Otávio Lourency
Observo a porta de madeira escura a minha frente.
No vidro fosco o nome Camilo Bennet em letras cheias me causa repulsa... Ira... Raiva.
Odeio ladrões! Ainda mais quando eles mexem no que é meu.
Como pude ser tão cego?
Claus, meu advogado, bate levemente na porta, enquanto aguardo impaciente a mesma ser aberta, em seguida ele a abre e me dá passagem.
Camilo está sentado em sua cadeira de couro preta, por trás de uma mesa de mogno, sobre a superfície de madeira escura há alguns papéis, um porta retratos com uma foto da esposa.
Ele me encara passivo.
Eu olho ao meu redor...
Observo o escritório recém reformado e decorado com móveis de alto luxo.
Alguns quadros caros ornamentam as paredes em tons pastéis.
Uma bela estante no canto da parede, comporta alguns livros de escritores renomados.
Não vejo fotos da sua família. Apenas a sua esposa.É como se o resto de sua família não existisse.
_Senhor Lourency! A que devo a honra de sua visita?_A voz repugnante me chama a atenção.
Encaro os olhos claros do homem que trabalha pra mim a séculos, a quem depositei toda minha confiança por longos anos. E hoje descubro que o maldito fez um desfalque de milhões na minha empresa.
Filho da puta!
Ele levanta da mesa e esbanja um enorme sorriso no rosto.
Bennet me estende a mão em sinal de cumprimento... Eu apenas a olho.
_Não é uma visita cordial, Camilo. _Digo com frieza na voz.
O sorriso do homem morre aos poucos e automaticamente ele leva a mão a gravata, folgando-a no pescoço.
Isso meu amigo..! Respire!
Olho para o meu advogado e o mesmo lhe estende um envelope pardo.
Camilo agora parece nervoso.
Ele hesita, mas pega o envelope.
Vejo o homem ficar branco ao abrir o pacote e tirar de lá alguns documentos.
Seus olhos assustados me encaram receosos, talvez até com medo de falar, e ele tenta balbuciar algo.
_Senhor Lourency... Eu...
Ele tenta dizer algo...
Mas minha paciência tem limite. E nesse instante, eu garanto, ela está por um fio.
_Eu quero o meu dinheiro, Bennet._O corto. __Você tem vinte e quatro horas pra me devolver, cada centavo.
Ele engole em seco.
_Me desculpe, senhor... Eu não tenho como devolver esse...
Sua voz cortante me diz aquilo que eu já estava preparado para ouvir.
Camilo Bennet, me roubou, para dar a sua família, uma vida de luxo.
As minhas custas!
Gastou a porra do meu dinheiro com viagens, compras, carros caros... Tudo isso as minhas custas!
Filho da puta!
Dou passos ameaçadores em sua direção, o homem recua como a porra de uma presa prestes a ser devorada.
Ele dá passos para trás, até cair sentado em sua cadeira oponente.
Eu me inclino sobre a cadeira, apoiando as minhas mãos em cada lado do seu corpo e fico cara a cara com o desgraçado.
_Claus..._ Falo em um tom baixo e gélido e meu advogado lhe estende um papel, um novo negócio._ Eu vou ser claro com você Bennet... Você me roubou. Da maneira mais sórdida possível. Abusou da minha confiança. Agora você pode escolher... A prisão ou isso aqui.
Mostro-lhe o documento.
Ele lê com atenção cada linha.
Me delicio ao ver o nervosismo consumir o homem por dentro.
As mãos trêmulas.
Os olhos desfocados.
_Senhor Lourency, isso é um absurdo!_ Diz exasperado.
_Bom... Você tem outra opção, não precisa aceitar a minha proposta...
_Me dê um tempo, divida em parcelas pra mim... Eu trabalho de graça pra você... Me peça qualquer coisa, Lourency...
_Acho que você não entendeu bem as coisas por aqui, porra!_ Digo em um tom rude._ Eu vou explicar melhor. Você me roubou e não tem como me devolver a porra do meu dinheiro. Eu não vejo outra saída aqui, Bennet. Você vê? Ou eu te entrego a polícia e seus bens serão todos confiscados e sua filha e esposa vão para rua, ou você me dá o que eu quero, Bennet. É simples. E aí eu te deixo em paz.
Ele respira fundo e começa a suar feito um porco.
Ele para pra pensar por alguns instantes e por fim assente.
_Tudo bem..! Eu tenho uma contra proposta, sr. Lourency.
Eu ergo as sobrancelhas e faço sinal para que ele prossiga.
_Minha filha..._ Diz e eu fico confuso.
O que ele está tentando me dizer?
_Eu entrego a minha filha a você, como forma de pagamento. Ela é sua, em troca da dívida.
