11 2 4
                                    

Não faço ideia de como vou encontrar Alice antes deles, ela pode estar em absolutamente qualquer lugar desse frio e tempestuoso mar.

Como encontrar alguém perdido?
Se nem ela sabe onde está, como eu saberei?
Preciso ser realista. Preciso fazer o que eu posso com tudo que eu tenho.

As vezes tem muita coisa em nossas mentes, as vezes o que nos afoga são nossos próprios pensamentos, que geram peso e nos fazem descer, se eu continuar pensando vou me afogar novamente. Como vou encontrá-la? Eu não sei, mas não vou perder minha energia planejando, afinal de contas tudo que posso fazer é nadar.

Nado rápido, a água tenta em rebote me engolir, mas eu sou mais forte. Eu sou mais forte que o cansaço. Eu sou mais forte que o medo. Eu sou mais forte que Eles.

Parece que quando aceito isso nadar se torna uma tarefa bem mais fácil.

E foi como se precisasse acreditar em mim para encontrar o que procuro;

Ali está Alice. Ela está no meio da água, eu estou enfraquecendo, mas sei que tenho força suficiente para nadar até ela. O alívio em saber que a encontrei antes deles só não é maior que a supresa ao ver quem esta á alguns metros da mesma.

Estreito minhas pálpebras, não acredito no que vejo, mas minha visão garante. Valentina está na mesma distância que Alice, porém afastada dela, na esquerda.

O desabamento do meu mundo veio após ouvir as palavras de Valentina, ela sempre consegue me destruir e dessa vez não foi diferente;

-Ei. - Diz ela olhando pra mim com o mais acusador de seus olhares, uma de suas sobrancelhas está levantada e sua face também.- Você só tem força pra salvar uma de nós. Só uma de nós duas vai sair daqui, Alice ou eu. A rejeitada será afogada por Eles e nunca mais poderá ir embora desse lugar. Me desculpa, mas você tem que escolher. Qual de nós vai salvar?

Isso não pode estar acontecendo.
Ela não pode estar fazendo isso comigo.
Eu não sou capaz de passar por isso.
Isso não pode estar acontecendo.

Eu encaro Valentina com total desprezo, eu sinto raiva, incontrolavelmente, não tenho capacidade pra escolher algo assim.

Sinto um nó prender minha garganta. No meio da água eu começo a chorar.

Um misto doloroso de ódio e raiva corre em minhas veias, é horrível sentir. Meus olhos já estão se acostumando com as lágrimas tão dolorosas fazerem questão de afoga-los.

Essa é a minha chance de trazer Valentina de volta, eu sabia que nem tudo estava perdido. Preciso escolhe-la, mas não posso deixar Alice afundar.
Eu nunca fui enforcado, mas se fosse, acho que teria a mesma dor que sufoca minha garganta e espreme minha alma até sair cada gota de lágrima que cabe em mim.

Sim, eu sou confuso, pertubadoramente confuso, e sei que Valentina sempre soube disso, mas quando comecei a nadar em direção à Alice ela percebeu o quanto sua ida me mudou.

O olhar dela não tenta disfarçar sua decepção e seu desprezo, se sente traída.

-Você ainda vai escolher ela? Eu estou te dando a chance de me trazer de volta e você vai escolher ela?

Paro no meio do caminho e encaro Valentina. Suas palavras doem como sempre, mas dessa vez eu não posso permitir que me ceguem.

-Foi você quem me abandonou primeiro, Valentina.

-Em histórias assim todas as testemunhas são cúmplices, incluindo você.

-Você não pode me culpar. Nem sequer pensou em como eu ficaria sozinho.

-Acha que isso é um jogo de vingança?

-A única pessoa jogando com alguém aqui é você. - Começo a chorar novamente, e sem me preparar eu puxo o máximo de fôlego que consigo, gritando o mais aliviador de todos meus gritos logo depois:

-VOCÊ ESTÁ MORTA! - Falo chorando e tremendo.

-Está dizendo isso pra mim? Porque parece que só você não percebeu isso ainda.

Ao dizer, Valentina fecha os olhos e da densa neblina surge um deles, que a puxa lentamente pelos pés á afundando até não poder mais ser vista.

A dor em ver isso foi tão grande que eu sinto meu estômago embrulhar, acho que perdi todas minhas forças pois eu simplesmente não consigo me mexer, continuo boiando apesar de minhas vontade ser simplesmente afundar.

Valentina é só uma distração, um empecilho, ela se sentia assim antes de ir embora, porém só realmente veio a ser após fazer o que fez. Eu preciso seguir em frente. Sem ela.

Eu não vou desistir de Alice. Com forças que eu novamente não sei de onde vem consigo nadar até ela, quando enfim me aproximo, ela chora.

Finalmente eu a encontrei. Abraço Alice forte, fecho meus olhos em seu ombro e como mágica todo frio desaparece instantaneamente, toda água seca, me encontro sentado na cama do quarto de Alice.

Alice E ElesOnde histórias criam vida. Descubra agora