Amizade inesperada

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    Lívia Blackthorn estava se esgueirando para fora do Instituto como se fosse uma criminosa, e ninguém sequer se deu conta do seu desaparecimento. Jules e Emma estavam procurando por Anabelle na Cornualha, e Mark, Cristina, Kit, Ty, Dru e Tavvy estavam quase acampando na biblioteca em busca de informações que pudesse ajudar de alguma forma.

   Uma runa de silêncio queimava no antebraço de Livvy, e ela sentiu um nó se formar em sua garganta. Ty sempre estivera presente em todas as vezes que ela saíra do Instituto. Fosse pra ir á praia, catar conchas e vidros marinhos, ou para ir para o Marblys tomar milkshakes de fadas e investigar secretamente os membros do submundo, seu irmão sempre estava ali, unido á ela como uma peça única de um quebra-cabeças. Mas agora era diferente.

  Livvy havia saído para pedir mais algumas caixas de pizza vampiresca, e ouviu o telefone do Instituto tocar. O coração dela tentou sair pela boca. Eram raras as vezes em que os caçadores de sombras contatavam outros através de telefone. Na maioria delas, as mensagens eram passadas através de mensagens de fogo. Os telefones eram o último recurso. A última opção para casos urgentes.

   A garota correu pelo corredor vazio, iluminado pela luz do sol que já estava alto no céu, os passos sendo abafados no chão de madeira pelas meias que ela ainda usava.

   — Alô? — Livvy saudou, usando o tom de voz mais firme e sério que conseguiu. Seus dedos apertavam com força o telefone preto e antigo, prendendo o fone no ouvido. Ela se esforçou ao máximo para que sua voz soasse o mais adulta e calma possível. — Sim, aqui é a responsável pelo Instituto de Los Angeles. — A mentira escapou da boca de Livvy naturalmente. Se Ty estivesse com ela naquele momento, a teria olhado com olhos cinzas reprovadores. Ela não era a responsável, e sim o tio Arthur e Diana, mas eles estavam longe, e a pessoa mais velha dali era Mark, que ainda parecia deslocado com tudo o que estava acontecendo. Seja lá o que tivesse ocasionado o chamado, Livvy teria que dar conta sozinha.

   — O que aconteceu? — Ela perguntou com seu tom profissional, que faria Jules ficar orgulhoso.

   A voz de Raphaella Lovelance soou aflita do outro lado da linha, enquanto ela relatava a presença de um demônio Ravener numa escola mundana.

   — Uhh, isso parece bem ruim! — Ela exclamou para Raphaella, fazendo uma careta. Diana tinha dado inúmeras aulas para ela e Ty sobre demônios, e apesar de ela saber todas as formas de combater um, uma energia estranha circulou pelo ambiente e arrepiou todos os pêlos dos seus braços. — O que eu posso fazer, Raphaella?

   Livvy mordeu o lábio inferior enquanto a outra falava, dando instruções precisas sobre a localização e a urgência da eliminação do demônio. A escola mundana tinha proteção contra a luz do sol, e o demônio devia ter entrado durante a noite, permanecendo escondido até aquele momento. Dentro de apenas uma hora os mundanos começariam a sair das salas de aula, e os riscos de o demônio atacá-los era imenso. Seria uma exposição perigosa e desnecessária. Seria necessário apenas um caçador de sombras para resolver o caso.

   O estômago de Livvy estava cheio de borboletas furiosas e dava cambalhotas quando ela colocou o telefone no gancho, encerrando a ligação com Raphaella, e riscou o endereço num pedaço de papel com sua letra pequena e firme. Se ela saísse para aquela missão, teria que matar o demônio Ravener sozinha (coisa que nunca havia feito antes) e, até que tudo estivesse concluído e Livvy estivesse segura, ela não poderia contar sobre isso pra ninguém. Nem mesmo para Ty. Ele não tentaria impedí-la, mas iria querer acompanhá-la. Ela nunca o colocaria em risco se pudesse evitar.

   A corrida para a sala de armas foi rápida, e Livvy se viu diante de várias opções: bestas, arcos, lâminas serafins, adagas, espadas com lâminas longas e pesadas, e também um sabre de marfim. Ela foi direto no sabre: ele era leve e eficaz e ela sempre o usava em seus treinos. Livvy vestiu o uniforme de combate, sentindo a adrenalina se assentar nas suas veias, misturada com o sangue; a energia crepitando em seu corpo como um papel queimando.  Ela colocou a estela no cinto, junto com uma lâmina serafim e duas adagas. Deveria ser mais do que o suficiente. No espelho, seus olhos cinzas pareciam redondos e assustados, mas aquele ritual era natural para um caçador de sombras. Se preparar para a batalha era a coisa mais corriqueira na vida de um assassino de demônios, e haviam certa beleza nisso. 

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⏰ Última atualização: Jan 22, 2019 ⏰

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