Registro 3

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Vestida "adequadamente", sai da cabine e segui pelo longo corredor. Meninas sorrindo, outras chorando e, claro, algumas fazendo ambos. Aquelas que cumpriram a primeira fase tinham uma animação quase contagiante. Talvez eu me permitiria sorrir assim, se tivesse outra opção a não ser passar. Os hormônios gritavam por elas.

Cheguei ao ponto de não conseguir me mover pela quantidade de garotas no corredor. Elas conversavam como se conhecessem há vidas. A desordem era clara, estavam inquietas. Os seguranças pediam ordem, tentando formar uma fila única para a checagem do uniforme. Ver se as mangas estavam no comprimento certo, se o zíper estava fechado, como estava a barra, tudo isso era avaliado. Boa parte das meninas foram eliminadas ali. O choro aumentava.

- Vire-se por favor. - virei-me como requisitado - Pode levantar os braços, por favor? - novamente feito - Parabéns, você concluiu o estágio um. Siga reto e vire à direita para o estágio dois. Boa sorte!

Mesmo já em direção à fase dois, ainda podia ouvir os gritos e birras das garotas revoltadas lá atrás. Gritavam coisas como "mas o que importa não é a manga, é que o zíper fechou!" ou "eu não saio daqui por causa disso". Elas pensavam que iam reconsiderar o fato de o uniforme não estar "perfeito" e deixá-las seguirem?

As coordenadas dadas pela moça, me levaram para uma cabine branca com uma cortina. Não havia fila na entrada. Aproximei-me examinando-a para descobrir o fazer em seguida. Nem precisei dizer uma palavra, pois ao chegar a cortina se abriu automaticamente.

- Olá, bem vinda à fase dois. Entre para começar. - uma voz vinda do auto falante instruiu.

Com cautela entrei e olhei o local. Era pequeno e um tanto claustrofóbico, todas as paredes eram telas, que reproduziam paisagens naturais famosas, que em breve não passarão de cartões postais

- Por favor, complete a ficha que está sendo exibida à sua frente. - com o propósito de ser preenchida com nome, endereço, idade, número de telefone e e-mail

- Posicione seu corpo como o da imagem para examina-lá. - a silhueta estava de pernas juntas e mãos na cabeça. A cabine emitiu um som pulsante, enquanto me "escaneava". Todas as telas ficaram verdes de repente

- Muito bom! Estenda o braço para coletarmos uma amostra de seu sangue, para a avaliação automática. - estiquei o braço e um compartimento se abriu, liberando uma seringa direcionada à minha veia, tão ágil que não percebi quando entrou e saiu. O tubo foi colocado de volta no compartimento e tomou um tempo para liberarem o resultado

- Está tudo certo. Você pode seguir para a fase três, desça as escadas e terá um funcionário para direciona-lá ao quarto que ficará durante a Seleção. Obrigada por se voluntariar para salvar a humanidade! Boa sorte!

Não sei direito o que acabou de acontecer, mas passei de fase. Mais próxima que nunca do meu futuro quarto até o fim da Seleção. Quando cheguei, havia uma porta branca com meu nome escrito num painel digital ao lado. Deve ser aqui.

Me aproximei da porta, tentando abri-la, puxando, empurrando... a porta não abria mesmo. Desisti. Comecei a caminhar pelo corredor, para ver se havia mais alguém próximo.

O lugar parecia ser bem organizado, limpo e controlado. Reparei em várias outras portas, todas com nomes na frente, mas ninguém por perto.

-Onde está o funcionário que iria me ajudar? Argh! - murmurei ao "explorar" o local.

- Parece que a princesa está perdida. - imediatamente me virei, com o susto, em posição de ataque. Pelos céus! É o mesmo otario de mais cedo - Achei que conhecesse o castelo.

- Você elimina a concorrência matando de susto? - soei um tanto grosseira, mas tive que combater com a mesma carta. Ele sorria de lado, com um olhar desafiador. Que vontade de arrancar esse sorrisinho com minhas próprias unhas!

- Coloque a sua digital. - o que ele quis dizer? - Pra abrir a porta ponha a digital no painel. - ele seguiu pela direção contrária - De nada.

Sozinha de novo, fui para a porta do quarto e fiz o que ele falou. Posicionei o dedão no painel e a porta fez um click, empurrei-a e vi-me adentrando o quarto. Ele era completamente branco. Como se tivessem derramado tinta em tudo. A cadeira era branca, a cama era branca, os manuais eram brancos com um número indicando o volume. Um quarto triste. Mas não por muito tempo, porque toda a parede será preenchida com minhas pesquisas e terão muitos livros científicos e matemáticos, fotos e mapas. Já posso visualiza-lo.

Deixei minha mochila sobre a cama e notei um bilhete. "Esse será o seu quarto na Seleção, pode deixar seus pertences nele e seguir para a cafeteria para a anunciação da próxima fase. Seja bem vinda!". Em baixo dele estava um broche com o símbolo da pesquisa e um mapa do estádio. Coloquei o broche no macacão e deixei o pequeno papel na cama e segui para o lugar indicado no mapa. Tomara que não seja só uma anunciação e tenha um lanche.

O registroOnde histórias criam vida. Descubra agora