir os olhares sobre mim com o tratamento diferenciado da mulher. Sorri em agradecimento, com medo de responder e piorar a situação.

Segui pelo corredor indicado, passando por dezenas de provadores ocupados, até encontrar um para mim. Despi-me e vesti o macacão sem dificuldade. Acho que passei alguns minutos tentando me acostumar com aquilo. Por mais que a maioria das minhas roupas serem escuras, aquele macacão cinza era particularmente sem vida e um tanto deprimente.

O macacão tinha mangas compridas até as mãos e descia aos pés. Era estranho lá dentro, não era quente, mas também não era frio, não era desconfortável, mas não diria que é a roupa mais confortável que já vesti.

Bom, estranho ou não, tenho que me acostumar. Se eu não falhar - o que não pretendo - vou usá-lo todos os dias. Juntei meus pertences na mochila e joguei-a nos ombros, indo direto para a próxima fase. A cabine reveladora.

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_ beatrice allaway

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