Caralho!!!
Se antes eu achava que ele era um desprezível, agora vejo que é realmente um verme. É um filho da puta é mesmo! Um canalha sem escrúpulos!
Prefere dar a sua própria filha em sacrifício, do que pagar pelos seus próprios erros.
Sorrio maquiavélico.
_E como vou saber que não é mais uma jogada suja Bennet?
_Faça um contrato. _ Pede._ Eu a faço assinar e ela será sua por direito.
Fecho as minhas mãos em punho.
Nunca vi a filha desse homem, mas se ela assinar um contrato desse porte, é tão suja quanto o próprio pai.
_ Sabe que, se ela se recusar a assinar o contrato, ou a vir comigo, você vai pra cadeia, não é?
Ele assente.
_Vou pedir para o meu advogado redigir o contrato, sobre os meus termos, no final da tarde ele trará o documento pra você. Assine e traga o contrato assinado por ela até amanhã de manhã. E depois quero passar pra você as minhas exigências. Passar bem, Bennet. E... Não tente me passar a perna outra vez, ou pagará muito caro por isso.__ Aviso saindo da sala em seguida._ Senhor Lourency? O senhor Bennet está lhe aguardando lá fora._Mag minha secretária avisa.
_Deixe que espere, Mag. Estou ocupado no momento._ Digo seco.
Ela me lança um olhar esquisito e depois sai sem me contestar.
Giro a minha cadeira no sentido da parede de vidro transparente atrás de mim e olho a cidade em pleno movimento lá fora.
Andei pesquisando a família Bennet.
Camilo Bennet é um advogado de meia tigela, que eu dei uma chance de ouro nas empresas O.L. Telecomunicações. O cara era um zero a esquerda e se tornou renomado por minha causa. E hoje vive como um rei por causa dos milhões de dólares que ele me roubou ao longo desses três anos!
Três malditos anos! Como eu não vi isso?
Constance, sua esposa é uma dondoca, gosta de viver no luxo. De esbanjar jóias caras e roupas de grife. Uma maldita interesseira.
E tem a Juliet, uma garota doce, que logo fará 18 anos. Está terminando o colegial daqui a alguns dias e isso é tudo... Não há fotos dela em lugar nenhum, nenhum comentário nossos tablóides além do que eu consegui encontrar. É como se a garota andasse nas sombras... As escondidas, o que me deixa ainda mais curioso.
Se ela assinar aquele contrato, com certeza tem tão pouco escrúpulos quanto o seu pai.
Giro a minha cadeira na direção da minha mesa e aperto o botão do telefone.
_Mag, peça-o que entre._Digo.
Em segundos a porta se abre e Camilo Bennet passa por ela com o rabo entre as pernas.
É bom vê-lo assim, debaixo dos meus pés e sobre o meu domínio, Como um cachorrinho aos pés do seu dono.
_ Sente-se._Ordeno e ele o faz._ Trouxe o contrato?_Inquiro.
Ele assente.
_Senhor Lourency, por favor, pense um pouco. A minha filha...
_Chega, Bennet!_ O corto. _Está assinado?_ Insisto.
Ele engole em seco.
_Sim.
Bennet abre a pasta executiva e tira o papel timbrado de lá
Pego o contrato das suas mãos. Leio e reconheço logo abaixo a sua assinatura e logo abaixo uma letra feminina.
Ela assinou. Sinto uma mistura de repulsa e satisfação ao constatar que eu estava certo. Que ela é como o pai.
Assino a parte que me é devida e o encaro friamente.
Eu vou destruir o que resta de dignidade nesse homem... E, se a filha dele estiver pensando que sua vida será fácil ao me lado, ela não tem ideia do quão está enganada.
_ Ótimo! _ Digo ajeitando o meu terno e indo ao seu encontro. Encaro o homem e lhe aviso sem nenhuma cordialidade._ Hoje a noite irei a sua casa para um jantar de noivado. Quero que ela esteja preparada.
_Você enlouqueceu? Eu tenho que conversar com a minha filha, explicar a situação pra ela..., prepará-la para isso tudo...
Eu olho o relógio em meu pulso com desdém.
__Você tem doze horas pra fazer isso, Bennet. Hoje a noite. Não se esqueça disso. Agora, se me der licença...
Ele me encara perdido, atônito.
O que ele estava pensando? Que iria dar as cartas?
Eu vou fazer da vida dele um inferno.
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Minha Doce Fera
RomanceGarotas sonham em ganhar um carro no seu aniversário de 18 anos, se apaixonar e se casar um dia. Mas, ao que parece, esses não são os planos do destino para Juliet Bennet. Seu pai tem uma dívida com o empresário Otávio Lourency e ela é a moeda...