"Eu te amei mais do que pensei ser humanamente possível".
— Pra onde você tá me arrastando, Ash? Assim nós dois vamos cair. — Kile reclamou enquanto eu o puxo forte.
— É porque nos estamos chegando. Só mais um passo e... Tcharan! — digo empolgada assim que entramos na grande feira.
— Eu continuou tendo uma visão preta de tudo. — ele dá risada e eu bato no ombro do mesmo.
— Não estraga o momento, vamos! — sorriu segurando na mão do mesmo e começando a andar.
Decidi o levar para a grande feira que eu costumo frequentar. É um lugar muito espaçoso e quase sempre está cheio, lá eles vendem frutas, verduras, legumas, algumas temperos, quiosques e até frutos do mar, além da área para as crianças cheia de brinquedos inflaveis.
— Aqui é muito barulhento! — Kile disse fazendo uma careta engraçada.
— É uma feira aberta o que você esperava? — perguntei rindo.
— Sei lá, eu nunca vim em um lugar desses antes, sempre é a minha mãe. — ele respondeu.
— Bom tem uma primeira vez pra tudo na vida. — dou de ombros. — E além do mais você tá precisando mesmo desbundar da sua mãe.
— Então eu vou bundar em você. — ele falou me fazendo dar uma gargalhada alta e escandalosa.
— Você é péssimo, Kile. — digo.
Continuamos andando pela feira, mostrei a ele algumas coisas e contei umas experiências frustantes que tive no local. Kile me ajudou a escolher as coisas para comprar e eu prometi quw faria um jantar pra ele com nossas compras. Comemos um espetinho de carne mas estava tão duro que tivemos que cuspir disfarçadamente sem que ninguém visse. No momento continuavamos andando pela feira e vendo o que faltava.
— Olha a única parte que falta para vermos é a área dos brinquedos. — digo para o mesmo. — O que acha dá gente ir no pula-pula?
— Eu acho que ele não vai nos aguentar. — ele disse e ri.
— Vai Kile por favorzinho, eu quero muito dar só uma puladinha.
— Vamos lá então, mas isso não vai acabar bem. — ele respondeu e eu dei um gritinho.
Começo a puxa-ló até o local e muitas crianças começam a nos olhar assim que chegamos, principalmente por conta da deficiência visual de Kile. Pegou o bastão do mesmo o deixando do lado do pula-pula, junto das sacolas de compras que carregamos e o ajudo a subir no mesmo.
— Ei vocês são adultos não podem ir. — uma criança diz e eu mostro a língua pra ela subindo nele do mesmo jeito.
— Isso é loucura Ash, a gente vai cair. — Kile disse se equilibrando de pé no mesmo.
— A gente não vai cair! Me dá a mão. — sorriu e me aproximo ficando de frente para o mesmo enquanto seguro suas duas mãos.
Suas mãos estão quentes e parecem rigidas. Nos encontros anteriores com Kile ele costumava comentar comigo a falta de socialização que tinha quando era criança por conta de ser cego, era deixado de lado e as pessoas não gostavam de se aproximar dele. Sinto um arrepio percorrer minha espinha quando penso nisso.
— É a primeira vez que eu faço isso, Ashlee. — ele diz me tirando dos meus pensamentos. — Eu não quero te envergonhar.
— Você jamais me envergonharia, deixa de bobagem. — digo e sorriu largamente.
Observo um sorriso aparecer no rosto do mesmo e a tensão vai sumindo aos poucos, assim como os musculos de sua mão parecem não contrair mais. Uma onda de emoção me atingi ao notar que o mesmo confia em mim o suficiente, e nesse momento eu sinto que só quero tê-lo cada vez mais perto de mim.
— Eu vou fechar os meus olhos tudo bem? E quando eu contar até três nós começamos a pular. — digo então fecho meus olhos e respiro fundo. — 1...2...3!
Assim começamos a pular de mãos dadas no meio do pula-pula, os dois não enxergando nada além de uma imensidão escura. Conforme pulavamos começavamos a aumentar a velocidade e ir cada vez mais rápido e alto. Em um momento tive que dar uma espiadinha e ver o tamanho do sorriso de Kile fez tudo valer a pena.
— Está tão lindo! — exclamo ainda pulando.
— O que?
— O céu, ele está lindo. — respondo e sorriu. — Claro e limpo, indicando que teremos um longo e belo dia de sol, tem tantos pássaros voando e nuvens claras. Queria que você pudesse ver.
— Enquanto continuar me dizendo eu vou ver. — ele disse com um sorrisinho. Acabo sorrindo sem perceber.
Continuamos pulando por mais algum tempo, caindo e levantando, mas se divertindo muito. Assim que desço e o ajudo a descer, vejo a quantidade de pessoas do lado de fora que pararam para ver, inclusive a mesma criança chata que tinha implicado para não entrarmos... Eu mostro a língua pra ela novamente.
— E aí como se sentiu? — pergunto para o mesmo.
— Como uma criança novamente. — ele disse sorrindo.
— Temos mais uma coisa para fazer antes de voltarmos para a vida adulta. — digo. — Pintar o rosto.
— Só você pra me convencer a fazer essas coisas. — ele riu.
— Eu sou fantástica ta vendo. — sorriu animada.
Entramos na pequena fila para esperar a nossa vez, assim que chegamos apesar da mulher estranhar ela pintou nosso rosto mesmo assim. Kile cismou que queria um tigre porque é tão forte como um, eu preferi a tradicional e clichê borboleta.
O passeio tinha sido ótimo e tinhamos nos divertido tanto que eu não conseguia descrever, a cada dia me sentia melhor com Kile como se o conhecesse a anos. Agora eu só queria chegar em casa e procurar uma receita fantástica pra fazer para o mesmo quando ele fosse lá.
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saturn
Romance"- Então todos os dias nós olhávamos pro céu e ele me descrevia como estava, assim eu conseguia enxerga-lo de alguma forma. Já fazem dois anos que eu não faço ideia de como o céu está. - Eu posso fazer isso." A vida de Ashlee muda completamente quan...